31 de janeiro de 2008
29 de janeiro de 2008
Não percebo por que se diz que a estreia da ópera de Emmanuel Nunes foi um «fiasco» só porque o público não correspondeu da forma que se esperava. Afinal, estavam à espera de quê? Que o país parasse para ver uma ópera? Não terão os seus promotores colocado a fasquia demasiado alta? Não terá sido um delírio a ideia da transmissão simultânea para não sei quantas cidades, como se a ópera fosse um jogo de futebol? Descobriram, de repente, que o povo (é melhor não falar das elites) não aprecia ópera? Será só incompetência, ou a história não está bem contada?
Evidentemente que se esperaria do bastonário dos advogados que não se ficasse por insinuações quando disse haver, em Portugal, quem ocupe «cargos relevantes no Estado» que comete crimes sem que haja forma «de lhes tocar». Afinal, Marinho Pinto não ocupa um cargo qualquer, e o facto de ser jurista deveria afastá-lo de situações que não ajudam quem pretende pôr-lhes termo. Como não bastasse, o bastonário ainda teve o desplante de dizer que falou na qualidade de «provedor do cidadão», como se o bastonário não fosse o cidadão e o cidadão o bastonário — ou como fosse possível perceber quando fala o bastonário ou quando fala o cidadão. Mas parece que o episódio, para alguns, não tem importância. Afinal, quem já não disse que os políticos são um bando de criminosos? Como se vê, a lógica do raciocínio demonstra que um erro justifica outros erros. Se outros disseram que há «cargos relevantes» a cometerem crimes sem que nada suceda, por que não pode o bastonário da Ordem dos Advogados dizer o mesmo? É aquilo que eu designo por lógica da batata, que há-de levar a que tudo acabe em nada, apesar do inquérito da Procuradoria-Geral da República e o mais que se anuncia.
28 de janeiro de 2008
Se é verdade que pouco podem fazer para alterar o actual estado de coisas, seria bom que os jornalistas lessem, ao menos, a crónica de António Barreto no Público de domingo (disponível à borla aqui). Não que Barreto tenha dito alguma coisa que já não se soubesse, mas porque explicou muito bem explicadinho como funcionam as agências de comunicação e os efeitos que elas provocam quando dão com um jornalismo que não faz o seu papel. (Recomenda-se, já agora, a coluna do provedor do leitor, que no mesmo dia abordou a questão das fontes.)
25 de janeiro de 2008
Santana Lopes tem razões para sorrir. Afinal, não é todos os dias que um político é elogiado, muito menos por Vasco Pulido Valente. (A propósito: alguém se lembra da última vez que VPV elogiou alguém?) Mas não foi só Vasco Pulido Valente que teceu elogios a Santana Lopes por este ter recusado os serviços de uma empresa de comunicação. Os elogios vieram de todo o lado, incluindo dos opositores, e há que dizer que foram merecidos. Mas já tenho algumas dúvidas quanto à bondade da recusa. Terá sido por uma questão, digamos, de ética? Ou terá sido porque o líder parlamentar do PSD viu que a recusa lhe traria dividendos políticos? Provavelmente nunca se saberá, nem isso é importante. Mas já seria interessante saber se não estamos perante um daqueles casos de unanimidade burra, como diria Nelson Rodrigues.
Há, em Portugal, quem ocupe «cargos relevantes no Estado» que comete crimes sem que exista forma «de lhes tocar», garantiu o bastonário da Ordem dos Advogados. Vindo de quem vem, não se duvida. Mas já se duvida que Marinho Pinto revele, em breve, casos concretos, como promete. Isto apesar do inquérito prontamente anunciado pelo Procurador-Geral da República, que, obviamente, vai dar em nada.
23 de janeiro de 2008
Duas boas notícias: o regresso de Rentes de Carvalho à blogosfera (já regressou há um mês, mas só agora me dei conta), e das crónicas de António Sousa Homem, agora no Correio da Manhã.
Provavelmente devido à controvérsia gerada à volta do cancelamento da visita do Papa à La Sapienza, passou despercebida a notícia de que um jornalista bielorrusso foi condenado a três anos de prisão por reproduzir, no jornal de que é editor, as famosas caricaturas de Maomé originalmente publicadas num jornal dinamarquês.
22 de janeiro de 2008
Só vi a primeira parte dos Prós e Contras sobre o tabaco (agora mesmo, em vídeo), e não tenciono ver o restante. Mas, pelo que vi, os fumadores (ou os que estão contra a lei do tabaco) estiveram muito mal representados. Sá Fernandes não deu uma para a caixa, e Fátima Bonifácio foi muita parra e pouca uva. Pior: passou o tempo a baixar o nível do debate, a tentar abandalhar uma discussão que devia ser séria nos modos e consistente nos argumentos, e a vender demagogia barata (passe a redundância). Isto, repito, na primeira parte, que o resto não vi. E não vi porque peixeiradas não fazem o meu género.
