ACORDO ORTOGRÁFICO. Só mais uma coisa acerca do acordo ortográfico: se as vantagens são tão evidentes, por que nunca se conseguiram demonstrar? Sim, disseram que o acordo iria projectar a Língua Portuguesa não sei onde nem como e outras tiradas sonantes, mas eu falo de evidências concretas. Por exemplo, como é que os falantes do espanhol, com 15 variantes*, e os falantes do inglês, com 20*, conseguem entender-se? Como é que estas línguas têm a pujança que têm sem necessitarem de acordos ortográficos? Eis um mistério que nem os mais entusiastas do acordo são capazes de explicar.
* Dados apresentados pelo linguista e filólogo António Emiliano
28 de maio de 2009
26 de maio de 2009
JORNALISMO (2). João Miguel Tavares escreveu que Manuela Moura Guedes pratica o «sensacionalismo» e a «ocasional falta de rigor», e que o Jornal Nacional por ela apresentado é «desequilibrado e injusto». Mais: segundo ele, Manuela despeja «demagogia por cima de todos os textos que lançam as peças» sempre com um ar de que «isto é tudo uma corja». Mas tem virtudes, segundo ele, que superam os defeitos. Por exemplo, «há ali [no JN] um desejo de incomodar» e «de denunciar». E, pormenor curioso, uma coisa «de uma enorme importância num país como Portugal»: o prazer de sabermos «de que forma é que eles [JN] vão estragar o fim-de-semana ao primeiro-ministro». Ora, escusado será dizer que o objectivo do jornalismo não é incomodar ou denunciar, muito menos estragar o fim-de-semana de quem quer que seja. Incomodar ou denunciar é, quando muito, uma consequência, nunca o objectivo (informar), e quanto ao desejo de estragar o fim-de-semana ao primeiro-ministro a psicologia explica isso muito bem explicado. Concordo, porém, quando o jornalista do DN diz que há demasiados «jornalistas que calam, que não arriscam, que se retraem com medo das consequências». Mas eu aqui incluiria, também, os que têm medo de criticar o «jornalismo» de Manuela, vá lá saber-se porquê. Imagino que já me acusam de me render ao «socratismo», ao PS, ao que for. Direi, porém, que nada disso me perturba, mas não é verdade. O princípio que me move aplica-se a todos, e não contempla excepções. Sobretudo quando se tratam de excepções que nos dão jeito, que logo procuramos minimizar ou fazer de conta que não vimos. (Ver, também, post de Rui Bebiano.)
25 de maio de 2009
JORNALISMO (1). Também eu quase sempre discordo do que diz o bastonário dos Advogados e, sobretudo, dos métodos por ele utilizados, mas nada disso me impede de lhe dar razão se achar que a tem. Também não vi o que levou Marinho Pinto a exaltar-se da forma que o vídeo documenta, e também me parece que o seu comportamento durante a entrevista à TVI não dignificou a classe que representa. Mas também vi uma coisa que, para mim, foi importante: Marinho Pinto denunciou frontalmente o «jornalismo» praticado por Manuela Moura Guedes, que só não merece condenação geral porque a fórmula por ela seguida serve os interesses de uns quantos, curiosamente alguns deles sempre na primeira linha da crítica aos media mas que no caso presente não abrem o bico. É, de facto, uma pena que não se discutam os argumentos com que Marinho Pinto vergastou o «jornalismo» de Manuela, e que o incidente se resuma a uma condenação praticamente unânime do bastonário. É que o «jornalismo» de Manuela valia, no mínimo, uma discussão, e já me começa a incomodar tanto rabinho entre as pernas.
