31 de março de 2008
MENTIRAS & IGNORÂNCIA. Há muito que Miguel Sousa Tavares demonstrou ter um problema com os factos. Falando, no Expresso, sobre o Iraque, e fazendo questão de salientar que se reportava, apenas, aos factos, MST escreveu que a invasão se deveu a «pretextos inventados» pela administração Bush. Ou seja, MST usou a sua opinião como se de um facto se tratasse, modalidade que, é bom recordar, se fartou de praticar aquando da invasão do Iraque. Mas a seguir veio o mais extraordinário. Segundo ele, qualquer pessoa com «serenidade de espírito» percebe que a invasão do Iraque foi uma «operação de manipulação montada por Bush», pois é sabido que a opinião pública americana se move por «raciocínios maniqueístas primários» e sofre de «patriotismo idiota» — além de Bush ser um «falhado em tudo», evidentemente. Como se vê, o «raciocínio» é esmagador. Esmagador não propriamente pela contundência dos argumentos, mas pela ignorância em que assentam.
28 de março de 2008
O VÍDEO. Dei uma volta pelos principais sites de notícias mal soube que o vídeo do deputado holandês tinha sido colocado na internet e verifiquei, sem surpresa, que não havia qualquer referência na CNN e na FOX. Não me surpreendeu, também, que a notícia tenha sido retirada do portal Terra, onde reapareceu muito depois reformulada e com novo título. (Apercebi-me graças ao Google Reader, que me anunciou a notícia que, depois, não apareceu.) Não me surpreendeu, por último, que o Daniel tenha dito que o vídeo é «propaganda racista», que nada tem a ver com a realidade. Mas já me surpreendeu que, várias horas depois, ainda não houvesse qualquer referência na CNN. O mais extraordinário é que o vídeo, ao contrário do que diz o Daniel, não contém nada que já não tenha sido dito, nem mostra nada que já não tenha sido visto. Afinal, o vídeo é uma colagem de imagens que passaram em todo o lado, e já toda a gente viu. Aliás, era capaz de apostar que o vídeo passaria sem ondas caso tivesse sido posto na internet por alguém ligado a um partido moderado, de esquerda ou de direita, como muito bem poderia ter sucedido. Como não foi assim, as reacções de desagrado foram mais drásticas — e muito mais numerosas. É por estas e por outras que os partidos radicais ganham terreno e adeptos.
27 de março de 2008
CRIME E CASTIGO. Sem dúvida que a violência nas escolas é uma questão complexa, e resultará de motivos ainda mais complexos. Mas a violência em Nova Iorque também era complexa e resultava de motivos ainda mais complexos antes de entrar em vigor a «tolerância zero», que hoje todos aplaudem e alguns puseram em prática. Não é assim? Por que não se copiam os modelos com provas dadas em vez de andarmos a discutir o sexo dos anjos anos a fio? É óbvio que um aluno que na sala de aula não se porta como deve não necessita de apoio psicológico ou «mediadores de conflitos», mas de castigo. Qualquer «desequilibrado» ou candidato a arruaceiro se converte às boas práticas caso seja punido, na hora, pelos erros que cometer. Teorizem o que quiserem e digam o que quiserem: é uma evidência que só não vê quem não quer. Naturalmente que há excepções, mas excepções são isso mesmo: excepções. Não queiram, por isso, transformar em regra o que não é regra, deixando que a questão continue a arrastar-se por discussões intermináveis e sempre inconclusivas.
25 de março de 2008
QUATRO PINÓQUIOS. A história de Hillary Clinton na Bósnia era, de facto, interessante. Isto, claro, se fosse verdadeira. Como não é, como a própria já admitiu, tornou-se interessante... mas por outros motivos. Claro que o episódio bósnio, no qual a ex-primeira-dama começou por dizer que foi recebida debaixo de fogo e acabou a admitir que não foi bem assim, se presta a lapsos de memória. Afinal, argumentam alguns, a coisa passou-se há mais de uma década, e qualquer um já não se lembraria se foi recebido com beijinhos e abraços, ou num ambiente de tiroteio. O Washington Post não pensa assim, e atribui a este episódio quatro pinóquios numa escala com um máximo de quatro. Estava a brincar, claro. Se fosse a sério, certamente que recomendaria à senadora de Nova Iorque que fizesse o que faria qualquer pessoa de bem com um pingo de vergonha na cara: pedir desculpa ao povo americano, e afastar-se da corrida presidencial.
