29 de junho de 2007
27 de junho de 2007
Dêem-lhe as voltas que quiserem: as gaffes de Fernando Negrão revelam (são mesmo um exemplo flagrante) que a corrida à Câmara de Lisboa do candidato do PSD é, para ele, uma mera etapa para outros voos. (Isto, bem entendido, partindo do princípio que a performance da campanha à Câmara de Lisboa não o arrume de vez.) É que não passa pela cabeça de ninguém que um candidato com reais possibilidades de vencer as eleições (claramente o caso dele) não tenha a mínima ideia acerca do que pretende dirigir, e ainda com o agravante de nem sequer se ter dado ao trabalho de se informar de molde a esconder a ignorância e fingir que lhe interessa o que manifestamente não lhe interessa. Está visto que o PSD escolheu um candidato que nem para vereador serve.
Joe Berardo não pode dizer o que lhe apetece porque tem dinheiro e poder e, por isso, está investido de especiais responsabilidades? Era só o que faltava. Se o cavalheiro é deselegante e está sempre a ultrapassar as marcas, façam o favor de o processar. É para isso que servem os tribunais, não é? Fora isso, deixem-no falar do ele quiser, as vezes que ele quiser. Aliás, eu até agradeço que ele se repita, pois raramente o entendo logo à primeira.
Não é bonito o que aqui se diz, mas que outro país seria capaz de expor as misérias caseiras aos olhos do mundo?
25 de junho de 2007
Sem ofensa para os protagonistas do debate, embora nem todos tenham alinhado no choradinho habitual, pareceu-me um bocado pacóvia a discussão no Prós e Contras à volta do poder que o Porto tem (ou não tem e devia ter) face ao país. Como, aliás, sempre me pareceu pacóvia a alegada rivalidade Norte-Sul, que nem no futebol me parece ter expressão. A cereja em cima do bolo, como agora se diz a propósito de tudo e de nada, foi a intervenção de Carlos Magno, esse paladino do lugar-comum. Reporto-me à primeira parte do debate, que fiquei sem paciência para o resto.
A ERC resolveu criticar a SIC-Notícias por esta ter promovido um debate «apenas» com seis candidatos à Câmara de Lisboa com este extraordinário argumento: «Não é (...) aceitável que, numa eleição, o jornal, a rádio ou a televisão defina os que vale a pena ouvir, ver ou ler e aqueles que não merecem.» Não é aceitável? O que não é aceitável é um raspanete (presumo que é um raspanete) que tem por base esta fundamentação. Além de absurda (e, presumo, sem fundamento legal), é ridículo.
Daniel Oliveira e Clara Ferreira Alves, ambos no Expresso, acusam Israel de retirar o apoio ao governo palestiniano após a vitória do Hamas. Acontece que nem um nem outro mencionaram a razão por que isso sucedeu, certamente não por considerarem irrelevante o facto mas por mera distracção. Valerá a pena relembrar que o Hamas é uma organização que não reconhece a Israel o direito de existir e que, por isso, seria absurdo Israel apoiar quem o quer liquidar? Não, não vale. Quando se tem uma ideia pré-concebida, a realidade não chega para a mudar.
22 de junho de 2007
A propósito desta notícia, em que ponto estará a investigação à licenciatura de José Sócrates anunciada pela Procuradoria-Geral da República?
21 de junho de 2007
Subscrevo inteiramente o que aqui se diz. De facto, pior que as tropelias de Alberto João Jardim, só mesmo o discurso condescendente e desculpabilizante que por aí vai.
20 de junho de 2007
19 de junho de 2007
Tenho evitado pronunciar-me acerca do ensino em Portugal, pela simples razão de que se trata de uma área em que ignoro quase tudo. Há, no entanto, uma coisa que cada vez me faz mais impressão e não julgo necessários especiais conhecimentos para a questionar: por que razão não se limitam os técnicos do Ministério da Educação a copiar um modelo já existente e que funciona em vez de insistirem em descobrir a pólvora?
O Daniel Oliveira relembrou, face à actual situação em Gaza, que o importante é que o episódio não signifique uma vitória de Israel. O resto — e o resto inclui a paz na região, a ajuda internacional aos mais carenciados, o destino do povo palestiniano — não importa.
