29 de fevereiro de 2008
Não me espanta que a jornalista Alexandra Lucas Coelho ache que a América foi «provinciana», «ignorante» e «sinistra» nos últimos 10 anos. Mas já me espanta a ignorância em que estas «evidências» assentam. (Texto disponível na versão impressa do Público.)
27 de fevereiro de 2008
Consta que Siza Vieira teme uma intervenção arquitectónica no Bolhão que descaracterize a área, situação que, a acontecer, seria um «desastre». De facto, olhando para o projecto de Siza na Avenida dos Aliados, é de temer o pior. É de temer, antes de mais, que a intervenção no Bolhão lhe caia nas mãos.
26 de fevereiro de 2008
Se todos os métodos de avaliação dos professores até agora propostos são maus, por que não apresentam os professores uma proposta de avaliação? Por que é que só se fala dos problemas dos professores — ou quase só dos problemas dos professores — quando se discutem os problemas do ensino? Estas são as perguntas que me ficaram depois do Prós e Contras sobre a Educação, precisamente as mesmas que fazia antes do debate. Pior: não vi, em todo o programa, uma única crítica dos professores que realmente tivesse substância. Já arrogância e sobranceria, foi coisa que não faltou. O Ministério da Educação tem uma política que, na prática, vai contra os professores? Provavelmente. Mas é preciso que se diga, também, que ninguém acredita em reformas no ensino que não atinjam os professores, ou parte substancial dos professores, e também é bom não perder de vista que os professores não são o fim único da Educação — mas um mero instrumento. Um instrumento importante, sem dúvida, mas um mero instrumento. O fim único das reformas na Educação é os alunos e a qualidade do ensino, coisa que se nota cada vez menos quando se discute a Educação.
Como já se tinha notado nos últimos dias e hoje demonstra esta notícia, a campanha do Partido Democrático entrou no plano inclinado. A partir de agora, e pelo menos até às primárias do Texas e Ohio, será sempre a descer. Resta saber quem ganha e quem perde com esta «estratégia», embora já haja um vencedor antecipado: John McCain.
25 de fevereiro de 2008
A questão levantada pelo provedor do Público na última crónica (ver aqui) não podia deixar de remeter-me para o meu post da última quinta. Onde dantes se lia «Os Estados Unidos ordenaram ao Governo da Sérvia que protegesse a Embaixada norte-americana em Belgrado», como então alertei, passou a ler-se «Os Estados Unidos exigiram ao Governo da Sérvia que protegesse a Embaixada norte-americana em Belgrado». Isto sem que tenha sido assinalada qualquer correcção ou dada uma explicação aos leitores, situação, no mínimo, deselegante.
21 de fevereiro de 2008
Abílio Fernandes, deputado do PC, pergunta no Público: «porquê a escolha para protagonista corrupto de um personagem que faz de presidente de câmara comunista?» Pergunta ainda o deputado: «será que um filme português para "fazer bilheteira" precisa de surpreender o espectador com uma situação absurda, insólita, ao arrepio da realidade?» Refere-se o ilustre ao filme Call Girl, de António-Pedro Vasconcelos, que terá cometido o «pecado» de que o acusa. Acontece que o sr. deputado, certamente por falta de prática lá no partido a que pertence, esqueceu-se de que o cineasta é livre de defender as posições que muito bem entender, mesmo as posições mais estapafúrdias, convenham ou não ao sr. deputado. Além disso, pretende o cavalheiro dizer que não há, no PC, autarcas corruptos? Se for verdade, dêem-me o cartão de militante que eu inscrevo-me já.
O «novo» slogan de Sócrates não é, apenas, uma frase copiada, ou mal copiada. O «novo» slogan de Sócrates é, sobretudo, uma frase mal representada. Enquanto o slogan de Obama é genuíno (ou, pelo menos, parece genuíno), o slogan de Sócrates soa ao que há de pior no teatro amador. Aliás, nada do que Sócrates diz soa a genuíno. Tudo parece demasiado ensaiado, demasiado forçado, demasiado previsível. Mesmo aquilo em que genuinamente acredita, isto partindo do princípio que genuinamente acredita em alguma coisa.
Onde é que o Público descobriu que os EUA «ordenaram» ao Governo sérvio que protegesse a Embaixada norte-americana em Belgrado?
20 de fevereiro de 2008
Alexandre Soares Silva sobre o talento e o génio: «A rigor pode-se dizer (bom, eu vou dizer) que o intelectual corresponde à faixa dos 16 aos 19 anos, o esteta dos 19 aos 25, e o hedonista dos 25 até a morte - se tudo der certo com a sua alma, pelo menos. E isso quer dizer que você deve ler os gênios dos 16 aos 19, os grandes mestres do estilo dos 19 aos 25, e que depois disso praticamente só vai querer ler Rex Stout até morrer.»
