30 de agosto de 2006
O Filipe Moura resolveu atacar a «relações públicas» da blogosfera e acabou a dar uma no cravo e outra na ferradura. Começa por dizer o ilustre que o Bomba Inteligente «é um blogue muito lido e muito referido e merece sê-lo», mas, depois, afirma que não o lê e apenas conhece de comentários e referências de outros blogues». Afinal, como sabe ele que se trata de um blogue que merece ser lido e referido se não o lê? Mas há mais contradições: o cavalheiro diz não perceber «por que razão há tanta gente a perder tempo com o que a senhora escreve» num blogue «tão fraco de ideias». Ora, a ser assim, por que razão perde Filipe Moura tempo com tão irrelevante matéria?
O André Azevedo Alves estava à espera que Vital Moreira se retratasse da afirmação, no Causa Nossa, de que Israel não quer a paz com os palestinianos pela simples razão de que não «poderia viver sem a sua quota mensal de palestinianos eliminados». Pois fique sabendo, meu caro André, que ainda estou para ver o dia em que Vital Moreira resolve retratar-se de algum erro cometido, e posso garantir-lhe que já lhe conheço (e denunciei) vários. É que, assim, há sempre uns incautos que tomam por verdades as mentiras que ele vai dizendo, e temo que a tarefa de o desmentir, mesmo que de forma a não deixar dúvidas, é bem capaz de ser contraproducente.
29 de agosto de 2006
Percebe-se que se saia em defesa de Günter Grass (se calhar tornou-se politicamente correcto fazê-lo), mas o caminho que as coisas estão a levar ainda vai fazer com que uma página negra na vida do escritor se torne numa coroa de glória. Por que raio não se há-de dizer mal do homem sem ser logo apelidado de patrulheiro ideológico ou moralista? Está bem, ele fez o acto de contrição, teve coragem para assumir os erros passados, a coisa passou-se quando era jovem e não pensava, a obra está aí e é o que conta — mas nada disso retira substância e legitimidade às críticas. Daí que tanto consenso, além de soar estranho e nem sempre verdadeiro, chateia.
28 de agosto de 2006
De facto, como diz o João Miranda e eu já tinha alertado (aqui, aqui e aqui), «será difícil não associar o islão ao terrorismo».
O meu amigo Rui Geraldes resolveu mudar-se para o WordPress. Como a transferência do Blogger para a nova plataforma não correu bem, acabou por perder os templates do Blogger e ficar sem maneira de avisar os leitores da mudança. Aqui ficam, pois, os novos endereços de Escleroses e O Zabrolho.
25 de agosto de 2006
23 de agosto de 2006
Tenho acompanhado os comentários à polémica que envolve Eduardo Cintra Torres e a RTP e verifico, sem surpresa, que há mais coração que razão. Embora poucos conheçam os factos em que Cintra Torres diz basear-se para acusar o Governo de censurar a RTP, parece não faltar quem não hesite em dar-lhe razão e condenar a televisão pública. Não me espantaria que fosse inteiramente verdade o que diz o crítico, nem seria a primeira vez que um Governo se intromete onde não deve. Mas manda a mais elementar regra do bom senso esperar para ver, não fazer juízos com base em palpites. Para começar, há que considerar mais alguns dados. A protecção das fontes, por exemplo. Não tenho dúvida de que a protecção das fontes é um bem precioso, mas a forma como se pratica deixa-me muitas dúvidas. Aliás, tenho para mim que a protecção das fontes prejudica mais o jornalismo do que beneficia. Mas, repito, há que esperar para ver, e não pretendo pôr em causa o crítico com esta chamada de atenção, pois não faço a mais leve ideia se tem razão ou não.
Para o Daniel Oliveira, o Hezbollah não é um grupo terrorista. O Partido de Deus é, apenas, «uma organização extremista religiosa (...) que usa métodos terroristas». Perceberam a diferença?
Afinal, o MEC não é o MEC. Fiquei a saber do embuste pela Bomba Inteligente, que resolveu dar um raspanete a quem enganou e a quem foi enganado. Pela parte que me toca, que ingenuamente vendi a informação pelo preço que a comprei (alguém me avisou do blogue em causa e limitei-me a retransmitir a informação sem a confirmar), as minhas desculpas.