18 de junho de 2007
Os empresários que financiaram o estudo de Alcochete têm interesses? Provavelmente. Como provavelmente tem interesses quem apoia outra solução — Ota, Rio Frio, Portela+1, o que for. Só que a questão que nos interessa não é saber que interesses particulares estão por detrás de cada solução. A questão que nos interessa é saber qual é a solução que melhor serve os interesses do país, coisa que ainda não se vislumbrou e muitos parecem ter perdido de vista.
Como muito bem notou o Alberto Gonçalves, o verdadeiro problema com o relógio de Bush não foi o relógio de Bush. O verdadeiro problema foi o facto de Bush ter sido recebido da forma que se viu num país que ainda há pouco era um modelo político para muita gente.
Eu sei que é politicamente correcto e muitíssimo popular bater nos políticos, esses filhos da mãe. Mas como ficar indiferente ao conteúdo de um livro como este? Seriam muito diferentes os resultados de uma investigação semelhante em Portugal?
14 de junho de 2007
Tempos houve em que publiquei, na minha página pessoal, um texto que continha um erro factual que quase mudou o sentido da ideia que nele defendi. Como o texto estava — e continua — em linha, eu podia muito bem corrigi-lo — ou, então, apagá-lo. Não o fiz porque acho que não se deve mexer num texto publicado — a não ser para corrigir uma gralha ou coisa assim. Isto tudo para dizer que não simpatizo com a prática muito em voga de corrigir (ou actualizar) os textos em linha. Pela razão exposta, mas, também, porque nunca sei se estou a ler a última versão.
Qualquer pessoa medianamente informada acerca das coisas da política sabe que a estupidez está democraticamente distribuída pela esquerda e pela direita. Folgo, por isso, saber que Saramago descobriu que também a esquerda é estúpida, embora não pelas razões que invoca.
Não é fácil perceber o protesto formal (repito: formal) do Presidente da República junto da RTP por esta não ter transmitido, na íntegra, as cerimónias do Dia de Portugal, e ainda se percebe menos o pedido de desculpas da RTP. Pior: não se vislumbra o interesse em transmitir, agora, as partes omitidas. Ainda pior: conhecidas as peripécias da coisa, desconfio que a transmissão das cerimónias é bem capaz de produzir o efeito contrário ao que se pretende.
O treinador-adjunto da selecção portuguesa de sub-21 acusou, no rescaldo da derrota de Portugal frente à Holanda, um «lobby nórdico» de pretender impedir que Portugal seja campeão europeu. «Não queremos (...) habilidades com as arbitragens», disse Rui Caçador, referindo-se ao juiz que dirigiu a partida com os holandeses e que nos terá prejudicado. Acontece que Rui Caçador acrescentou logo a seguir: «não digo que foi má arbitragem». Ora, se não houve má arbitragem, o que é que o «lobby nórdico» tem a ver com a derrota portuguesa? Não estará o técnico português a atribuir a terceiros culpas que não são de terceiros?
12 de junho de 2007
Vítor Malheiros escreveu, a propósito do almoço dos agentes da Judiciária a que o Times fez referência, que num repasto privado «existem limites impostos pelo bom senso quando não por regulamentos oficiais ou pela lei quanto ao que se pode beber», pois é sabido que «o consumo de álcool embota os sentidos e o espírito e existem actividades nas quais nós preferimos que isso não aconteça». E dá um exemplo para ilustrar o raciocínio: «se o mesmo almoço tivesse sido presenciado em relação a condutores da Carris, não veríamos o director de Recursos Humanos da empresa na televisão a dizer que os motoristas estavam na sua hora de almoço e que nos momentos privados as pessoas podem beber o que lhes apetecer que ninguém tem nada a ver com isso». Depois, vai ao ponto a que pretende chegar: «será que conduzir uma investigação judiciária não exige um espírito tão atento como a condução de um autocarro?» Tudo isto porque o jornalista não gostou que a Judiciária não tenha justificado a acusação do Times, alegando tratar-se de um momento privado durante o qual os polícias são livres de fazerem o que muito entenderem. Ora, seguindo o princípio de Malheiros, outras questões se levantam. Por exemplo, não deviam os jornalistas abster-se de ingerir álcool quando almoçam ou jantam? E os médicos? E os arquitectos? E os padeiros? E os bombeiros? E os barbeiros? E todos os outros profissionais a quem, de uma forma ou doutra, «o consumo de álcool embota os sentidos e o espírito»? Não seria bom que houvesse, também para eles, uma lei que regulasse o que se pode beber? E, já agora, quem nos protege do politicamente correcto?
