4 de outubro de 2019
DOIS MAIS DOIS IGUAL A CINCO. Muito curioso de saber até onde os republicanos estão dispostos a ir para defender o inocente até prova em contrário. Como já disseram nada ver na conversa de Trump com o homólogo ucraniano, onde Trump tentou, não se sabe com que sucesso, chantagear Zelensky, ou vão ter que recuar muito, ou vão ter que mentir muito. Mas nem com uma imaginação prodigiosa poderão afirmar que a conversa entre os dois presidentes se presta a duas interpretações. É claríssimo o que lá está, a não ser que dois mais dois sejam cinco. E é preciso lembrar que o episódio da Ucrânia é mais um dos muitos já conhecidos, porventura o mais grave. E que há mais ucrânias. As conversas com os mandantes russo e saudita, que Trump mandou pôr longe de «olhares indiscretos», e agora também com o primeiro-ministro australiano (à hora a que escrevo já se fala dos primeiros-ministros britânico e italiano e, quem diria, do mandarim chinês), são os casos mais recentes. E que fazem os republicanos diante esta avalanche? Sem mais a que se agarrarem, os poucos que abrem a boca fazem-no para discordar dos factos, como se fosse possível discordar dos factos, ou «justificam» pela enésima vez o que não tem justificação. E depois há Rudy Giuliani, sempre a meter os pés pelas mãos, a jurar uma coisa e o seu contrário — e que, presumo que involuntariamente, vai comprometendo ainda mais o Presidente. Pobre Partido Republicano, que a sobreviver a Trump vai precisar de anos para colar os cacos. A coisa chegou a um ponto que, não fosse ele quem é, seria um caso de polícia. Será, no entanto, uma questão de tempo. Mais tarde do que seria desejável, provavelmente depois de mais alguns danos irremediáveis, a justiça há-de chegar.