26 de julho de 2010

FÉRIAS (3). Comecei pela McNally (onde nunca tinha ido mas conto voltar em breve), segui para a Strand (provavelmente a melhor livraria de Manhattan), terminei num antiquário de livros de viagens (The Complete Traveller). Da romaria resultou dois livros comprados (Without Stopping: An Autobiography, e Days: A Tangier Diary, ambos de Paul Bowles), e uma lista de títulos a comprar via internet nos sítios do costume (calculo que assim pouparei o custo de dois livros). Fora isso, ópera na estação do metropolitano da Union Square, guitarra de primeira na Penn Station. Não fora o calor no metropolitano, alguma chuva no lombo e a pizza a pingar óleo, diria que foi um dia perfeito.

22 de julho de 2010

FÉRIAS (2).

Immediately when you arrive in the Sahara, for the first or the tenth time, you notice the stillness. An incredible, absolute silence prevails outside the towns; and within, even in busy places like the markets, there is a hushed quality in the air, as is the quiet were a conscious force which, resenting the intrusion of sound, minimizes and disperses sound straightway. Then there is the sky, compared to which all other skies seem faint-hearted efforts. Solid and luminous, it is always the focal point of the landscape. At sunset, the precise, curved shadow of the earth rises into it swiftly from the horizon, cutting it into light section and dark section. When all daylight is gone, and the space is thick with stars, it is still of an intense and burning blue, darkest directly overhead and paling toward the earth, so that the night never really grows dark.

You leave the gate of the fort or the town behind, pass the camels lying outside, go up into the dunes, or out onto the hard, stony plain and stand awhile, alone. Presently, you will either shiver and hurry back inside the walls, or you will go on standing there and let something very peculiar happen to you, something that everyone who lives there has undergone and which the French call le baptême de la solitude. It is a unique sensation, and it has nothing to do with loneliness, for loneliness presupposes memory. Here, in this wholly mineral landscape lightened by stars like flares, even memory disappears; nothing is left but your own breathing and the sound of your hearth beating. A strange, and by no means pleasant, process of reintegration begins inside you, and you have the choice of fighting against it, and insisting on remaining the person you have always been, or letting it take its course. For no one has stayed in the Sahara for a while is quite the same as when he came.

Paul Bowles, Their Heads Are Green and Their Hands Are Blue: Scenes from the Non-Christian World

16 de julho de 2010

FÉRIAS (1). Vou de férias nas próximas duas semanas, e tenciono preguiçar o mais possível. Se tudo correr conforme o previsto, os posts, a haver, serão bastante mais espaçados. Ficam, portanto, avisados os três leitores deste blogue, que espero reencontrar no regresso à «normalidade».

15 de julho de 2010

O INCRÍVEL PAÍS DA MINHA TIA (5). Tirando os próprios e os organismos que os representam (Ordem, sindicatos, por aí fora), ainda não vi quem defendesse um limite de vagas no acesso à medicina. Qualquer cidadão escassamente informado sabe bem que há falta de médicos, ou que estão mal distribuídos, o que vai dar ao mesmo. Custa, portanto, ouvir o bastonário da Ordem dos Médicos dizer que «devíamos estar a reduzir o número de vagas disponíveis», a pretexto de que com a actual política de vagas haverá desemprego dentro de dez anos. Diz mais Pedro Nunes: não há garantias de que os estudantes de medicina vão ser pagos durante o internato — nem, sequer, que terão vagas no internato. A única garantia, diz o bastonário, é que não haverá emprego para todos. Ora, seguindo a «doutrina» do ilustre, quem garante emprego aos advogados, aos economistas, aos engenheiros e aos carpinteiros que pretendem entrar no mercado de trabalho? Sim, porque estes e outros profissionais deviam ter garantias idênticas às que o bastonário reclama para os médicos. Ou não?
Perdidos e achados

14 de julho de 2010

IGREJA UNIVERSAL. A propósito do cidadão que destruiu um templo (ou lá como se chama) da Igreja Universal, alegando que a dita ficou «com o dinheiro de todos os seus bens», talvez não fosse má ideia rever o vídeo na imagem.

