31 de julho de 2008
CAVACO. Que o presidente Cavaco tenha interrompido as férias para dizer ao país que resolveu vetar o Estatuto da Região Autónoma dos Açores, parece-me escusado, mas entende-se. Mas que uma lei tenha sido aprovada na Assembleia da República por unanimidade e contenha oito (repito: oito) inconstitucionalidades, é obra.
CIGANOS. O que se terá passado para a Lusa anular, quase 24 horas depois, uma notícia onde se dizia que Ana Gabriela Freitas, juíza do Tribunal de Felgueiras, proferiu uma sentença onde se dizia que a comunidade cigana tem «pouca higiene», é «traiçoeira» e «subsídio-dependente»? A justificação da agência foi curta e seca: a anulação da notícia deve-se ao facto de «o seu conteúdo não corresponder inteiramente aos factos narrados no acórdão». A ser assim, a juíza merecia, no mínimo, um pedido público de desculpas, até porque a notícia provocou reacções e comentários.
30 de julho de 2008
PENSAMENTO ÚNICO. Tenho o péssimo hábito de me bater por aquilo em que acredito, ignorando timings, circunstâncias e eventuais prejuízos. (O resto está aqui.)
29 de julho de 2008
CHEGA. Lidos alguns extractos do livro de Gonçalo Amaral e as reacções que suscitaram, mantenho o que disse há algum tempo: a polícia portuguesa é especialista a resolver casos nos media. Já no terreno, onde as coisas realmente contam, os resultados são bem mais modestos. Que me desculpe o inspector Amaral, mas a sua verdade sobre o caso Maddie agora dada à estampa vale tanto como as outras verdades que por aí circulam. É que, como as outras, a verdade de Amaral não vai além do palpite, da fezada. E disso já há que chegue.
28 de julho de 2008
PAZ PODRE. É por demais evidente que o prolongado silêncio de Manuela Ferreira Leite está a causar embaraços ao PSD, nomeadamente ao PSD que votou nela. Bem pode a líder social-democrata dizer que só fala quando achar que deve falar, e que não é hábito seu pronunciar-se sobre matérias que não conhece em profundidade. A «estratégia do silêncio», se é que há uma «estratégia do silêncio», não convence nem os mais próximos. Quanto aos mais distantes, sabe-se, desde a primeira hora, que andam por aí. Não surpreende, portanto, que Menezes publique um texto em que o título (Depois de mim virá...) diz quase tudo, e que Passos Coelho venha dizer que pretende dar um contributo «que ajude à correcção da estratégia do partido», prometendo, para isso, criar uma «plataforma de reflexão e debate» contra a «cultura do silêncio». Aliás, a aparente unidade em volta da actual líder é isso mesmo: aparente. Como se verá muito em breve, a unidade mais não é que uma paz podre.
25 de julho de 2008
DIGITALIZAÇÃO. Como lembrou o Francisco, parece ter pegado a moda de digitalizar o espólio dos escritores portugueses, ou de alguns escritores portugueses. Depois de Fernando Pessoa, anuncia-se, agora, Jorge de Sena, e certamente que outros virão. Ora, o que eu gostaria realmente de ver digitalizado — e, já agora, disponível online — era a obra integral destes e doutros clássicos portugueses, isto é, gostaria de ter acesso ao texto integral de modo a poder lê-lo ou descarregá-lo para um computador. A imagem, por mais interessante que seja, interessa, apenas, aos estudiosos, enquanto o texto interessa aos leitores. Se a intenção é chegar aos leitores, a mais leitores, deviam repensar o assunto.
23 de julho de 2008
TURNER. Difícil falar da retrospectiva de J. M. W. Turner, no Metropolitan, que acabo de ver. O que poderá dizer-se de um artista que pintou coisas como a que aqui se reproduz que não seja um lugar-comum? Direi, apenas, que a mostra inclui cerca de 140 trabalhos, grande parte dos quais com «residência» permanente na Tate Britain. A meia dúzia de quarteirões (The Frick Collection) poderão, já agora, ver-se mais algumas obras do «pintor da luz».
LER FAZ BEM À SAÚDE (8). Não!, por Vasco Graça Moura. Oiçam o que eu não tenho para dizer, por Ferreira Fernandes. Sobre o "fascismo higiénico", por Pacheco Pereira. A Praga, por J. Rentes de Carvalho.