19 de fevereiro de 2008
Não vislumbrei o mais leve comentário ao facto de o juiz que tem em mãos o processo de Isaltino Morais ter sido alvo de um embargo e uma multa por parte do município de que Isaltino Morais é presidente. Não, não houve pressão sobre o juiz, garante Isaltino. Até porque, acrescenta, só há pouco tomou conhecimento de que o magistrado era seu munícipe, e — vejam lá! — titular do processo que contra ele corre em tribunal. Ele há coincidências, não há dúvida que há. Coincidências, no caso, um pouco estranhas, mas as coincidências são mesmo assim: nunca foram fáceis de explicar. (A notícia está aqui, mas presumo que só para assinantes.)
18 de fevereiro de 2008
Tem razão o presidente da Associação Nacional de Municípios em demonstrar «estupefacção» face às declarações do ministro do Ambiente, que responsabiliza as autarquias pelas cheias. Afinal, quem não sabe que a culpa foi da água?
O primeiro-ministro irritou-se porque a manifestação dos professores foi à porta do PS e não devia ter sido? E desde quando os cidadãos têm que distinguir José Sócrates primeiro-ministro de José Sócrates primeiro-ministro na qualidade de presidente do PS? O motivo da irritação é outro, bem sabemos. Convinha, por isso, que Sócrates não chutasse para canto.
15 de fevereiro de 2008
Está visto que ninguém, em Portugal, sabe nada sobre Timor. Ninguém, pelo menos, com acesso aos media, e para já não falar dos próprios media. Não era preciso, mas o programa televisivo que acabo de ver, onde dois analistas comentam a actualidade semanal, confirmou o que acabo de dizer. As «análises» sobre Timor foram de tal modo pobres que nem conseguiram disfarçar a ignorância mais básica.
«Mário de Sá-Carneiro procurou fugir ao equívoco, evitar o discurso à beira do coval para não ficar irmanado com os medíocres ilustres; mas os medíocres ilustres ou os seus procuradores vingaram-se. Em vez de romperem «aos saltos e aos pinotes», como ele tinha pedido, puseram gravata preta e enterraram-no em 30 linhas de texto a uma coluna na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Mais adiante, no talhão seguinte, letra D, ergue-se o retrato do dr. Júlio Dantas em canteiro de 155 linhas de prosa florida.» José Cardoso Pires, Diário de Lisboa de 7 de Abril de 1972
14 de fevereiro de 2008
O último Prós e Contras, que só ontem tive oportunidade de ver, teve o mérito de demonstrar que a Justiça portuguesa está pior do que se imaginava. Digo bem: pior do que se imaginava. Isto apesar de os protagonistas do debate terem sido, todos eles, juristas, o mesmo que dizer que muito ficou por dizer.
13 de fevereiro de 2008
A reacção da imprensa dinamarquesa face à notícia de que os serviços secretos daquele país capturaram três indivíduos que se preparavam para assassinar um dos autores das caricaturas de Maomé publicadas no diário Jyllands-Posten em Setembro de 2005 é um gesto que se saúda. Infelizmente, as consequências ficam-se pelo carácter simbólico, e só pelo carácter simbólico. Kurt Westergaard, o cartoonista que os meliantes queriam matar, explicou porquê mal soube da conspiração: «O impacto desta reacção enlouquecida irá durar o tempo que vou viver. É triste, mas tornou-se a minha condição de vida.» Perceberam? Evidentemente que só um louco repetirá semelhante «gracinha», apesar dos gestos bem-intencionados ou dos discursos grandiloquentes sobre a liberdade de expressão. Não, não é a minha opinião. É uma evidência que só não vê quem não quer.
11 de fevereiro de 2008
Muito comovente a intenção de Luís Filipe Menezes de não fazer «ataques de personalidade e carácter» ao primeiro-ministro por este ter acumulado, segundo o Público, actividades profissionais no sector privado com as funções de deputado do PS. Comovente, mas pouco convincente. Aliás, é muito estranho o comportamento de toda a Oposição sobre este caso. Será por causa dos telhados de vidro?
O PGR acredita que a simples instauração do Apito Dourado teve um feito de «moralização» do espectáculo desportivo, «independentemente do resultado» que venha a ser alcançado. Comparando as declarações do PGR com as declarações do director nacional da Judiciária sobre o processo McCann, que foram vistas como uma forma de Alípio Ribeiro preparar a opinião pública para o arquivamento do caso, terão as declarações de Pinto Monteiro a mesma intenção? Se têm, não era preciso incomodar-se. Afinal, quem não sabe como o caso vai terminar?
