31 de outubro de 2006
30 de outubro de 2006
Que Eduardo Prado Coelho esteja genuinamente convencido de que o Plano Nacional de Leitura vai resultar em mais leitores para as suas prosas, compreende-se. Que Eduardo Prado Coelho decida vergastar os blogues que desconfiam do Plano sem avançar o mais leve argumento em defesa da sua ideia, tolera-se. Que Eduardo Prado Coelho ameace puxar de pistola sempre que alguém lhe fale do dinheiro dos contribuintes, chega a ser comovente. Mas que o cavalheiro chegue a ponto de admitir, no respeitável Público, que Vasco Pulido Valente «até pode ser uma pessoa inteligente», já é demais.
27 de outubro de 2006
Parece ganhar adeptos a tese de que a blogosfera é perigosa, a pretexto de que ela alberga quem dela se serve para caluniar os outros. Acontece que a coisa não é bem assim, e vale a pena lembrar que também a Internet era um local perigoso antes de se tornar uma ferramenta indispensável. Quem não se recorda de a Internet ser assunto na imprensa generalista apenas pelas piores razões? Pois é, ainda não foi há muito, e hoje a Internet é aquilo que se sabe. Evidentemente que o perigo existe, mas é preciso ver-se que o anonimato na Internet desaparece quando a justiça entra em campo, muito especialmente no que respeita aos blogues, por regra sem grandes meios para se defenderem. Evidentemente que a calúnia é uma coisa abominável e pode ter consequências devastadoras, pois ela pode destruir a vida de um cidadão que nunca fez mal a uma mosca. Mas é bom não misturar alhos com bugalhos, e que não se pretenda calar os blogues anónimos. É que, tal como as fontes anónimas usadas pela comunicação social, os blogues anónimos servem para denunciar situações que de outro modo não seriam denunciadas, para tornar públicos factos relevantes que provavelmente não seriam públicos de outra maneira. Estou à vontade para dizer isto, pois nunca escondi a minha antipatia pelo modelo das fontes anónimas, e a lógica dos blogues anónimos é mais ou menos a mesma. Só que ainda aprecio menos a ideia de acabar com o anonimato.
«Contam-se pelos dedos de uma mão só as pessoas que têm acesso à comunicação social de primeira linha e que falam os mecanismos de controlo e manipulação da comunicação social pelo governo socialista», diz Pacheco Pereira na última Sábado. E acrescenta: «É uma matéria tabu, que suscita logo um ambiente de grande hostilidade, com exigências probatórias imediatas.» Não sei se Pacheco Pereira tem razão no que diz, mas não me surpreenderia que tivesse. Mas já tenho dúvidas de que acusações deste teor atinjam os resultados que pretendem, ou que resultem em algo de concreto. Antes de mais, desde quando um governo não foi acusado de controlar (ou manipular) a comunicação social? Que me lembre, todos foram acusados desse procedimento, certamente que uns por mais razões do que outros, sem que daí resultassem as consequências que se esperaria. Pior: nunca, que me lembre, se provou coisa nenhuma. Claro que estas coisas são muito difíceis de provar, razão pela qual há que redobrar as cautelas quando se fazem afirmações destas. É que afirmações destas são de tal modo recorrentes que duvido que alguém lhe dê importância, e ainda mais inócuas se tornam quando são proferidas por quem é conotado com a oposição, como é o caso de Pacheco Pereira. E, como Pacheco Pereira muito bem sabe, não ligar a este tipo de acusações é capaz de ser pior que as circunstâncias que as motivaram, porque isso abre caminho a que se faça ainda pior.
26 de outubro de 2006
O sub-secretário de Estado da Administração Interna acha que «a culpa deste terrorismo associado ao fundamentalismo islâmico não é do Ocidente», e que o Ocidente deve «preservar o seu bem-estar moral e ético». Isto, que é uma evidência (não devendo, por isso, merecer comentário), tornou-se um acontecimento, sobretudo por vir de um Governo oriundo de uma família política que tem dificuldade em aceitar que o terrorismo islâmico não seja culpa dos americanos.
24 de outubro de 2006
Depois de Campo Santo, de que ainda me lembro do local onde li as últimas páginas (há locais que conservo na memória só por lá ter lido um livro), e The Emigrants, chegou a vez de Vertigo. Um cheirinho:
Tal como os livros anteriores e, certamente, os próximos, Vertigo é um livro que apetece ler devagar, duas ou três páginas de cada vez. É que a prosa de W. G. Sebald é um bem demasiado escasso para que se consuma sem se saborear, um deslumbramento que se receia que acabe.
«One occasion, in Gonzagagasse, I even thought I recognised de poet Dante, banished from his home town on pain of being burned at the stake. For some considerable time he walked a short distance ahead of me, with the familiar cowl on his head, distinctly taller than the people in the street, yet he passed by them unnoticed. When I walk faster in order to catch him up he went down Heinrichsgasse, but when I reached the corner he was nowhere to be seen. After one of two turns of this kind I began to sense in me a vague apprehension, witch manifested itself as a feeling of vertigo.»