12 de julho de 2010

MEIAS VERDADES. Águas passadas recomendam prudência face às notícias do Sol, embora me custe a crer que o jornal tornasse uma coisa no seu contrário. De uma coisa, porém, não duvido: pela gravidade da reacção do seleccionador nacional de futebol à notícia daquele semanário (Queiroz negou ter dito ao Sol que com «a estrutura amadora» da Federação seria difícil ir mais longe no Mundial e considerou «vigarista» e «aldrabão» o autor da peça), faria bem o autor da notícia divulgar a gravação que diz possuir. Infelizmente, o Sol já disse que não irá divulgar o teor da conversa, alegando tratar-se de um assunto que deve ficar entre o jornalista e a fonte. Permanecerá, portanto, a dúvida sobre quem fala verdade e quem mente, e quer-me parecer que o Sol perderá, a prazo, o que terá ganho no presente. Já o seleccionador, é evidente que a dúvida o prejudica de imediato. Ironicamente, quando poderá ter a razão que ainda não teve.

7 de julho de 2010

COISAS SEM IMPORTÂNCIA. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social descobriu, de repente, que o facto de o Governo de Alberto João Jardim deter maioritariamente o Jornal da Madeira (99,98%) põe «em risco objectivo» o pluralismo da imprensa no território. Vai daí, deu-lhe 10 dias (já passaram cinco) para adoptar as providências «necessárias e adequadas à supressão dos efeitos nefastos», recomendando-lhe a «observância de práticas não discriminatórias» na distribuição de publicidade pelos diferentes órgãos de comunicação social, bem como o uso de critérios de «equidade», «proporção» e «transparência». Evidentemente que a denúncia peca por tardia, e com certeza que nada mudará. Veja-se, por exemplo, o barulho causado pela alegada tentativa de compra da TVI por parte da PT e compare-se com o silêncio generalizado à volta do JM. Como é que um caso merece tanto barulho e o outro o silêncio generalizado? Por aqui se vê que o episódio dará em nada, mas nem era preciso.

5 de julho de 2010

NO PASA NADA. Carlos Queiroz disse que Portugal foi inteligente frente à Costa do Marfim, que frente ao Brasil fizemos «uma boa exibição», e no balanço final disse que Portugal fez «um bom trabalho», que o dever foi cumprido, e que «prestigiámos o futebol português». Tudo isto dito com ar grave, presumo que convencido do que estava a dizer. Ora, procurar tapar o sol com a peneira e relativizar o fracasso, ainda vá. Mas estar sinceramente convicto de que correu bem o que visivelmente não correu bem, já é grave.
AO CUIDADO DOS QUEIROZIANOS. Ronaldo tem jogado quase nada na selecção? É um facto. Valia, porém, a pena apurar por que razão isso sucede em vez de se fazer dele o bode expiatório de todas as frustrações. Dou uma ajuda: no tempo em que o devoto da Senhora do Caravaggio comandava a selecção Ronaldo jogava e metia golos, e não será preciso grande esforço de memória para se constatar que Ronaldo «desapareceu» com a entrada de Queiroz. E por que razão terá isso sucedido? Porque anda amuado? Porque está desmotivado? Porque não está em forma? Porque está com azar? Porque se está borrifando para a selecção? Desculpem lá o mau jeito, mas nada disto me convence. Como também não me convence a aparente mediania dos nossos jogadores, como há muito quem diga por aí, assim procurando passar a ideia de que o seleccionador se limitou a fazer o possível face ao que tinha. O problema é que «assim não ganhamos», como disse Ronaldo no jogo frente à Espanha. É tão evidente que mete dó. (Nota: o famoso vídeo de Ronaldo frente à Espanha foi, entretanto, retirado de circulação, aparentemente por violar direitos de autor.)

1 de julho de 2010

DO SENSO COMUM. Humberto Coelho sobre Cristiano Ronaldo: «Quando uma equipa tem um jogador deste valor, tem de jogar o mais possível para ele. Foram os casos do Portugal de Eusébio, do Brasil de Pelé, da Argentina de Maradona e Messi.»
FORA DE JOGO. Não duvido que o Mundial de Futebol convém ao Governo em funções, e se as coisas correrem bem à selecção portuguesa ainda conviria mais. (Continuem a ler aqui.)