22 de maio de 2009
TORTURA. Como seria de esperar, o tribunal absolveu os inspectores da Judiciária que foram acusados de torturar Leonor Cipriano por não conseguir provar quem a agrediu e de que modo. Temos, assim, que a agressão de que Leonor foi vítima terá sido feita pelas escadas para onde se terá atirado, segundo um espectador da PJ com o intuito de se suicidar. Agressão que, sublinhe-se, o ex-inspector Gonçalo Amaral negou ter conhecimento cinco meses após ter ocorrido, depoimento que lhe valeu um ano e seis meses de prisão com pena suspensa por se ter verificado não ser verdadeiro. Foi, aliás, o mesmo Amaral quem dirigiu a investigação do «caso Maddie», de que viria a ser afastado em circunstâncias não inteiramente esclarecidas e que posteriormente publicou um livro onde «provou» o que não conseguiu provar quando estava no activo. Contrariamente a outras, a história de Leonor Cipriano percebe-se lindamente. Percebe-se, sobretudo, o facto de ela ser uma pobre coitada, e não ter meios para se defender das agressões de que foi alvo e que o tribunal agora deu como provadas. Fosse outra a vítima e jamais teria caído das escadas.
21 de maio de 2009
OBAMA. Disse e repeti, mas volto a dizer: ou Obama não estava bem informado acerca da política de segurança e combate ao terrorismo da administração anterior, e devia; ou estava a mentir quando prometeu o Céu e a Terra em matéria de segurança e combate ao terrorismo, o que é mais grave. Como se tem visto, Obama tem feito, sobre tão delicadas matérias, mais recuos que avanços, e a política de um passo em frente e dois atrás só pode gerar um clima de insegurança, e transmitir a ideia de que os EUA estão mais vulneráveis com a actual administração. George W. Bush terminou o segundo mandato arrasado por causa da segurança e do combate ao terrorismo, lembram-se? Pois cada dia que passa se vai demonstrando que o seu assassinato político foi muito exagerado.
COMÍCIOS. Graças a Deus que «passou a era dos comícios», disse Manuela Ferreira Leite, para os quais também disse não ter «jeito». De facto, note-se-lhe bastante a falta de jeito, e não só para os comícios. Se tivesse um pouco mais de jeito, seguramente que não teria dito o que hoje disse. É que os comícios cheiram a povo, a sardinhas e a copos de tinto, pelo que dizer-se livre dos comícios (os que ainda há promete escapar-lhes) é o mesmo que dizer-se aliviada de quem lá vai. Sim, eu sei que já devem estar por aí a surgir as explicações do costume, dizendo que a intenção era outra, que perceberam mal o que ela disse, que interpretar assim as coisas só por má-fé. Mas são tantas as evidências de que Manuela Ferreira Leite não tem vocação para o cargo que desempenha que de pouco lhe valem.
19 de maio de 2009
GAFES. Por regra, as gafes dos governantes são politicamente refrescantes e humanamente saudáveis. Mas considerar o episódio em que o vice-presidente de Obama revela um esconderijo secreto como mais uma gafe, como vi quem considerasse, é querer reduzir a um fait divers o que não é um fait divers. A revelação de Joe Biden foi irresponsabilidade pura, ponto final. Aliás, não foi a primeira vez que as suas gafes demonstraram parcos conhecimentos de matérias que tinha obrigação de conhecer melhor ou a escassa importância que atribui a assuntos realmente importantes.
ADVOGADOS. Provavelmente a revelação do século e a mais importante descoberta depois da pólvora: existem «indícios de que alguns advogados ou alguns escritórios são quase especialistas em ajudar certos clientes a praticar determinado tipo de delitos, sobretudo na área do delito económico», diz o bastonário da Ordem dos Advogados.
POLICIAL. O romance de espionagem, o policial e a ficção científica são, como diz Mário Santos, subgéneros literários?
