28 de setembro de 2006
Estou longe de conhecer o Islão, mas não me custa acreditar que o Islão seja uma religião de paz. Acredito, também, que os muçulmanos estão a ser olhados com desconfiança, embora já me pareça um exagero falar-se de islamofobia. Mas tenho uma dúvida que ainda não vi esclarecida: o que tem feito o «Islão moderado» para se demarcar do Islão radical? (O resto está aqui.)
27 de setembro de 2006
26 de setembro de 2006
25 de setembro de 2006
O chamado Islão moderado está, finalmente, debaixo de fogo. Como me incluo entre os que têm dúvidas sobre o assunto (fui dos primeiros a questionar o chamado islão moderado, passe a imodéstia), só posso regozijar-me com a notícia. É que a reacção dos «moderados» (as aspas significam as minhas dúvidas, só isso) face à violência dos fundamentalistas — que se traduz, por regra, no silêncio — deixa-me dúvidas de que ele exista. Por aquilo que se vê, não só a mim. Há por aí muito boa gente que gostaria de ver os «moderados» insurgirem-se contra os radicais com a mesma energia com que se insurgem contra o que designam por islamofobia, coisa que me parece longe de se verificar mas que, a ser verdadeira, resulta, em grande parte, da forma como se comportam. Reparem que eu disse dúvidas, pois é disso que se trata. Dúvidas que, julgo eu, todos ganharíamos em ver esclarecidas.
22 de setembro de 2006
Ainda muito jovem, senti que a terra existia e quis conhecer-lhe as paragens remotas. Não fui feita para rodopiar num carrossel, com palas de seda nos olhos. Não compus um ideal: lancei-me à descoberta. Bem sei que esta maneira de viver é perigosa, mas o momento do perigo é também o momento da esperança. De resto, compenetrei-me da ideia de que nunca podemos cair abaixo de nós mesmos. Quando o meu coração sofria, começava a viver. Muitas vezes, nos caminhos da minha vida errante, me perguntei para onde estava a ir e acabei por compreender, entre a gente do povo e os nómadas, que estava a subir até às nascentes da vida, a realizar uma viagem às profundezas da humanidade. Ao contrário de muitos psicólogos subtis, não descobri nenhum sentimento novo, mas recapitulei sensações intensas; através de toda a mesquinhez dos meus acasos, a curva deliberada da minha existência ia-se desenhando ao largo. Isabelle Eberhardt, Escritos no Deserto
20 de setembro de 2006
Acompanhei, mais ou menos distraído, o discurso de Hugo Chávez na ONU, que por aqui teve direito a transmissão em directo na CNN. O pouco que ouvi chegou e sobrou para demonstrar que George W. Bush é, afinal, melhor do que se pensava. Aliás, George W. Bush bem pode agradecer ao presidente venezuelano os impropérios contra si dirigidos. Afinal, até os mais críticos terão dificuldade em rever-se nos argumento de Chávez — além de Chávez não ter autoridade moral para dar lições a ninguém. Ou muito me engano, ou o discurso do presidente venezuelano acabou por ter o efeito contrário ao desejado.
Por razões que expliquei, não penso que as afirmações de Bento XVI na Ratisbona mereçam o aplauso que a generalidade das opiniões dizem merecer. Comparadas com o episódio dos cartoons, as declarações do Papa pareceram-me potencialmente mais ofensivas, pela simples razão de que foram proferidas pelo chefe da Igreja Católica e não por um tipo qualquer. Assim não pensaram os fanáticos, que reagiram com mais moderação do que quando reagiram à publicação dos cartoons (embora hoje saibamos que não foi uma reacção espontânea), e ainda bem. Assim não reagiu a tropa que costuma aproveitar estas ocasiões para desculpar os fanáticos e acusar quem os combate, e ainda bem. Mas seria bom que episódios destes não se repetissem, até porque não é por aí que se vai lá.
18 de setembro de 2006
Tal como o episódio dos cartoons, as declarações de Bento XVI constituíram uma provocação perfeitamente escusada. Se Ratzinger fez bem em condenar o fundamentalismo religioso, duvido que Bento XVI tenha sido inteligente quando, procurando ilustrar a relação entre a violência e a fé, escolheu um exemplo onde Maomé é apontado como tendo trazido ao mundo coisas «más e desumanas». Se é verdade que Bento XVI não pretendeu atingir o Islão (e não custa a crer que não), as declarações proferidas na Alemanha foram, no mínimo, burrice, porque seria previsível que o que ele disse pudesse desencadear manifestações violentas — além de não se ver a necessidade de ir buscar a casa alheia o que facilmente encontraria em casa própria. Claro que o Papa tem todo o direito de dizer o que disse e de pensar o que pensa. Terá, até, razão. Só que, repito, e tendo em conta os tempos que se vivem, dizer o que disse é deitar gasolina na fogueira, precisamente o contrário do que pretende. E não vale a pena culpar os jornalistas pelo sucedido, porque a culpa não foi dos jornalistas. Qualquer pessoa que leia o discurso de Bento XVI vê que está lá o motivo da controvérsia, embora nada disso justifique ou desculpe a reacção do Islão radical.
