29 de novembro de 2004
«Torna-se cada vez mais necessário que a mobilidade dos repórteres seja circunscrita, organizada. Não sendo possível eles auto-regularem as suas movimentações quando em concorrência, quando em directo, sob uma pressão incrível dos acontecimentos e das emissões, cabe às autoridades reguladoras dos movimentos das pessoas no espaço público - os poderes e as polícias - estabelecerem regras e criarem barreiras. Não se trata de limites à liberdade de expressão, trata-se apenas de limites à anarquia.» Eduardo Cintra Torres, no Público de hoje.
26 de novembro de 2004
Independentemente do resultado final (se é que tudo não vai ficar em águas de bacalhau), a maioria dos portugueses não acredita que seja feita justiça no processo Casa Pia. É o que diz uma sondagem do DN, mas não era preciso.
24 de novembro de 2004
O Luís Osório não acredita que houve pressão do Governo no caso Rodrigues dos Santos, a quem acusa de tentativa de «tirar partido» da situação. Acontece que o jornal por ele dirigido publicou, com grande destaque, que o caso Rodrigues dos Santos configurou uma «tentativa de interferir no alinhamento dos telejornais» por parte do Governo, além de acusar o administrador Luís Marques de ser «um mero intermediário de Morais Sarmento». O que o terá feito mudar de opinião?
«(...) ninguém viu ainda ser reclamado o julgamento dos mandantes assassinos [dos actos terroristas contra Israel] por um tribunal internacional. Não é politicamente correcto. O politicamente correcto é passar uma esponja complacente sobre as atrocidades terroristas», diz Vasco Graça Moura no DN de hoje.
23 de novembro de 2004
Como os contornos deixavam adivinhar desde o início, o caso Rodrigues dos Santos é um problema entre ele e a administração da RTP. Não adianta, pois, insistir nas teses da pressão ou da avaliação. Infelizmente para alguns, os factos estão aí e falam por si. Resta aguardar a decisão da Alta Autoridade, pois nunca se sabe.
Eu sei que isto já foi publicado há uns dias, mas só agora o descobri. Não há nada como exemplos do que se fala para se perceber do que se fala.
22 de novembro de 2004
Segundo a Lusa, o líder espiritual da Mesquita de Lisboa lamenta que esteja a ser cultivada uma «imagem péssima do Islão» em todo o mundo, pois coloca todos os muçulmanos sob suspeita permanente. «Ser muçulmano no Ocidente não é fácil. Desde o 11 de Setembro que todos os muçulmanos passaram a ser talibãs e bombistas e dá-se uma imagem péssima do Islão, que é uma religião pela paz», diz David Munir. E acrescenta: «os telefones das mesquitas em Portugal e na Europa estão sob escuta desde esse dia para saberem se existem ligações com a Al Qaeda». Ora, perante este cenário, porventura injusto, apetece-me perguntar: o que tem feito o chamado Islão moderado para mudar essa imagem? Acaso se tem levantado para condenar os actos violentos que têm sido cometidos em nome do Islão? Quem nos garante que não aplaudem por trás o que condenam pela frente? O Islão moderado existe mesmo?
19 de novembro de 2004
«Numa vila alentejana, passou um filme que tinha como protagonista uma actriz de pernas bem bonitas, que, a certa altura, subia umas íngremes escadas. Um espectador mais atrevido resolveu tentar a sorte. À segunda visão, comprou duas plateias na primeira fila. Ocupou uma e, quando chegou a tal cena, estiraçou-se ao comprido e, de cabeça bem baixa, olhou para cima, tentando uma boa espreitadela para os pedaços de pernas escondidos pelas saias da rapariga. Segundo o meu primo - que quando contava um conto acrescentava um ponto - não se deu por vencido. Sempre que o filme passou, lá estava ele, esparramado, à espera da visão deleitosa. Mas "a malandra" tinha artes e ele nunca viu mais do que vira da primeira vez, do alto do balcão.» João Bénard da Costa, no Público de hoje, a propósito do arquitecto e gravador italiano Giovanni Battista Piranesi (reproduções de algumas obras aqui).
18 de novembro de 2004
O juiz conselheiro Torres Paulo votou contra o relatório da Alta Autoridade para a Comunicação Social por considerar que «as alegadas pressões do Governo para afastar Marcelo Rebelo de Sousa da TVI foram negadas» por todas as pessoas ouvidas. O secretário-geral do PSD, após uma «análise exaustiva do relatório» e «verificados todos os depoimentos», não «encontra um só facto que ponha em causa a intervenção de membros do Governo ou até dos próprios responsáveis de operadores privados». Ora, se isto é verdade — e ainda não vi quem desmentisse —, como se pode concluir que houve pressões do Governo? Como se pode acusar alguém com base em suposições e nenhuma prova?
17 de novembro de 2004
16 de novembro de 2004
A gente já sabia que os soldados americanos são uma cambada de assassinos (não deve haver taberna ou peixaria onde isso não tenha sido dito e repetido), mas não há como um dirigente político a lembrá-lo. Aliás, é nestas «pequenas coisas» que se vê que esta gente não presta.
12 de novembro de 2004
O Daniel Oliveira acha que Theo van Gogh não passou de um fanático que foi morto por outro fanático. E que, graças à suposta intolerância do Ocidente face ao Islão, o senhor Le Pen já venceu. Ora, não serão os barnabés os principais culpados pelo aparecimento dos Le Pen?
O Filipe Moura não sabe se Arafat deveria ter assinado os acordos de Camp David, se poderia ter feito alguma coisa para impedir o início da Intifada ou se era milionário. Não sabe e, pelos vistos, nem está interessado em saber. Como se compreenderá, trata-se de miudezas sem nenhuma importância.
