30 de agosto de 2013
JUÍZOS EM CAUSA PRÓPRIA. Nada contra a decisão do Tribunal Constitucional ontem anunciada. Para ser mais preciso, nem contra, nem a favor, que os meus conhecimentos sobre a Constituição não chegam para formar uma opinião. Mas há duas perguntas que me julgo habilitado a fazer: é normal que juízes decidam em causa própria? Tomarem decisões que os afectam directamente, no caso de ontem escapando a uma lei que, a ser aprovada, os afectaria pessoalmente? Não sei qual será a melhor receita para estes casos, mas esta definitivamente não é.
29 de agosto de 2013
IMAGINEM SE A GUERRA JÁ TIVESSE COMEÇADO. O Diário de Notícias diz que o ministro russo dos Negócios Estrangeiros «discorda das informações norte-americanas» que apontam o regime sírio como responsável pelo ataque com armas químicas sobre os seus concidadãos, e que «a Síria apresentou ao Conselho de Segurança da ONU provas de que o ataque (...) foi realizado por forças rebeldes». Discordar das informações? Foi isso mesmo o que o DN escreveu. Que as informações se considerem insuficientes, pouco credíveis, manipuladas ou até inventadas, percebe-se. Mas discordar dos factos, é coisa que não lembra ao diabo. Quanto às provas que o Governo sírio terá apresentado à ONU, queria o DN dizer alegadas provas? É que o texto está redigido de modo a não deixar dúvidas quanto à veracidade das ditas, e manda o rigor que não se diga que é o que não se sabe se é. Bem sei que numa guerra a verdade é a primeira a tombar, mas a guerra ainda não começou.
28 de agosto de 2013
TALVEZ HAJA AQUI UM LAPSO FREUDIANO. Um dia após ter-se mostrado «profundamente convicto» de que o cancro que vitimou o ex-presidente Hugo Chávez foi inoculado, desta vez não disse por quem, e de garantir a existência de planos para matar o actual presidente venezuelano, por acaso ele próprio, Nicolás Maduro referiu-se, em discurso ao país, ao milagre da «multiplicação dos peixes» atribuído a Jesus Cristo como sendo o «milagre da multiplicação dos pénis». Conheço mal o dr. Sigmund, mas não será isto o que se designa por lapso freudiano?
27 de agosto de 2013
MAIS MINHOCAS. O actual Ministro dos Negócios começou por omitir no currículo a sua passagem pelo BPN/SLN, onde foi presidente do conselho superior e membro do conselho consultivo. Detectado o «esquecimento», admitiu ter comprado acções do BPN a um euro cada que posteriormente vendeu a dois euros e meio, que lhe rendeu um lucro de 150%. Descobriu-se, depois, que Rui Machete comprou acções para a Fundação Luso-Americana (a que então presidia) precisamente no mesmo período em que comprou as suas, mas estas a 2,2 euros. Como a história causou falatório, nos últimos dias achou por bem vir dizer que, afinal, se equivocou. As acções pessoais foram adquiridas ao mesmo preço das acções da FLAD, isto é, a 2,2 euros, não como, por «equívoco», inicialmente admitiu. Veremos no que isto vai dar, mas sempre que alguém mexe no caso é «minhoca por todo o sítio», como diria a juíza Cândida Almeida, que sabia do que falava.
23 de agosto de 2013
PROVAR DO PRÓPRIO VENENO. Afinal, não é só Lorenzo Carvalho que faz festas de anos de 300 mil euros. Também há quem tenha mansões para vender. Adivinhem quem.
22 de agosto de 2013
ISTO VAI BOM PARA AS MINHOCAS. A juíza Cândida Almeida revelou, há pouco, que o BPN é um caso em que cada vez que se mexe na terra «sai minhoca por todo o sítio». A avaliar pelo silêncio à volta do BPN, deixaram de mexer na terra. O Governo resolveu introduzir briefings diários com o propósito de melhorar a comunicação com os cidadãos. Como em meia dúzia de dias puseram a descoberto o que doutro modo ficaria encoberto, começou por torná-los bissemanais, agora promete regressar em Setembro após «afinações» destinadas a «eliminar o ruído», e a seguir acabará com eles. Decididamente que há coisas que os cidadãos não devem saber. Por causa das minhocas, que assim se reproduzem mais facilmente, e para não haver riscos de envolver pessoas e negócios acima de qualquer suspeita, como ainda hoje se viu. Somos, definitivamente, um país de brandos costumes. Fossemos um pouco menos brandos e estaríamos a ampliar a «ala VIP» da Carregueira.