15 de setembro de 2006
Foi o governo americano que arquitectou o 11 de Setembro e não Bin Laden e seus capangas? Muito bem. E quem arquitectou os atentados de Espanha? Terá sido o Governo de Aznar? Ou terá sido Zapatero, que beneficiou com eles? E de Inglaterra? Terá sido Tony Blair? E no resto do mundo onde houve atentados terroristas cometidos por fundamentalistas islâmicos? Terão sido os governos desses países os seus organizadores? Há perguntas sobre o 11 de Setembro para as quais não existe resposta? Muito bem. E porque não existem essas perguntas para os atentados de Inglaterra, de Espanha, da Tunísia, do Paquistão, das Filipinas, do Iémen, da Indonésia, do Quénia, da Arábia Saudita, de Marrocos, da Turquia e do Iraque?
Toda a gente que se diz séria e minimamente instruída desdenha das teorias da conspiração. Mais: faz questão de o dizer logo que tenha uma oportunidade, certamente que para se afastar da canalha. Mas, depois, socorre-se delas para levar a água ao seu moinho, e alguns vão a ponto de fazê-las passar por factos. O expediente é conhecido: quando a realidade não chega, inventa-se. Baptista Bastos, por exemplo, acha que se devia esclarecer «as origens religiosas das três mil vítimas» dos atentados de Nova Iorque.
«O "ocidente", por causa das borradas dele [George W. Bush] e dos seus aliados, com Blair à cabeça, vive permanentemente no pânico de ser atacado», diz o João Gonçalves. Com todo o respeito que ele me merece, isto é um absurdo. Por razões que julgo evidentes e que já disse e repeti: as coisas não estão como estão por causa do combate ao terrorismo, ou por causa dos erros cometidos no combate ao terrorismo, mas pelo terrorismo em si. Dito de outra maneira, o combate ao terrorismo não é a causa do «pânico de ser atacado», mas uma consequência.
Já aqui disse que não gostei da meia dúzia de páginas que li do livro The Force of Reason. Mas isso não me impede, como também disse, de concordar com quase tudo o que Oriana Fallaci (1929-2006) publicou sobre o Islão. Sobre o Islão, mas não só sobre o Islão. Mas, se discordasse, seria incapaz desta piada de mau gosto.
13 de setembro de 2006
Mário Soares continua a insistir na tese de que se deve negociar com os terroristas. Deu, no Prós e Contras, o mesmo exemplo que tinha dado quando defendeu a tese pela primeira vez: Portugal também negociou com os movimentos independentistas das ex-colónias. Isto é, o ex-Presidente da República continua a achar que os movimentos nacionalistas e a Al-Qaeda se colocam no mesmo plano, e tinham (ou têm, no caso da Al-Qaeda) idênticos objectivos. Mas já chutou para canto quando Pacheco Pereira lembrou que o primeiro-ministro Soares recusou negociar com as FP25, argumentando o fundador do PS que não queria mudar de conversa. Outro momento interessante do debate foi quando Mário Soares disse que a principal causa do terrorismo islâmico é a profunda humilhação que o Ocidente impõe aos árabes. Humilhação que, repare-se, foi incapaz de fundamentar. Convidado a explicar-se melhor, Mário Soares meteu os pés pelas mãos, misturou alhos com bugalhos, remeteu a explicação para uns representantes da comunidade muçulmana ali presentes (mal vai a comunidade muçulmana com aqueles representantes), e chutou novamente para canto. Depois esgrimiu o argumento da pobreza (que os factos facilmente desmentem), e comparou os fundamentalistas islâmicos aos fundamentalistas católicos (como se os métodos utilizados por uns e por outros fossem comparáveis). Pelo meio, Mário Soares disse que o Irão é uma grande potência... porque esteve lá. Que sabe do que fala quando fala do Líbano... porque esteve lá. Que não acredita em teorias da conspiração, mas não tem problema em as usar quando lhe dão jeito. Chegou, enfim, pelo tom e ligeireza dos argumentos, a fazer-me lembrar um daqueles participantes de alguns fóruns da rádio, tantas foram as vezes que baixou o nível ao debate. Não fosse a contradição, diria que Mário Soares conseguiu ser pior do que ele próprio.