Há pessoas que não conseguem disfarçar o gozo que lhes dá ao saber que as tropas da coligação estão a ter dificuldades no Iraque. Está bem, não é preciso mandar-me um e-mail a dizer-me que é mais um comentário irónico que eu não percebi.
11 de novembro de 2004
A CGTP acha que a resistência de Arafat «vai continuar como força inspiradora da luta do povo [palestiniano] pela liberdade, independência e paz». O primeiro-ministro de Cabo Verde acha que a morte de Arafat é uma «grande perda para a humanidade». O Comité Central do PC diz que «Arafat consagrou a vida à luta do seu povo pelos seus direitos nacionais inalienáveis». O secretário-geral da ONU acha que Arafat «vai continuar na memória como aquele que em 1988 conduziu os palestinianos a aceitar o princípio de uma coexistência pacífica entre Israel e um futuro Estado palestiniano». Eu próprio tinha uma declaração solene a fazer sobre Arafat, mas fiquei tão comovido com estas declarações que não consigo dizer mais nada.
Segundo a Lusa, Mota Amaral acha que «as pressões mediáticas» levam o poder político a concentrar-se em questões banais. «A pressão mediática leva o poder político a concentrar-se nas questões destacadas como mais urgentes, embora às vezes sejam apenas banais», disse ele. Ora, a ser verdade o que diz o presidente da AR — e eu não tenho dúvidas de que é verdade —, é evidente que a culpa não é dos média. A culpa é dos políticos, e só deles.
9 de novembro de 2004
Duas entrevistas de Lobo Antunes (uma aqui e outra aqui) salvaram-me o dia. Salvaram-me o dia e fizeram-me lembrar o dia em que eu li, praticamente de uma vez só, Auto dos Danados, tinha eu vinte e tal anos. Foi tal o deslumbramento que não descansei enquanto não li todo o Lobo Antunes, de Memória de Elefante a Fado Alexandrino. Duas frases a reter me ficaram das entrevistas de hoje: «Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é» (Público); «Saber ler é tão difícil como saber escrever» (DN).
Mais do que o suposto declínio do Diário de Notícias (ou «agonia», como lhe chamou o director do Expresso, mete dó a troca de acusações sobre o dito por parte de quem se esperaria alguma continência verbal. Mas o que mete ainda mais dó é ver como um título de referência como o DN se transformou num campo de batalha política, de que certamente não sairá vencedor.
5 de novembro de 2004
Miguel Sousa Tavares continua a fazer o que melhor sabe: mentir sobre George W. Bush. Segundo ele, o presidente americano «pôs a economia num caos» (que os factos facilmente desmentem) e «desfez o sistema de segurança social» (que nunca existiu).
4 de novembro de 2004
Não há dúvida de que Pacheco Pereira está mesmo obcecado com o governo de Santana Lopes e com quem o apoia. Tão obcecado que às vezes chega a parecer que perdeu a lucidez e a sensatez que o caracterizam.
3 de novembro de 2004
Como aqui tinha prometido, votei em George W. Bush. Votei em George W. Bush pela razão que, então, apontei, mas não só por essa razão. Por exemplo, nunca achei que John Kerry fosse alternativa credível a Bush. Pior: nunca lhe vislumbrei firmeza em nada de substancial, e os tempos que correm requerem firmeza. Além de que, quer se goste ou não da ideia, uma vitória de Kerry não deixaria de ser vista como uma condenação da política de combate ao terrorismo seguida pelo presidente Bush e, por arrasto, uma vitória do terrorismo, apesar de ser claro que nada de substancial mudaria sobre esta matéria caso Kerry ganhasse. Mas já tenho dúvidas qual seria o melhor candidato se falarmos de política interna, assunto irrelevante para o resto do mundo mas que, para os americanos, é tão ou mais importante que a questão da segurança. Por todas estas razões, e por outras que seria fastidioso enunciar, não tenho grandes motivos para comemorar a vitória de Bush, como não teria ficado deprimido caso tivesse ganho Kerry. Mas não digo que não apreciei a vitória. Apreciei, mas encaro-a com um misto de alívio e apreensão.
1 de novembro de 2004
O Independente noticiou que a Polícia Judiciária terá sob vigilância um cidadão argelino suspeito de pertencer a uma rede terrorista. Há uns meses atrás, o mesmo Independente noticiava que a PJ e o SIS vigiavam um grupo fundamentalista islâmico que se distingue por rejeitar os valores da sociedade ocidental, nomeadamente a televisão, o cinema e a música, além de defender a separação total dos sexos a partir da adolescência e considerar que o ensino oficial destrói a fé islâmica. E mais notícias houve que deram conta de suspeitas de actividades terroristas em território português, de que também se disse estarem sob vigilância policial. Acontece que uma notícia da Lusa da semana passada, que não vi em mais lado nenhum, dava conta de que um director da Polícia Judiciária dizia, não me lembro onde, que Portugal deve preocupar-se mais com o terrorismo, lamentando uma «certa desatenção» das autoridades portuguesas face a um fenómeno que é «uma luta de todas as democracias». Afirmava ainda o director da Judiciária: «não estamos a acompanhar a realidade, mas a tentar negá-la». E ainda: «mais tarde ou mais cedo, teremos de nos confrontar com a realidade do terrorismo». Quer isto dizer que as polícias portuguesas continuam a movimentar-se como se o terrorismo não existisse? Não me surpreenderia.
Oh João Pedro Henriques, olhe que a apropriação do papelinho pode ter sido uma emergência, uma daquelas emergências que não se podem adiar. Vá lá, não dramatize.
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