21 de agosto de 2006
Não sei se Eduardo Cintra Torres tem informações que «indicam que o gabinete do Primeiro-Ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios». Mas gostei de ver a RTP reagir processando judicialmente o crítico, pela simples razão de que acusações como as de Eduardo Cintra Torres acabam, quase sempre, em águas de bacalhau, deixando-nos sem saber quem fala verdade e quem mente. Notem, repito, que não estou a dar razão à RTP ou a Cintra Torres, pois não sei quem a tem. Espero, apenas, que haja consequências, pois o caso é demasiado grave para não haver consequências.
18 de agosto de 2006
Sempre que um país pretende legislar no sentido de criar mais segurança para os seus cidadãos, logo surge quem se oponha, pois mais segurança quase sempre significa menos liberdade, e menos liberdade resulta em vitória do terrorismo. Temos, assim, que, pouco ou nada se fazendo com receio de abrir mão das liberdades, continuamos à mercê de quem quer acabar com elas. Pior: continuamos nas mãos de quem nos quer destruir. Com certeza que não podemos ceder as liberdades sem mais nem menos, mas não se vê como possamos ter mais segurança sem abrir mão delas. A questão é, portanto, entre ter menos liberdade e não ter liberdade nenhuma, e só não vê quem não quer.
17 de agosto de 2006
15 de agosto de 2006
Que o escritor alemão Günter Grass tenha pertencido às Waffen SS de Himmler e só agora o tenha revelado, problema dele. Que tenha recebido o Nobel e outros prémios importantes que não os teria recebido caso fosse conhecido o seu passado nazi, problema de quem lhe deu os prémios. Que a revelação tenha sido uma excelente forma de promover a sua autobiografia que está prestes a ser publicada, nada contra. Mas já me chateia que não se lhe possa cair em cima, a pretexto de que quem lhe cai em cima está a fazer patrulhamento ideológico. Afinal, o homem passou a vida a dar lições de moral, não foi? Que mal tem levar umas boas sarrafadas?
Independentemente da forma como foi obtido e das condições para o manter, um cessar-fogo — qualquer cessar-fogo — é uma boa notícia. Mas o facto de o líder do Hezbollah já ter dito que este «não é o momento certo» para discutir o desarmamento, pretextando que o Exército libanês não está em condições de proteger o país das ameaças externas, não augura nada de bom. Pior: há notícias de pelo menos dois «incidentes» entre o Hezbollah e Israel logo após o cessar-fogo, de que resultaram vítimas dos dois lados. Ainda pior: Kofi Annan admitiu que o processo de envio da força da ONU para o Líbano poderá levar meses.
11 de agosto de 2006
A descoberta e desmantelamento de um plano que previa a explosão de aviões comerciais algures entre o Reino Unido e os EUA vão dar origem aos argumentos do costume. Que são, vale a pena lembrar, os seguintes: a culpa é dos americanos; a culpa é dos ingleses; a culpa é dos judeus. Se esta gente não andasse a fazer asneiras, dizem os «entendidos», nada disto sucedia. E, claro, há o Iraque, a política americana pós-11 de Setembro, a questão de Israel. Temos, assim, que o essencial da questão — o fundamentalismo islâmico, que não hesita em matar para impor a sua ideia — vai, de novo, ser ignorado, pois o fundamentalismo islâmico não é tido como a causa mas como uma consequência. Nada de especialmente grave caso esta atitude não fosse uma irresponsabilidade que chega a ser criminosa. Como disse Vasco Pulido Valente na crónica de hoje, «não basta não ver e não ouvir». É preciso encarar o problema de frente, e agir.
Segundo o DN, o Ministério dos Negócios Estrangeiros autorizou a escala, na Base das Lajes, de um avião militar israelita que transportava «material bélico não ofensivo». Tirando o PC e o Bloco, que reagiram à notícia pelas razões do costume, o silêncio foi generalizado. Não sei o que significa esse silêncio (provavelmente andam a banhos os que se costumam indignar com estas coisas), mas parece-me que o assunto merecia algum ruído. Para começar, a justificação do Governo levanta uma dúvida: haverá material bélico não ofensivo? Como não houve quem contestasse o argumento, parece que há. Mas há mais dúvidas: o Governo diz que a autorização foi concedida a título excepcional, e quando foi convidado a explicar em detalhe que material era esse limitou-se a falar de «componentes», «material dito não contencioso» e eufemismos do género. Nada disto altera uma vírgula acerca do que penso sobre o conflito entre Israel e o Hezbollah, nem me escandalizaria que o avião em causa transportasse «material bélico ofensivo». Mas já me chateia que a coisa não tenha ficado clara e que ninguém queira saber.