7 de fevereiro de 2008
Como ainda não são conhecidos os candidatos às Presidenciais dos EUA, não tenho maneira de saber em quem vou votar em Novembro. Sei, porém, uma coisa: não votarei nos Democráticos ou nos Republicanos, mas no candidato que me parecer mais capaz. Melhor: pelo rumo que as coisas estão a levar, votarei no que me parecer menos mau. E mais não digo, que os cenários estão sempre a mudar, e as análises sempre a errar.
Belmiro de Azevedo mete o nariz onde não deve? Não sei, nem me interessa. Face às notícias divulgadas pelo Público sobre o primeiro-ministro, a hipotética intromissão do proprietário em matéria editorial é, no caso, uma questão de somenos. O que importa é saber se os factos (repito: os factos) divulgados pelo Público são, ou não, verdadeiros. Essa é que é a questão. Os malabarismos que por aí vão podem criar uma cortina de fumo — mas não escondem o essencial.
6 de fevereiro de 2008
Evidentemente que isto é tudo menos uma crítica literária. Aliás, surpreende-me que haja quem se preste a estes papéis, e ainda mais quem lhes dê guarida. Surpreendeu-me, por exemplo, esta ordinarice publicada no DN, para a qual chamei a atenção em devido tempo e não vi o mais leve comentário.
Se a PSP se queixa da escassez de «espaços para fazer disparos», é legítimo concluir-se que os seus agentes não são capazes de dar um tiro? Pior: serão eles capazes de acertar, digamos, num alvo de um metro a três de distância? É que, se bem me lembro, a falta de pontaria já vem, pelo menos, do tempo de Eça de Queirós, que acusava os soldados portugueses de não a terem.
Não aprecio os métodos do bastonário dos advogados, como aqui já referi. Mas qual é o problema de José Miguel Júdice? Marinho Pinto pretende candidatar-se a Belém? E daí? Não pode? É só dor de corno, ou há mais alguma coisa?
5 de fevereiro de 2008
Então não querem ver que isso de o primeiro-ministro ter, no passado, assinado projectos que não lhe pertenciam e abichado uns quantos subsídios que não devia não tem importância? Os factos apurados pelo Público são, pelos vistos, irrelevantes — ou o respeitinho manda mais do que devia. Fosse o visado outro ou viessem estas notícias noutra ocasião, e teríamos sermão e missa cantada. O jornalismo, pelos vistos, tem dias. Quando não investiga, devia. Quando investiga, persegue. Não há pachorra.
4 de fevereiro de 2008
A propósito do nascimento de uma nova editora (as Edições Nelson de Matos) e da publicação de um inédito de Cardoso Pires (O Lavagante): que é feito do projecto que pretendia editar seis volumes de textos dispersos de Cardoso Pires e se ficou, até ver, pelo primeiro volume (Dispersos 1: Literatura)? A editora era a D. Quixote, e o editor era, precisamente, Nelson de Matos. Quererá ele explicar o que se passou e dizer se tem planos para editar o restante?
«Isto de os advogados, enquanto classe profissional, aparecerem a pretender liderar o discurso contra a corrupção é um tanto bizarro. E só se explica porque quem ganhou as eleições para bastonário não foi exactamente o causídico Marinho Pinto, mas António Marinho, o comentador de Justiça na TV - que, aliás, acumulou durante anos o jornalismo e o foro, profissões bem difíceis de compatibilizar no plano dos respectivos códigos éticos.» Fernando Madrinha, Expresso
1 de fevereiro de 2008
O episódio da licenciatura do primeiro-ministro tem demasiados contornos rocambolescos para se duvidar que esteja bem contado. Não admira, por isso, que continuem a surgir situações pouco abonatórias do seu carácter, como a que hoje anuncia o Público. Não sei se é ilegal o facto de José Sócrates assumir a autoria de trabalhos que, aparentemente, não lhe pertencem, e no plano moral, sabendo-se do consentimento dos seus autores, ainda tenho mais dúvidas. Já no plano ético, e considerando o que dizem os técnicos ouvidos pelo Público, tenho menos dúvidas — ou dúvidas de outra natureza. Pode ser que isto seja um mero «ataque pessoal e político» à pessoa do primeiro-ministro, como garante José Sócrates. Só que, independentemente de opiniões e intenções, factos são factos, e a reportagem do Público está cheia deles. Convinha, portanto, começar por desmenti-los, pois só assim se fundamenta a tese do «ataque pessoal e político».
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