12 de setembro de 2006
11 de setembro de 2006
Parece que em Setembro de 2001 havia «uma onda de solidariedade» que «contagiou nova-iorquinos, americanos e o mundo em geral», diz António José Teixeira. Oportunidade que, acrescenta, a administração Bush não soube aproveitar. É uma ideia que se repete a propósito de tudo e de nada, como se fosse um facto ou uma evidência difícil de contestar. Acontece que não é um facto e de evidência tem pouco. Telegramas de solidariedade do mundo inteiro a lamentar o sucedido? Grandes parangonas nos jornais a dizer «somos todos americanos»? Muito comovente. Tão comovente como hipócrita. Mas há mais: os que, agora, não se cansam de dizer que o ataque americano ao Afeganistão logo após o 11 de Setembro foi compreensível são os mesmos que, na altura, disseram cobras e lagartos da decisão. Querem falar de memória? Então não ajam como se os outros não a tivessem.
Os terroristas ficaram surpreendidos com «a incrível fragilidade estrutural do World Trade Centre», diz César das Neves no DN. E acrescenta: «Se o ataque fosse ao Empire State Building as vítimas seriam mínimas.» Mas não ficou por aqui o ilustre professor. Num arroubo de lucidez, César da Neves resumiu o 11 de Setembro a «um assunto de polícia». Nem mais.
8 de setembro de 2006
Como dizia o outro, estou que nem posso. Quase trinta quilómetros de livros (dezoito milhas, segundo a publicidade) são, de facto, muitos livros. Falo da Strand, um alfarrabista em Nova Iorque onde passei o dia perdido entre livros novos e usados. Apesar dos preços mais que tentadores, o volume das compras esteve aquém do que previa. Apenas quatro livros comprados, todos de Vargas Llosa, todos em tradução inglesa: Letters to a Young Novelist, The Language of Passion, Making Waves e A Writer’s Reality. E agora, se me dão licença, vou-me ao primeiro.
6 de setembro de 2006
O Diário de Notícias revelou mais alguns factos do «Apito Dourado». Reparem: factos (transcrição de escutas telefónicas, no caso), não meras suposições. Como saberá quem acompanha as peripécias do «Apito», não são os primeiros factos divulgados sobre tão fedorenta matéria, nem serão os últimos. (Suspeita-se, aliás, que os factos recolhidos pelos investigadores representam uma pequeníssima parte do polvo que é o futebol português.) A avaliar pela reacção de um dos acusados na peça do DN (mas nem era preciso) e olhando às trapalhadas (para não dizer mais) da Justiça portuguesa, obviamente que a coisa vai acabar em águas de bacalhau. A não ser que os visados decidam processar o Estado por ofensas aos seus bons nomes, coisa que não me surpreenderia.
4 de setembro de 2006
Manuel Monteiro pôs em alvoroço a Direita portuguesa. Por mais que se tente desvalorizar (ou ridicularizar) a ofensiva do líder da Nova Democracia, os factos demonstram que a Direita ficou nervosa e que um grupelho pesa mais do que parece. É provável que Paulo Portas esteja por trás de tudo, como já ouvi alguém dizer, o que seria a segunda vez (pelo menos) que Manuel Monteiro é usado por Paulo Portas. Mas uma coisa é certa: há uma direita que não se revê no CDS nem, muito menos, no PSD. Ou muito me engano, ou a iniciativa de Monteiro — a «refundação da direita» — vai ter consequências. Provavelmente consequências que Monteiro não deseja: o regresso de Paulo Portas à política partidária.
«O meu problema com o treino físico deve-se a duas razões: estética e saúde. Além de maçador e maltrapilho, o exercício não combina com a estética. Não falo de cor: uma ocasião, frequentei de facto um ginásio, com assiduidade e empenho. Durante meses, joguei squash, nadei (400 metros estilos), pedalei, aturei os vídeos da MTV e derreti no banho turco. Após cada sessão, sentia-me esfaimado e ridículo. Após três dúzias de sessões, engordei seis quilos e naturalmente fiquei mais ridículo.» Alberto Gonçalves, Sábado de 31 de Agosto
1 de setembro de 2006
O anti-americanismo primário (se é que há anti-americanismo que não seja primário) está de volta. Quer dizer, de volta é como quem diz, pois ele nunca esteve arredado da discussão política do dia-a-dia. Não, não me refiro aos que não gostam de Bush, ou aos que discordam desta ou daquela política americana. Refiro-me aos que vêem em tudo matéria para zurzir os americanos, essa raça de simplórios e ignorantes, pelo que não vale a pena virem com o argumento de que não se pode zurzir os americanos sem ser logo apelidado de anti-americano. É que qualquer pessoa não inteiramente estúpida distingue uma coisa da outra.
«É raro estar de acordo com o Vasco Pulido Valente; todavia, a circunstância de ele nadar contra a corrente das vulgaridades e o facto de escrever num português de lei tornam os seus artigos leitura estimulante», diz Baptista Bastos no Jornal de Negócios. Pois são exactamente esses os motivos que me levam a ler as crónicas de Baptista Bastos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)