Tal como os livros anteriores e, certamente, os próximos, Vertigo é um livro que apetece ler devagar, duas ou três páginas de cada vez. É que a prosa de W. G. Sebald é um bem demasiado escasso para que se consuma sem se saborear, um deslumbramento que se receia que acabe.
23 de outubro de 2006
Para o caso de alguém não ter reparado, convém lembrar o que o líder dos talibans disse à Sky News. Mohammed Amin revelou, entre outras coisas, que os talibans estão «a planear um ataque contra interesses ocidentais em toda a Europa, incluindo a morte de civis»; que os talibans se irão vingar dos «invasores estrangeiros»; que «é aceitável matar civis na Europa, porque foram eles que votaram nos respectivos governos». A notícia está aqui (ou aqui, para quem preferir o original).
20 de outubro de 2006
Como seria de prever, o caso da ponte de Entre-os-Rios terminou sem culpados. Temos, assim, que a culpa foi da ponte, que caiu e não devia. Da ponte, do mau tempo, ou dos 59 que lá perderam a vida. A culpa não pode morrer solteira, dizia o então ministro Jorge Coelho, que se demitiu por causa do acidente. Cinco ano depois, o resultado está à vista. Não, não defendo que se arranje um culpado à força, mas é evidente que alguém é culpado por aquilo que sucedeu. Ouvir um tribunal dizer que não há culpados é, por isso, revoltante.
19 de outubro de 2006
As sanções económicas e militares impostas pela ONU à Coreia do Norte poderão resultar na morte de milhares de pessoas, advertem organizações humanitárias. Como o regime de Kim Yong-il já era alvo de sanções antes do ensaio nuclear, e como já era o povo quem pagava as consequências daí resultantes, é mais que certo que quem já vive na miséria ainda vai ficar mais miserável, enquanto o regime de Pyongyang — que as medidas da ONU pretendem atingir — não sofrerá o mais leve beliscão. (O resto está aqui.)
18 de outubro de 2006
«The moment you start to talk about playing music, you destroy music. It cannot be talked about. It can only be played, enjoyed and listened to.» John McLaughlin, que eu tive o privilégio de ver (e ouvir) há uns anos no Blue Note, é um músico de quem eu andava afastado, por razões que não vale a pena explicar. Um dia destes, não me lembro a que propósito, redescobri-o no YouTube, um sítio na internet onde evito ir porque, de cada vez que lá vou, não me apetece de lá sair. São incontáveis as pérolas de John McLaughlin no YouTube, e não só de McLaughlin. Esta, por exemplo, é uma delas. E, já que falo do YouTube, o Alexandre Soares Silva sugere um especial do Manhattan Connection sobre Paulo Francis que é uma delícia.
16 de outubro de 2006
Graças ao podcast, acabo de ouvir a entrevista de Alexandre Soares Silva ao Escrita em Dia, julgo que emitida há uns meses. Mesmo acompanhando de perto o que Soares Silva vai publicando no blogue, confesso que me surpreenderam algumas declarações ao programa de Francisco José Viegas, nomeadamente o ódio visceral ao Brasil — que eu estava longe de imaginar e que não percebi os motivos — e à literatura brasileira — de que apenas se salvam dois ou três escritores. Uma verdadeira surpresa que pode ser ouvida aqui.
13 de outubro de 2006
A inclusão (ou exclusão) de Salazar na lista de «grandes portugueses» de um programa de televisão não me aquece, nem me arrefece. Aliás, tratando-se de um programa de entretenimento, não percebo o alarido causado pelo facto de inicialmente o ditador não fazer parte da lista e, depois, por nela ter sido incluído. Posto isto, por que razão a inclusão de Salazar na lista dos candidatos ao título de maior português (ou lá o que é) causou tanto incómodo a Ana Sá Lopes, quando outros nomes tão discutíveis quanto Salazar não lhe mereceram o mais leve reparo? Não, não estou a defender Salazar, e muito menos o que ele representou. Em matéria de ditadores, sou contra. Contra os bons (se os houve), e contra os maus. Mas sou, também, contra o que (ou contra quem) me impede de escolher quem muito bem me apetecer, ainda por cima por razões que se podiam aplicar a outros candidatos dessa mesma lista que, sem que se perceba porquê, não merecem contestação.
