Marcel Duchamp | Fonte
MEMÓRIAS DE UM ÁTOMO (4). Visitei um museu onde a
Fonte, de Marcel Duchamp, era a atracção principal, e no final dei-me conta de que vi tudo menos o famoso urinol. Consultei o mapa do museu e lá estava assinalado numa determinada área, provavelmente a única que me passou despercebida. Como já perceberam, não foi o urinol que me levou ao museu, no caso ao Museu de Arte de Filadélfia. Sabia de antemão que o objecto causou, desde o início, enorme celeuma, que ainda hoje, um século depois, perdura. Mas a arte dita conceptual, de que Duchamp foi um dos precursores, nunca me entusiasmou, e talvez daí o esquecimento involuntário. A arte conceptual é essencialmente uma ideia, e eu tenho dificuldade em tomar como arte uma ideia. Depois, a arte conceptual está, como alguma arte moderna, na fronteira entre o génio e o
bluff — e eu, na dúvida, inclino-me para o
bluff.