Diz o Público que Baptista-Bastos se desvinculou do Sindicato dos Jornalistas devido ao «silêncio desolador» que aquela agremiação tem mantido sobre o processo que lhe foi movido por Alberto João Jardim. Como aqui (e aqui) fiz referência, continuo sem entender o silêncio da blogosfera sobre este caso, sobretudo o silêncio dos jornalistas que andam pela blogosfera. (O artigo que deu azo ao processo está aqui.)
21 de janeiro de 2008
Dizer-se que o ministro da Saúde se riu com a morte do bebé de Anadia, como disse Santana Lopes, não é demagogia: é uma baixaria inqualificável. Arreiem no ministro da Saúde as vezes que quiserem e pelas razões que entenderem, que certamente oportunidades não faltarão — e motivos ainda menos. Mas descer ao nível que desceu o líder parlamentar laranja, só mesmo de quem não tem nível.
18 de janeiro de 2008
Ficou por demonstrar que a criança de Viseu morreu devido a uma falha dos serviços de saúde. Quando alguns já se preparavam para decapitar o ministro da Saúde, eis que a realidade deita por terra a tese da falha. Isto fez-me lembrar aquela novela brasileira cujo enredo gira à volta do cemitério que o manda-chuva de um lugarejo mandou construir por achar que se tratava de uma coisa prioritária, e depois o tempo vai passando sem que morra alguém que o justifique. Não, não sei se o Governo está certo ou errado quando manda fechar hospitais. Por aquilo que se vai vendo, numas vezes estará certo, noutras estará errado. Aliás, quando mais argumentos se conhecem dos que são contra e dos que são a favor, menos se percebe. O que se percebe é que há demasiados interesses em jogo, e que os interesses dos utentes são os que menos contam.
Não percebo por que motivo jornais e revistas perdem tempo com notícias acerca das vendas dos ditos. Primeiro, quem, a não ser eles, quer saber disso? Depois, quem precisa realmente desses números (os anunciantes, presumo) certamente que não se fia nas notícias. Por último, lê-se a notícia no DN e concluiu-se uma coisa, e concluiu-se outra após ler o Público (sem link). Sim, a gente sabe que cada um dá a notícia do modo que mais lhe convém e manipula o mais que pode, mesmo sabendo-se que são os mesmos os factos de ambas as notícias. Só que, assim, nunca sabemos quem fala verdade ou quem mente, o que equivale a dizer que não se acredita em ninguém. Aliás, também nunca percebi a (aparente) eficácia de se dizer «em directo», «em primeira mão» ou «em exclusivo» sempre que os jornalistas pretendem passar a ideia de que estão a dar a máxima importância ao que fazem, que foram os primeiros a chegar lá ou os únicos com acesso a informação que mais ninguém tem. Quem são os telespectadores, ouvintes ou leitores que querem saber destas coisas? Quando é que os jornalistas metem na cabeça que estão a falar para os telespectadores, ouvintes ou leitores, e não para a concorrência?
Como toda a gente já percebeu, a lei do tabaco está a tornar-se uma excepção com algumas regras. Depois dos casinos, o director-geral de Saúde anuncia que também as discotecas não precisam de cumprir a lei, naturalmente desde que (há sempre um «desde que») se verifiquem determinados requisitos. Não que me incomode que a lei do tabaco se cumpra, ou não se cumpra. O que me incomoda é que a lei só se aplique ao mexilhão.
Após aturadas pesquisas, descobri, finalmente, um local onde vendem alheiras como lá da terra, e não exagero quando digo como lá da terra. (O resto está aqui.)
17 de janeiro de 2008
E quando a gente aproveitava a paragem do comboio em Carrazedo (ou em Alvações, ou na Povoação, ou no Cruzeiro, ou no Tanha) para matar a fominha nas videiras mais próximas?
16 de janeiro de 2008
Farto de resmungar sem que o ouçam, Alberto João Jardim resolveu dizer que o seu lugar será «ao lado do povo madeirense» caso «o povo madeirense um dia quiser a independência». Claro que isto não significa que Jardim queira a independência, como não se cansa de dizer, e até está sempre a lembrar que foi dos que travou devaneios independentistas. O presidente da Madeira pretende, apenas, dizer que está pronto para essa eventualidade, naturalmente caso o bom povo madeirense assim o deseje. Isto, claro, falando do que parece. Falando do que é, quem acredita na novela da independência? Evidentemente que ninguém, a começar pelos madeirenses, que sobre o assunto nunca foram ouvidos ou achados — nem se lhes conhece a mais leve vontade de se tornarem independentes. Trata-se, apenas, da rotineira chantagem do líder madeirense, que nunca olhou a meios para atingir o que pretende. O problema é que a questão da independência da Madeira pode, a prazo, tornar-se realmente um problema, isto partindo do princípio que o assunto seria um problema. É que isto de andar a agitar a bandeira do separatismo por dá cá aquela palha pode acabar por criar uma real vontade de separatismo, pelo que o aviso de Alberto João Jardim, do género «não digam que não avisei», não cola. Aliás, a verificar-se um cenário de independência, Alberto João Jardim não será visto como o bombeiro que sempre nos quis fazer crer, mas como o seu primeiro instigador.