18 de julho de 2008
UMA PENA. Interrompo as minhas férias para registar, apenas, que não vi um único jornalista, nos media ou fora deles, que tenha saído em defesa de Baptista-Bastos no caso que opôs o jornalista a Alberto João Jardim, e que, segundo esta notícia, agora termina. Não que eu esperasse uma reacção corporativa, e devo dizer que sou, por regra, avesso a reacções corporativas. Esperava, sim, outra postura dos jornalistas, porque desde o início me pareceu que o presidente da Madeira exagerava. Pior: o processo de Jardim contra Baptista-Bastos foi claramente uma intimidação, que importava denunciar. Não foi isso que sucedeu, e foi pena.
11 de julho de 2008
LER FAZ BEM À SAÚDE (7). Why facts won’t demolish the conspiracy theories, por Frank Furedi. Matemática, por João Miranda.
10 de julho de 2008
BETANCOURT. Como se viu desde a primeira hora, há quem não se conforme com a libertação de Betancourt e companhia. Depois dos milhões que terão sido entregues pelos americanos (quem havia de ser?) aos rebeldes colombianos em troca dos reféns agora libertados, hoje, no Público, um fulano, identificado como investigador, escreveu que a ex-candidata presidencial poderá ter-se deixado raptar pelas FARC, pela simples razão de que o rapto iria «alavancar as suas ambições políticas». E com base em que factos chegou ele a esta conclusão? Aparentemente, com base noutro motivo simples: Betancourt sabia que o local onde acabou por ser raptada «era bastião das FARC». Temos, assim, que o futuro político da franco-colombiana justificou umas «férias» na selva, onde foi sujeita a toda a espécie de privações e sevícias. A não ser, claro, que tudo isto não passe de um embuste, evidentemente que montado pelo governo colombiano, com apoio americano e israelita. Aliás, não me surpreenderia que nos próximos dias se comece a dizer que Betancourt não passou os seis anos acorrentada e em trabalhos forçados mas numa estância de férias, provavelmente na Suíça, onde um jornal local «descobriu» que o resgate de Betancourt e companhia se deveu aos milhões do governo americano e não, como foi dito, a uma operação militar. Divago, é certo, mas com a certeza de não ter imaginação bastante para ombrear com o que há-de vir.
APITA O COMBOIO. Quem segue com alguma atenção as movimentações da justiça desportiva só pode ter concluído uma coisa: a realidade ultrapassa largamente a imaginação. Mesmo que as expectativas sobre o desfecho do «apito final» sejam escassas (ou nulas), os mais recentes episódios demonstram que o catálogo de trapalhadas (para não lhe chamar outra coisa) é infindável. Pior só constatar-se que a justiça em geral não é melhor que a justiça desportiva, e nalguns casos é francamente pior. Menos trapalhona nos métodos, é certo, mas pior nos resultados. De facto, a justiça tornou-se uma coisa a evitar a todo o custo, e nalguns casos razão para fugir do país. Digo bem: fugir do país. Não falo dos que cometeram crimes, que dessa forma procuram ficar impunes. Falo dos cidadãos inocentes, que a justiça, apesar de toda a retórica, tem por culpados até prova em contrário.
9 de julho de 2008
JUDICIÁRIA. A ser verdade o que diz esta notícia, estamos perante uma situação duplamente lamentável. Porque o caso significa que a Judiciária se movimenta à margem da lei e mete o nariz onde não deve, e porque a informação obtida nessas circunstâncias, previsivelmente mais valiosa que em circunstâncias normais (dentro da lei), não parece traduzir-se em maior eficácia da justiça.
BOAS NOTÍCIAS. Blogger português Nuno Gouveia credenciado para a Convenção Republicana de Minneapolis.
4 de julho de 2008
PC (2). Não surpreende a posição do PC sobre o caso Betancourt, como ontem referi. O curioso é que até Fidel Castro condena o sequestro de civis, argumentando que «nenhum propósito revolucionário poderia justificá-lo». Não fosse o assunto dos reféns ser demasiado sério para que com ele se brinque, seria risível a posição dos comunistas portugueses.
LER FAZ BEM À SAÚDE (5). Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola, por Maria Filomena Mónica.