21 de agosto de 2013
FENÓMENO DO ENTRONCAMENTO. Leio em dois jornais britânicos (aqui e aqui) que Samantha Shannon escreveu um livro do outro mundo e se prepara para com ele alcançar um êxito estrondoso. Que os direitos já foram vendidos para vinte países, que recebeu um adiantamento de 100 mil libras de uma importante editora (a Bloomsbury), que é o primeiro de uma série de sete, e que vai dar um filme. Aqui chegado, constato, sem espanto, que Samantha já tem uma entrada na Wikipédia, onde consta a bibliografia... não publicada (The Bone Season, ontem posto à venda em Inglaterra, e Aurora, o seu primeiro romance). Leram bem: Samantha é já uma estrela literária, quiçá digna do panteão, por dois romances... não publicados. Dizem-me que o livro de estreia terá sido lido por gente ligada aos meios, que o terão achado fenomenal. Não deixa, contudo, de espantar que se consagre uma jovem de 21 anos que até ver só escreveu um bestseller, no caso, evidentemente, de se confirmarem as previsões. Bestseller a que o «nosso» O'Neill «traduziu» por «besta célere», e que talvez não passe, como também disse, de «um típico produto da chamada indústria cultural», que exteriormente toma a forma de livro «para melhor se confundir com os verdadeiros livros».
20 de agosto de 2013
A INCONTORNÁVEL JUDITE. Judite de Sousa terá apanhado demasiado sol no Algarve, como as fotos em variadíssimos jornais bem o demonstram, e terá outros problemas que não me dizem respeito. Mas daí até indignar meio mundo com uma entrevista palerma a um jovem milionário, vai um abismo. É pecado que um jovem de 22 anos gaste uma fortuna do seu próprio bolso numa festa de anos num país (o nosso) onde tantos vivem na penúria? Que o sujeito não se sinta constrangido por gastar um balúrdio em coisas supérfluas, e culpado por ter tanto dinheiro? Para Judite de Sousa, não só é pecado, como é um escândalo. Como é evidente, e até a própria já admitiu que o tom da entrevista «foi desajustado» (pena não ter admitido tratar-se de um não assunto, muito menos motivo para entrevista), o pressuposto é idiota, e lamenta-se que a contundência das perguntas ao jovem Lorenzo nem sempre se verifique com quem realmente interessa ouvir. (Houve entrevistas de Judite de Sousa a personalidades com responsabilidades no país que me irritaram muito mais e passaram sem comentários.) Uma coisa houve que não vi comentada e me incomodou mais que as palermices de Judite de Sousa: a peça emitida antes da entrevista, que segundo o entrevistado continha, pelo menos, três erros factuais. Segundo Lorenzo Carvalho, que perante as provocações manteve uma notável presença de espírito para um jovem da sua idade, não é verdade que pague um milhão de euros para correr cada prova de não sei que campeonato automobilístico, não é verdade que aspire chegar à Fórmula 1, não é verdade que tenha contratado (e pago em conformidade) uma estrela de cinema para estar na tal festa em que terá gasto 300 mil euros. Três erros factuais de palmatória numa peça de escassos segundos, e que a TVI não desmentiu.
FAÇAM O FAVOR DE LER. Dois textos que subscrevo da primeira à última linha: Agarrados, de Paulo Morais, e Quando a comunicação social se suicida, de Nuno Ramos de Almeida.
16 de agosto de 2013
DA EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS. Poderá ser explicável do ponto de vista jurídico, mas que sentido fará que sobre casos iguais uns tribunais decidam uma coisa, e outros o contrário? É o que está a acontecer com os «dinossauros autárquicos», que uns tribunais consideram poder candidatar-se a uma nova autarquia após três mandatos noutra, e outros não. Que uma lei redigida com os pés tenha causado este imbróglio, é grave, embora todos percebam que a ideia era extinguir os dinossauros. Que os tribunais se contradigam e se metam a fazer política em vez de justiça, é inadmissível. Parece que em última instância é o Tribunal Constitucional quem vai decidir estes casos. Valerá a pena lembrar como (e por quem) é formado o Tribunal Constitucional? Só a «engenharia política» permitirá que alguém se candidate a um novo mandato autárquico que já fez três consecutivos, pelo que insisto no que venho dizendo desde a primeira hora: no caso de apanharem gente desta nas urnas, façam-lhes um valente manguito.
15 de agosto de 2013
MEDITAÇÕES DE VERÃO. Duas boas notícias em apenas dois dias: a economia cresceu, e os juros da dívida baixaram. Com praticamente todos os políticos em férias, do Governo e da oposição, é caso para dizer: as coisas tendem a melhorar quando eles saem de cena.
14 de agosto de 2013
DESPEJAR O LIXO NO QUINTAL DO VIZINHO. «Se se confirmar que houve realmente uma alteração de um documento que tinha como objectivo manipular a comunicação social para por sua vez influenciar a opinião pública», disse o ministro Poiares Maduro, estamos diante «um acto gravíssimo». Não conheço o já célebre documento, sobre o qual o Governo se mostrou especialmente zeloso em ver esclarecido mal soube ter origem no executivo anterior. Mas o pressuposto de que a manipulação da comunicação social é «um atentado a aspectos fundamentais do funcionamento de uma democracia», além de «um acto gravíssimo», só mesmo para gozar connosco. As mentiras sobre os swaps e as omissões no currículo de alguns governantes destinaram-se a quê? Não terão sido, também elas, tentativas de manipular a mesmíssima comunicação social, e através dela a opinião pública? Como mais uma vez se demonstra, o desespero é mau conselheiro. Depois de Marco António ter perguntado por que razão o Governo Sócrates não denunciou ao Ministério Público e ao Banco de Portugal a tentativa de lhe venderem swaps como se houvesse alguma ilegalidade a denunciar, Poiares Maduro desesperadamente procura sacudir para terceiros as trapalhadas em que o Governo desastradamente se meteu, e para as quais não se vê fim à vista.