Vem aí o software que promete monitorizar os trabalhadores que ganham a vida frente ao computador — ritmo cardíaco, temperatura do corpo, movimentos, expressão facial, pressão sanguínea, frustração, stress, por aí fora. A ser verdade, e não há razão para pensar que não é, o big brother já era. (A notícia pode ser lida aqui.)
14 de janeiro de 2008
Deixei de fumar há coisa de sete anos, mas nada contra o tabaco ou contra quem fuma. Digo isto porque os ex-fumadores são, geralmente, os piores inimigos do tabaco, e os mais fundamentalistas. Feita a ressalva, devo dizer que não entendo por que razão os casinos não são abrangidos pela nova lei do tabaco, e cada vez acho mais suspeita a omissão (ou falta de clareza, não sei bem) que permite aos casinos justificar o incumprimento da lei. Aliás, as suspeitas agravam-se quando membros da Direcção-Geral de Saúde admitem que os casinos poderão ficar isentos da lei, a pretexto de que a maioria dos frequentadores dos casinos é fumador. Dêem-lhe as voltas que quiserem e invoquem as leis que quiserem que os cidadãos, nomeadamente os cidadãos que se vêem impedidos de fumar em todo o lado e não frequentam casinos, não vão entender. Nem eles, nem ninguém. O que se entende com esta excepção é que a lei é só para quem não pode ignorá-la.
11 de janeiro de 2008
Não me venham dizer que Hillary tem um problema por ser mulher, ou que, por ser mulher, tem uma tarefa mais difícil que os outros candidatos presidenciais — muito menos que necessite, por esse motivo, recorrer a expedientes pouco dignificantes (a choradeira, por exemplo) para alcançar o que pretende. Poderá, em alguns casos, ter um problema por ser mulher, mas seguramente que noutros ser mulher é um trunfo. Aliás, os especialistas dizem que Hillary venceu as primárias do New Hampshire devido, sobretudo, ao voto das mulheres.
9 de janeiro de 2008
Vital Moreira já tinha avisado: «defender o referendo é defender o insucesso do Tratado». Não surpreende, portanto, a decisão do primeiro-ministro ao não propor a ratificação do Tratado de Lisboa através do referendo, apesar de ter prometido um referendo sobre o assunto no discurso de posse como chefe do Governo. (O primeiro-ministro alega, agora, que a promessa eleitoral então feita se aplicava ao defunto Tratado Constitucional e não ao Tratado de Lisboa, um expediente que, obviamente, não colhe.) E por que razão José Sócrates decidiu não propor o referendo ao Tratado de Lisboa? Por uma razão simples e clara: teve medo que o referendo produzisse um resultado que não lhe conviesse. Bem pode o primeiro-ministro argumentar que proporia a ratificação do Tratado de Lisboa pelo referendo caso a maioria dos países europeus o fizesse que o verdadeiro motivo todos sabem qual é. Bem pode o primeiro-ministro dizer que «nada seria mais fácil e mais conveniente para o Governo do que agendar uma campanha política para um referendo» sobre um «projecto europeu que a maioria dos portugueses apoia» que o motivo está à vista de toda a gente. Mas tudo isto pode ser ainda pior do que parece, como se dá conta neste post.
8 de janeiro de 2008
Não percebo por que razão Inês Pedrosa diz ter «orgulho em escrever no jornal que se recusou a publicar a ignominiosa página de propaganda de Muhamar Khadafi», ao contrário de outros, que não terão resistido a um «chorudo pagamento». Afinal, o anúncio do presidente líbio só não passou despercebido porque foi notícia, e mesmo depois de ter sido notícia duvido que tivesse o impacto desejado. Depois, que dizer de alguns anúncios que se publicam diariamente nos jornais, incluindo no jornal onde escreve, propagandeando empresas «respeitáveis» que toda a gente sabe que não são? Não serão estes anúncios mais nefastos que a propaganda de Khadafi?