8 de agosto de 2006
A manipulação de uma fotografia por parte de um fotógrafo da Reuters demonstrou até onde o «jornalismo de causas» está disposto a ir para «noticiar» a «realidade» que lhe interessa — além de que é uma «modalidade de jornalismo» em franco crescimento. Pelo contrário, o jornalismo de factos — e só de factos — é cada vez menos praticado, supõe-se que por ser pouco estimulante e/ou atraente. O que importa é fazer passar um determinado ponto de vista. Se isso implicar que se atropelem as mais elementares regras da profissão, que se atropelem. Pior: tirando dois ou três casos, não se vê quem esteja interessado em discutir tão malcheirosa matéria, muito menos os jornalistas. É pena.
Há anos que o serviço da Europcar, pelo menos o serviço nos aeroportos de Lisboa e Porto, é miserável. Estou a falar de duas horas à espera de ser atendido (já me sucedeu pelo menos duas vezes), não de um atraso normal. O episódio contado por Eduardo Pitta está longe de ser, portanto, uma excepção. De facto, há só uma solução: mudar para a concorrência.
4 de agosto de 2006
O episódio dos mortos resultantes do ataque israelita em Qana — os 54 mortos anunciados eram, afinal, 28, e as 37 crianças eram, afinal, 16 — fez-me lembrar uma crónica onde Vital Moreia verteu lágrimas de crocodilo pelas vítimas de uma tragédia que nunca existiu. Lembram-se do «massacre» de Jenin? Pois foi esse mesmo. Vital Moreira resolveu transformar suposições em factos, e acabou por estatelar-se ao comprido. É verdade que havia indícios de que tinha havido um massacre na altura em que publicou o comentário, mas indícios e não mais do que isso. Descoberto o logro, esperar-se-ia que Vital Moreira repusesse a verdade. Mas não. Fez de conta que não tinha dito o que disse, e jamais emendou o erro. É que, desse modo, passou por verdade o que disse, e Vital Moreira já demonstrou que é especialista nestas manobras. Resta que há quem não seja cego de todo e não tenha perdido a memória.
Ia chorando de comoção quando tomei conhecimento do gesto de Mel Gibson (pedir aos líderes da comunidade judaica que o ajudem a «perceber de onde vieram aquelas palavras perversas» que proferiu contra os judeus quando foi apanhado a conduzir alcoolizado). Comovi-me, também, com as indignações que se seguiram ao anúncio do cancelamento da série sobre o Holocausto que o realizador se preparava para fazer para a ABC. Provavelmente vai ser necessário ressuscitar o inventor da psicanálise (que tem a particularidade de ter sido descendente de judeus) para explicar ao sujeito a origem das «palavras perversas», tal a complexidade das ditas. Provavelmente é uma injustiça o seu afastamento de um projecto cujo tema demonstrou ter ideias tão interessantes. Mas há uma coisa que é mais que provável: quando está com os copos, o sujeito é contra os judeus; quando não está, não tem nada contra. Dito de outra maneira, Mel Gibson diz o que pensa quando se embebeda, e o contrário do que pensa quando está sóbrio. O problema é, portanto, o álcool. Mais exactamente a falta dele.
2 de agosto de 2006
1 de agosto de 2006
«Portugal é uma plutocracia financeira de espécie asinina. É, como todos os países modernos, excepto, talvez, a Itália, uma oligarquia de simuladores. Mas é uma oligarquia de simuladores provincianos, pouco industriados na própria histeria postiça. Ninguém já engana ninguém — o que é tristíssimo — na terra natal do Conto do Vigário. Não temos senão os vigaristas de praça como prova de qualquer sobrevivência das qualidades de intrujice da nação. Ora um país sem grandes intrujões é um país perdido, porque a civilização, em qualquer dos seus níveis, é essencialmente a organização da artificialidade, isto é, da intrujice. “Quem não intruja não come”; é esta a forma sociológica dum provérbio que o povo não sabe dizer, porque o povo nunca sabe dizer nada. De resto, a sociologia também não existe.» Álvaro de Campos
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