3 de julho de 2008
BLOGUES LOCAIS. Ou muito me engano, ou o caso do blogue suspenso por ordem judicial é uma amostra do que há-de vir não tarda muito, pois é previsível que os blogues locais comecem a surgir um pouco por todo o lado, e a incomodar quem não está habituado a ser incomodado. Refiro-me aos poderes locais, que a generalidade dos media regionais não trata como deve por razões que todos conhecemos, e a que os media nacionais dão escassa importância. Não duvido que, mais tarde ou mais cedo, os blogues locais irão «acordar» os media regionais, obrigando-os a cumprir o que deles se espera — ou, pelo menos, a desempenhar melhor as suas funções. Claro que a proliferação dos blogues locais não será, por si só, motivo de júbilo, mas não duvido que trarão mais benefícios que inconvenientes. Como, aliás, sucede com a maioria dos blogues generalistas, que nem o facto de a sua grande maioria ter escasso interesse retira importância aos que o têm. Nem interesse, nem importância, nem poder, como se tem visto e se verá cada vez mais.
PC (1). O PC não gostou da libertação de Betancourt e companhia. Percebe-se porquê, e está no seu direito. Escusava era de maltratar a língua portuguesa, que não tem culpa nenhuma.
2 de julho de 2008
1 de julho de 2008
OLIVEIRA vs MADAÍL. Extraordinária a forma como o treinador António Oliveira se referiu ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol para defender a sua imediata saída do cargo, se necessário for a mal. Extraordinária porque António Oliveira fez um trabalho medíocre quando foi seleccionador nacional, e com o agravante de protagonizar algumas cenas pouco dignificantes. Devo dizer que nada me move por Gilberto Madaíl, e também me agrada a sua rápida substituição. Mas, que diabo, Madaíl tem mais currículo à frente da Federação que Oliveira à frente da selecção. Se bem me lembro, foi com Madaíl que Portugal chegou à final do Euro2004 e às meias-finais do Mundial de 2006. E o sr. Oliveira, o que tem ele para mostrar? Tirando os adjectivos com que brindou o actual presidente da Federação («incapaz» e «incompetente»), que assentariam bem a si próprio, não fez nada que se visse no plano desportivo, e no plano não desportivo é melhor nem falar. É público que António Oliveira tem um problema com o presidente da Federação (Madaíl despediu-o no final do Mundial de 2002), mas até por isso devia ser mais contido. O ressentimento, é sabido, nunca foi bom conselheiro.
BASTONADAS. É possível que as polícias compitam «para ver quem sai em primeiro lugar nos telejornais», como diz o bastonário dos Advogados. Mas já não me parece que Marinho Pinto tenha, sobre esta matéria, autoridade moral para criticar as polícias. Se é verdade que algumas declarações do bastonário são oportunas, também é verdade que outras deixam muito a desejar, além da impressão que o bastonário não desdenha sair «em primeiro lugar nos telejornais». Disparar em todas as direcções a propósito de tudo e de nada, às vezes de forma leviana e pouco informada, poderá ser útil à sua agenda, mas não me parece que adiante alguma coisa às causas que diz defender. Numa coisa têm os seus adversários razão: não basta ao bastonário falar mal. Compete-lhe, também, apresentar soluções.
TRAPALHADAS. Que os clubes portugueses ou a Federação se metam em trapalhadas, ninguém se espanta. Mas o que terá levado a UEFA a meter os pés pelas mãos e a desdizer o que disse sobre o FC Porto? Terá havido algo de novo que a fez mudar de opinião? Como não disse que havia, presume-se que a segunda decisão (readmitir o Porto na próxima «Champions») foi tomada com os mesmos factos com que foi tomada a primeira (expulsar o Porto da próxima «Champions»), e isto não se compreende. Mais: custa a crer que tudo isto venha da UEFA, um organismo que nos habituou ao rigor e não costuma envolver-se em trapalhadas destas. Compreende-se que a discussão que por aí vai assente mais no «coração» que nos factos, e que alguns clubes aproveitem a ocasião para tentarem abotoar-se com o que, aparentemente, não lhes pertence. Mas, por favor, não me venham com a história de que as «vitórias na secretaria» não são legítimas. É que, a ser assim, grande parte das decisões dos tribunais seriam ilegítimas.
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