7 de janeiro de 2008
Não percebo nada de economia — nem, sequer, o mais elementar. Deve ser por isso, aliás, que não entendo como é possível um banco (o BPI) ser accionista de outro (o BCP), e os accionistas de um (o BCP) pedirem dinheiro emprestado a outro (a CGD) para comprarem acções do primeiro (o BCP). Para complicar, parece que é tudo legal. Para complicar ainda mais, a concorrência não abre a boca, as entidades que supervisionam acham normal, e os principais partidos políticos lutam entre si pelo controlo do que não lhes pertence.
Faz todo o sentido o PC perguntar «em que bases políticas e legais baseou o Governo a opção tomada de aceitar/negociar patrocínios comerciais» nos actos oficiais relacionados com o Tratado de Lisboa, querer saber se «terá havido alguma espécie de favoritismo» do Governo a algumas empresas», e «como foram seleccionadas as empresas e produtos patrocinadores».
4 de janeiro de 2008
Ontem, na Sábado, Pacheco Pereira «meteu-se» com o JN. Não é a primeira vez que o faz, como quem o lê regularmente saberá. E o que fez o JN perante acusações tão graves como esta e esta? Até ver, nada e coisa alguma. A postura do JN tem sido ficar calado e caladinho, presume-se que por uma de duas razões: porque não atribui importância ao que diz Pacheco Pereira, o que ninguém acredita; ou porque o JN tem esqueletos no armário, e acha melhor calar-se.
Em mais uma manifestação de anti-americanismo primário e com a sobranceria a que já nos habituou sempre que fala dos americanos, Daniel Oliveira considera «medieval» o processo de nomeação dos candidatos à Presidência dos EUA. E «medieval» porquê? Infelizmente, não explicou. É que, se explicasse, teria deixado à vista que o método dos americanos é bem mais democrático do que o método utilizado, por exemplo, em Portugal, o que certamente não lhe convinha. Um sistema que oferece aos militantes a possibilidade de designarem o candidato do partido a que pertencem em vez de lhe ser imposto por quem nele manda, como acontece em Portugal e no partido do Daniel, parece-me infinitamente melhor, chame-lhe o ilustre os nomes que quiser. Aliás, há razões para estar ao lado dos americanos sempre que o cavalheiro fala mal deles. É que o Daniel é contra os americanos sempre pelas piores razões, ou por razões que só ele (ou a seita a que pertence) entende como más.
Não percam o Cáucaso (assim mesmo) do Iowa visto pelo vice-presidente do Instituto Transatlântico Democrático. Só um cheirinho: «Rudy Giuliani, o popular antigo Mayor de Nova Iorque que - muito embora tenha obtido um muito modesto sexto lugar, com apenas 3% dos votos - é já apontado pela generalidade dos analistas como o Candidato Republicano com mais hipóteses de vencer o candidato rival Democrata nas eleições de 4 de Novembro». Depois desta brilhante análise, onde a «generalidade dos analistas» garantem que um pré-candidato com um resultado miserável no Iowa é o que se apresenta «com mais hipóteses de vencer o candidato rival Democrata», vale a pena, também, visitar o site do IDT para se perceber melhor esta organização. É que, segundo os seus responsáveis, configura-se de «fulcral importância para a sociedade portuguesa a monitorização dos passos que levarão à eleição do próximo Presidente dos Estados Unidos da América», razão pela qual «se juntam os ingredientes necessários à criação de um elevado nível de pertinência».
3 de janeiro de 2008
Bem sei que a ASAE se presta a anedotas e ódios de estimação, mas a desculpa do seu principal responsável por fumar onde não devia é mais que esfarrapada. Pior: é inadmissível. Primeiro, porque o expediente cheira a esperteza saloia; depois, porque aproveitou a aparente falta de clareza da lei para prevaricar; por último, porque em vez de admitir o erro ainda nos quer tomar por parvos. Evidentemente que o único caminho que lhe resta é demitir-se, ou ser demitido. Isto, claro, se tivesse vergonha na cara, e se estivéssemos num país onde as regras se cumprem.
2 de janeiro de 2008
Se António-Pedro Vasconcelos «tem o raro mérito de produzir filmes de que o público gosta e que são sucessos de bilheteira», como diz Rui Moreira no Público, porque há-de o cineasta necessitar de apoios do Estado? Diz mais o Presidente da Associação Comercial do Porto sobre as benesses do Estado: os subsídios ao cinema devem ser atribuídos por «critérios políticos», e não «através de critérios pretensamente estéticos». Ora, o que quer ele dizer exactamente com os «critérios políticos»?
«O caso Maddie deixou mal os nossos polícias e os jornais ingleses», diz o Pedro Mexia. Ora, e os jornais portugueses? Não se portaram os jornais portugueses tão mal ou pior que os ingleses? Não andaram os jornais portugueses a defender teses que, afinal, não se confirmaram?
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