Nada surpreendentes as declarações de Mário Soares ao Expresso no que a Chávez diz respeito. Afinal, Mário Soares sempre falou bem de quem o tratou bem, e Chávez tê-lo-á tratado bem nas várias vezes que esteve na Venezuela. É o que dá quando se acha que se é o centro do mundo: os assuntos pessoais e os assuntos políticos são a mesmíssima coisa.
11 de junho de 2007
8 de junho de 2007
O Times escreveu que os agentes da Judiciária responsáveis pelo «caso Madeleine» fazem almoços de duas horas. Pior: consomem bebidas alcoólicas durante o repasto, no caso vinho branco e uísque. Mas o ridículo da notícia não se fica por aqui. Segundo o diário, dois inspectores ter-se-ão rido quando se encontravam num restaurante e na TV passavam imagens do caso que investigam. A «informação» terá sido recolhida junto de «um cliente incomodado», que prontamente acedeu colaborar com o tal jornalismo de que fala o ministro.
Apesar das «estranhas cumplicidades», da «violência extrema que encorajam» ou da «presença inquietante dos grupos proto-terroristas que os penetram», os protestos de Rostock por ocasião da cimeira do G8 são «úteis e necessários», bem como «um sinal de resistência perante uma ordem política mundial incubadora de excluídos». É por estas e por outras que a coisa resultou em centenas de polícias feridos, um pormenor certamente irrelevante (e de que quase não se falou).
Tal como sucedeu com Avenida Paulista, de João Pereira Coutinho, o mais recente livro distribuído com a Sábado (Algumas Distracções, de Francisco José Viegas) dificilmente conterá algo que eu já não tenha lido. Mesmo assim, é com imoderado gozo que me preparo para reler os textos do Aviz e d’A Origem das Espécies.
7 de junho de 2007
6 de junho de 2007
5 de junho de 2007
O anteprojecto do Governo que prevê a suspensão dos mandatos dos autarcas formalmente acusados pelo Ministério Público por alegados crimes no desempenho das suas funções é, de facto, uma aberração. Pior: é perigoso, porque permitiria ao poder judicial afastar alguém eleito só porque por si impende uma acusação (que pode revelar-se falsa) — ou abusar das suas competências. É verdade que o anteprojecto pode não passar disso, mas não se percebe como se põe à discussão uma coisa destas. É que nem me parece necessário invocar a provável inconstitucionalidade da coisa ou o princípio da presunção da inocência, pois o simples bom-senso deveria bastar para perceber onde uma lei destas nos pode levar. Com certeza que o expediente permitiria afastar uns quantos autarcas que passaram das marcas, mas o problema é que isso abriria a porta a toda a espécie de arbitrariedades. E o país, como disse o Procurador-Geral da República ao Diário Económico, já está «cheio de arguidos inocentes».
«Escandaloso», diz o repórter da RTP no final do jogo entre Portugal e uma equipa do Kuwait. E escandaloso porquê? Porque, na opinião dele, Portugal devia ganhar por meia dúzia — ou coisa que o valha. Ora, não vejo porquê. Por que haveriam os jogadores portugueses de se matarem atrás da bola num jogo que nem a feijões era? Aliás, qual terá sido a ideia da Federação ao agendar um jogo destes?
4 de junho de 2007
1 de junho de 2007
As notícias que nos dão conta que a televisão encerrada por Chávez está a emitir na Internet e de que a Globovisión (também ameaçada de fechar) resolveu passar ao ataque, a que agora se junta a notícia de que um importante diário venezuelano saiu para as bancas com duas páginas em branco como forma de chamar a atenção para a importância da liberdade de informação, são francamente animadoras. É claro que tudo isto pode não passar de fogachos, mas também pode significar que o feitiço se pode virar contra o feiticeiro mais cedo do que se julgava. Aliás, o «plano de defesa popular da revolução», hoje activado pelo autarca de Caracas com o objectivo de travar «actos de vandalismo», é mais um indício.
Pois é, caro Tomas Vasques. A única coisa que realmente distingue García Márquez de José Saramago é mesmo a escrita. É que um sabe escrever, outro não.
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