15 de maio de 2009
PRAGMATISMO. Como então expliquei, votei em Obama essencialmente por acreditar que ele se renderia ao pragmatismo, cada vez mais a minha «ideologia» política. Não me espanta, portanto, que Obama decida não divulgar as fotografias da tropa americana a torturar prisioneiros, que pondere manter presos indefinidamente suspeitos de terrorismo, ou que retome os tribunais militares de excepção criados pelo seu antecessor. Por regra, as coisas são mais complicadas do que parecem, e as boas intenções não chegam para resolver os problemas. É bom, portanto, que se perceba o que o ódio a Bush não deixou enxergar.
14 de maio de 2009
SAL A MAIS. Alertado por Alberto Gonçalves, cujas prosas na Sábado e no DN integram a dose semanal de leituras que nunca dispenso, fui ler o texto que o deputado Jorge Almeida publicou num jornal da minha terra onde defendeu a famosa lei que prevê a redução do sal no pão. (O restante está aqui.)
OBAMA. A avaliar pela ausência de reacções a esta notícia, o presidente Obama continua em estado de graça. Fosse George W. Bush a proibir a divulgação de fotografias de abusos cometidos pela tropa americana sobre prisioneiros, e teríamos caso. Como se vê, a importância das coisas varia consoante o lado de que se está.
13 de maio de 2009
OS DEPUTADOS QUE TEMOS. Homem entre os 40 e os 50 anos; qualificações preferencialmente na área do Direito; estatuto económico e social privilegiado; filiado no partido que representa há largos anos e pelo qual espera ser reeleito; profissional da política cujo principal objectivo é manter-se nela a todo o custo. Eis o retrato-robot do deputado português traçado pela investigadora Conceição Pequito Teixeira num estudo agora publicado que dá conta esta notícia.
12 de maio de 2009
RIDÍCULO. Como já vi escrito, dizer-se que o Magalhães pode causar miopia, e ainda fazer disso notícia, é um exagero — e traz, obviamente, água no bico. Então os écrans dos computadores não fazem, de um modo geral, mal à vista? É só o Magalhães que pode causar miopia, ou são os srs. da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia que não conseguem ver além do nariz? É que, assim, ainda me vão convencer que existe uma «campanha negra» contra o primeiro-ministro, como Sócrates já garantiu. Uma «campanha negra», no caso, devido à ignorância, porque me custa a crer que estejamos diante um diagnóstico meramente político.
8 de maio de 2009
OS LIVROS DA MINHA VIDA. Partilhei, em tempos, breves momentos com uma boa alma que me jurou ter lido O Velho e o Mar uma dezena de vezes. Pelo entusiasmo com que me falou do livro, e de Hemingway de um modo geral, nunca me passou pela cabeça que estivesse a exagerar. Como ainda não tinha lido o livro em questão, fiquei, naturalmente, curioso, pelo que tratei de o ler logo que tive oportunidade. Já não me lembro bem dos detalhes, mas lembro-me que só não o abandonei logo às primeiras páginas porque uma espécie de campainha me lembrava a todo o instante a dezena de vezes que a boa alma o tinha lido, e convenhamos que um livro que alguém leu uma dezena de vezes merece um esforço. Embora se trate de um caso fora do comum, não foi a primeira vez que deparei com um entusiasta invulgar de um livro. O tempo foi-me habituando a ouvir maravilhas de livros que abandonei a meio (ou terminei a custo), e já não me surpreende que vulgarizem títulos (ou autores) que são, para mim, referência. Mas o tempo também me foi ensinando que há livros (e autores) sobre os quais nunca vi duas opiniões. Poucos, é um facto, mas há. Eça de Queirós e Cardoso Pires, para só falar de portugueses, são autores de quem nunca vi dizer mal. Por que será? Como julgo evidente, porque Eça e Cardoso Pires foram de tal modo excepcionais que nem mesmo os menos entusiastas das suas obras se atrevem a dizer mal. Não por razões de politicamente correcto, no caso literariamente correcto, mas porque lhes reconhecem qualidades difíceis de encontrar nos seus pares. Afinal, se não é bom o que eles nos deixaram, é bom o quê? Sim, já ouço para aí dizer que tudo isto é relativo. Desconfio, no entanto, que é o mesmo «relativismo ignorante» de que ainda há pouco falava Miguel Esteves Cardoso, que pretende tornar igual o que não é igual, e bom aquilo que é mau. O mesmo «relativismo ignorante» que mais não é que uma forma de cobardia, pois assim nos furtamos a dizer o que pensamos (se é que pensamos alguma coisa) e julgamos ficar de bem com Deus e com o Diabo, como se ficar de bem com um não implicasse ficar de mal com o outro.