9 de agosto de 2013
JÁ SÓ NOS FALTAM AS BANANAS. Já ouviram falar de uma república das bananas? Pois bem, por aquilo que nos últimos tempos tem sucedido, comparar o país a uma república das bananas se calhar peca por defeito. Franquelim Alves, até há pouco secretário de Estado do Empreendedorismo, e Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros, esconderam nos respectivos currículos as suas passagens pelo BPN. Pais Jorge, ex-secretário de Estado do Tesouro, tentou, em tempos, vender swaps ao Governo Sócrates, negócio que desmentiu e confirmou no espaço de 24 horas e lhe valeu a demissão. Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, mete os pés pelas mãos sempre que é chamada a falar dos swaps sem que se vislumbre porquê. Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, esqueceu-se de pôr no currículo ter sido consultor e administrador de uma empresa suspeita de tratamento de favor por parte da Secretaria de Estado da Administração Local então tutelada pelo ex-ministro Miguel Relvas, agora promotor da língua portuguesa (palavra de honra). Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, disse em tempos que teria de nascer duas vezes quem fosse mais honesto do que ele, mas nos entretantos protagonizou uma relação com o BPN de contornos duvidosos e viu-se envolvido num episódio de escutas impróprio de um país civilizado. Perante estes casos, e outros que se adivinham, impõe-se perguntar: esta gente é para levar a sério? Infelizmente, é. É preciso estar de olho neles, que eles não são de fiar. Isto para dizer o mínimo.
7 de agosto de 2013
PODRIDÃO NA POLÍTICA. Depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, que considerou «podridão dos hábitos políticos» o facto de os media divulgarem que Machete omitiu no currículo a passagem pelo BPN, o secretário de Estado que hoje se demitiu queixou-se que o fez empurrado pelo «lado podre da política». Acontece que Rui Machete e Joaquim Pais Jorge contribuíram, cada um a seu modo, para a podridão que tanto os incomoda. Para falar só dos casos mais recentes, o primeiro por ter omitido do currículo uma informação obviamente relevante e posteriormente ter dado explicações que não convenceram ninguém, o segundo por num dia não se lembrar de umas reuniões que no dia seguinte admitiu conhecer ao detalhe. Um e outro pertencem, portanto, ao lado mais «podre» da política, pelo que nenhum deles tem autoridade para dar lições de moral.
6 de agosto de 2013
AI MÃE. Começa assim a última crónica de Valter Hugo Mãe na revista do Público: «Um menino a brincar com uma borboleta. Feito de porcelana, muito simples e delicadíssimo. Uma criança expectante a observar a borboleta que tem pousada na mão. Comprei no mercado das tralhas de Kiev, perdido que estava entre outras figuras, sujo, sempre miúdo e puro.» Comovente, não é? Prossegue com parágrafos e parágrafos de pérolas como esta até ao período final, também ele uma pérola: «Porque muito do que nos acontece de assustador nem sempre apaga o mais precioso que contemos.» Maravilha, não é? Imaginem se o cavalheiro soubesse escrever.
2 de agosto de 2013
SWAPS. Se os swaps lesaram o Estado em muitos milhões de euros e vêm do governo anterior, por que motivo resolveu a ministra das Finanças assumir um comportamento, no mínimo, pouco claro? Esta é, presumo, a pergunta que os portugueses farão, e para a qual ninguém deu, até agora, resposta. Convenhamos que são demasiadas as contradições, as meias verdades, as omissões — e demasiados os membros do Governo que, de um modo ou doutro, estão ligados a estes produtos, até ver nenhum pelas melhores razões.
A LÓGICA DE RIO. Rui Rio considera a ministra das Finanças tecnicamente «muito má», que «não tinha condições» para substituir Vítor Gaspar, que a sua nomeação foi «um erro», e que se tornou «um problema» para o Governo. Dito isto, considera que deve manter-se no posto, na sua opinião porque a eventual saída provocaria uma nova crise política. Confesso que a lógica me escapa. É preferível manter uma ministra incompetente a criar uma eventual crise política? A mim parece-me que a substituição de Maria Luís Albuquerque valia bem uma crise política, embora não vislumbre por que motivo haveria de causar uma crise política. Como ainda há pouco se viu, Rio gosta de dar lições de moral aos políticos. Convinha, por isso, não dar uma no cravo, outra na ferradura.
UM MINISTRO BOM É UM MINISTRO MORTO. O ministro que toda a gente gozava e de que todos se riam transformou-se, de repente, por via do afastamento do Governo, em tudo o que não era dantes. A fazer fé no que agora se diz, afinal o homem era excelente, competente, sério, fez obra, e mais não sei quê. Definitivamente que um ministro bom é um ex-ministro, parafraseando alguém que dizia que o poeta bom é o poeta morto.
Subscrever:
Mensagens (Atom)