12 de outubro de 2006
Imre Kertész, Gao Xingjian, Wislawa Szymborska, Kenzaburo Oe, Derek Walcott, Naguib Mahfouz, Wole Soyinka, Claude Simon, Jaroslav Seifert, Elias Canetti, Czeslaw Milosz, Odysseus Elytis, Isaac Bashevis Singer, Vicente Aleixandre, Eyvind Johnson, Harry Martinson, Yasunari Kawabata, Samuel Agnon, Nelly Sachs, Giorgos Seferis, Ivo Andric, Salvatore Quasimodo, Halldór Laxness, Pär Lagerkvist, Johannes V. Jensen, Frans Eemil Sillanpää, Roger Martin du Gard, Ivan Bunin, John Galsworthy, Erik Axel Karlfeldt, Sigrid Undset, Grazia Deledda, Wladyslaw Reymont, Knut Hamsun, Carl Spitteler, Karl Gjellerup, Henrik Pontoppidan, Verner von Heidenstam, Rabindranath Tagore, Gerhart Hauptmann, Maurice Maeterlinck, Paul Heyse, Selma Lagerlöf, Rudolf Eucken, Giosuè Carducci, Henryk Sienkiewicz, Bjørnstjerne Bjørnson, Theodor Mommsen, Sully Prudhomme e Elfriede Jelinek. Quem é capaz de me dizer quem são estas pessoas e o que têm em comum?
11 de outubro de 2006
10 de outubro de 2006
Escusado será dizer que a crise instalada por causa do ensaio nuclear da Coreia do Norte não teria existido caso não fossem os americanos, ou o presidente Bush. Aliás, um deputado norte-coreano já o veio lembrar: o ensaio nuclear realizado ontem por Pyongyang "é a expressão da intenção" da Coreia do Norte "de fazer face aos Estados Unidos na mesa de negociações". Mais: caso os EUA se recusem a fazer concessões durante as negociações, avisou o responsável, Pyongyang admite lançar um míssil com uma ogiva nuclear. Mas não é só o deputado coreano que assim pensa. Manuel Carvalho, por exemplo, acha que competia à Administração Bush evitar que a Coreia do Norte se tornasse num país com armas nucleares. Infelizmente não revelou onde está escrito que compete aos EUA resolver os problemas do Mundo, mas a gente percebe na mesma onde ele quer chegar. Aliás, a «teoria» do director-adjunto do Público (se os americanos não fazem, deviam; se fazem, não deviam — ou fazem mal) está longe de ser novidade. Pena é que ela não assente num único facto.
9 de outubro de 2006
O aviso de José Sócrates a Alberto João Jardim e, sobretudo, o corte de 50 milhões no Orçamento previsto para a Madeira (resultante do não cumprimento, por Jardim, da chamada Lei das Finanças das Regiões Autónomas), constituiu, até agora, a maior afronta ao líder madeirense por parte do poder político. Como se esperaria, Alberto João contra-atacou. Só que, desta vez, o argumento do presidente da Madeira — o Governo de Sócrates estará a utilizar meios financeiros do Estado «para conquistar o poder» na região — foi fracote, o que é mais um sinal. Será isto um indício de que Jardim vai, finalmente, entrar nos eixos? Depois das promessas que o vento levou, espero para ver.
6 de outubro de 2006
O primeiro-ministro palestiniano garantiu, hoje, que o partido a que pertence e pelo qual foi eleito chefe do Executivo — o Hamas — nunca reconhecerá Israel. Reparem bem: foi ele que o disse, exactamente desta maneira, e de forma a não deixar dúvidas. Seria bom não esquecer, portanto, do que falamos quando falamos de dois estados independentes coexistindo pacificamente um ao lado do outro, como (quase) todos desejam, a começar por Israel. E, já agora, também seria bom que alguém explicasse como se dialoga com quem nos quer destruir.
O Alberto Gonçalves chamou a atenção para um post «surrealista» de Ana Gomes. Fui ver. Surrealista? Aquilo é pura demência!
4 de outubro de 2006
Depois do RCA eBook, que me aposentou o Rocket eBook, chegou a vez do Sony Portable Reader, que me chegará às mãos em meados de Novembro. Já aqui falei das vantagens do ebook, ou das vantagens da leitura num leitor de ebooks, mas apetece-me voltar ao assunto para dizer que os poucos inconvenientes que então apontei deixaram de o ser. Numa altura em que lemos cada vez mais nos écrans dos computadores, em que o futuro dos jornais passa pela internet e que a internet tem coisas que não se encontram em mais lado nenhum (os blogues, por exemplo), o ebook é o objecto ideal para nos acompanhar para onde quer que vamos. O ebook significa estar permanentemente acompanhado dos jornais e dos livros que se quer e pode ler em qualquer lugar ou circunstância. Ontem como hoje, pagaria o dobro pela maquineta caso a maquineta custasse o dobro. Só mais um detalhe, dedicado à Miss Pearls: podemos ler em sossego o que muito bem nos apetecer sem que alguém suspeite o que estamos a ler.
2 de outubro de 2006
Não sei se isto é como se diz. Mas, se for, é gravíssimo, e não me surpreenderia. Aliás, duvido que surpreenda alguém caso se confirme.
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