6 de maio de 2009
NOVAS TECNOLOGIAS. Fartíssimo de ouvir falar do Twitter e do Facebook, do Hi5 e do MySpace, decidi despender uns minutos a inscrever-me nestes serviços. Passei, portanto, a estar no Twitter, no Facebook, no Hi5 e no Linkedin. Em poucas palavras, passei, ao que me dizem, a existir. Continuo, porém, tal como comecei: ainda não vislumbrei que mais-valias tudo isto possa trazer a quem, como eu, já tem um site e um blogue. Pode ser que me engane (enganei-me quando aqui escrevi, no primeiro post, que não vislumbrava a diferença entre um blogue e um site pessoal), mas estas redes sociais (julgo que é assim que se designam) são brinquedos que se esgotam uma vez esgotada a curiosidade, e não resistem ao tempo. Os próximos minutos que despenderei com estes serviços serão, portanto, destinados a «desinscrever-me», caso seja possível «desinscrever-me». Que os meus amigos reais e virtuais me desculpem.
BLOGOSFERA REGIONAL. É verdade que os blogues já mudaram os media, sobretudo a imprensa tradicional, mas ainda estão longe de chegar onde seria desejável que chegassem o mais rapidamente possível: à província, onde os media regionais raramente fazem o que deviam. Uma recente reportagem do Público dava conta que as coisas começam, finalmente, a mudar, pois aí se dizia que começam a surgir cada vez mais blogues regionais, e que já há blogues regionais incómodos aos poderes locais. Por aquilo que se tem visto, notam-se pouco. Mas é um começo que se saúda.
5 de maio de 2009
UM FILME DEMASIADO VISTO. Pelo caminho que as coisas estão a levar, um dia destes Dias Loureiro ainda vai jurar que nunca ouviu falar do Banco Português de Negócios. Pior: a Justiça, que já nos habituou a nada esperar dela, especialmente quando se mete com quem pode defender-se, acreditará naquilo que lhe disserem, ou será impotente para demonstrar o que suspeita. Talvez ainda pior: o caso BPN ainda vai terminar com o ex-ministro a pedir uma indemnização ao Estado, e o Estado a dar-lha.
1 de maio de 2009
EUROPEIAS. Ouvi que a campanha para as Europeias vai servir, sobretudo, para discutir assuntos caseiros, e para avaliar o desempenho do Governo e da Oposição. Também ouvi que apenas uma percentagem muito baixa de portugueses tenciona votar nas Europeias, projecção que constituirá um recorde caso se confirme. Ora, a cumprirem-se as previsões, não será a ausência de debate sobre a Europa que provoca o desinteresse pelas Europeias? O mais curioso é que tudo indicia que a maioria dos portugueses não sabe o que é a Europa — como funciona, que poderes tem, qual é a função dos parlamentares. Quando seria de esperar que as Europeias constituíssem um momento para se discutir a Europa, os nossos candidatos a deputados (e parece que não só os nossos) discutem tudo menos a Europa. Mentiria se dissesse que isto foi, para mim, uma surpresa. Aliás, não me surpreenderia que alguns dos nossos candidatos a deputados não soubessem que funções os esperam caso sejam eleitos.
COMO É? Ou as mulheres quenianas não estão a ver bem a dimensão da coisa, ou só poder haver por lá produção em que a paragem de uma semana faz, de facto, diferença.
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