24 de março de 2008
HOMOFOBIA. Nada contra o projecto do Bloco que pretende instituir, em Portugal, o Dia Mundial de Luta contra a Homofobia, embora me pareça que os dias mundiais pouco ou nada acrescentam às causas para as quais são criados — e, às vezes, os excessos que se praticam nesses dias mundiais acabam por provocar o contrário do que se pretende. Mas confesso que já dei para a «causa homofóbica». Aliás, por este andar ainda vamos precisar de um Dia Mundial dos Heterossexuais, que eu só não defendo pelas razões que apontei. É que eu já vi heterossexuais discriminados pelo facto de serem heterossexuais, e não julguem que estou a brincar.
ALFARRABISTAS. Passei parte da manhã do último sábado enfiado num alfarrabista, onde entrei pela segunda vez e me voltei a surpreender com a dimensão. Saí de lá com Last Evenings on Earth, The Savage Detectives e Distant Star, de Roberto Bolaño, Tales of the Alhambra, de Washington Irving, e A Journey Around my Room, de Xavier de Maistre. Recordo-me que da primeira vez que lá estive comprei Traveling on the Edge: Journeys in the Footsteps of Graham Greene, de Julia Llewellyn Smith, mais seduzido pelo preço que por outra coisa. Lidas meia dúzia de páginas, descobri que o livro era melhor que a encomenda. Tal como, agora, The Savage Detectives (Os Detectives Selvagens, na tradução portuguesa), do chileno Roberto Bolaño, de quem nunca tinha lido um parágrafo. Para os eventuais interessados, o alfarrabista de que falo tem morada virtual. O melhor, contudo, é mesmo uma visita de facto, pois nada dispensa uma visita de facto. Trata-se de uma espécie de Strand sem as mais recentes novidades (ou com muito menos novidades), e só não é tão falada por não se localizar em Manhattan.
21 de março de 2008
MODAS. Estou a ver que isto de criticar a condenação de jornalistas (ou cronistas) por «delito de opinião» tem dias — ou é de modas. É que, ao contrário do caso Daniel Oliveira, que foi condenado a pagar uma indemnização a Alberto João Jardim por lhe ter chamado «palhaço», não me lembro de ter visto, na blogosfera (ou fora dela), quem se indignasse pelo facto de Baptista-Bastos ter sido processado pelo mesmo Alberto João Jardim por causa de uma crónica, como então aqui (e aqui) chamei a atenção. Bem sei que o tribunal ainda nada decidiu, mas quer-me parecer que o simples processo merecia, por si só, indignação, nomeadamente dos jornalistas que andam pela blogosfera.
RACISMO. Como seria de esperar, a campanha presidencial do Partido Democrático começa a descambar para o racismo. Essencialmente por duas razões: o racismo está bem vivo na sociedade americana, e porque o racismo vai pesar na balança caso seja agitado. Obama está a ter uma excelente performance graças aos votos dos pretos? Também. Mas os números demonstram que não só graças aos pretos, e nem são precisos números para demonstrar tamanha evidência. Agitar a bandeira do racismo, fazendo crer que Obama é o candidato dos pretos e suas causas, tem um claro prejudicado: o senador do Illinois, pois os votos dos pretos não chegam para o eleger. Pior: a questão do racismo corre o risco de atingir níveis perigosos.
19 de março de 2008
TEORIAS DA TRETA. Poucas semanas após Barra da Costa ter dado à estampa Maddie, Joana e a Investigação Criminal - A Verdade Escondida, onde defende que os desaparecimentos de crianças em geral e de Maddie em particular mais não são do que manobras promovidas pelos «abutres do sistema» destinadas ao «controlo da população» e cuja referência que então fiz neste post me valeu promessas de bordoada, chegou a vez de Paulo Cristóvão publicar A Estrela de Madeleine - Onde, Quando, Como, Quem, O Quê e Porquê, onde defende, segundo o DN, que o corpo da criança inglesa terá sido ocultado no «mar imenso que lhes enche o horizonte». O extraordinário da coisa é que Paulo Cristóvão foi agente da PJ, tal como Barra da Costa, e de ex-agentes da PJ não se esperariam teorias da conspiração ou conclusões de taberna. Até porque, há que notar, a polícia a que pertenceram não fica nada bem no retrato, já que os cavalheiros levantam a questão de saber se o grosso da PJ pensa da mesma maneira, ou se estamos perante casos isolados. É que, por aquilo que se tem visto, a PJ é exímia em «resolver» casos difíceis nos jornais e nos livros, evidentemente que por interpostas pessoas. Já na vida real, e também por aquilo que se tem visto, os resultados são mais modestos. (A propósito: Moita Flores, que nos jornais se fartou de defender uma conspiração no caso Maddie, tem andado muito calado. Por que será?)
IRAQUE. A administração americana não invadiu o Iraque por causa das armas de destruição maciça, como ouvi no Telejornal. A administração americana invadiu o Iraque por um conjunto de motivos, entre eles a suspeita da existência de armas de destruição maciça. Independentemente das razões que cada um tenha para condenar (ou apoiar) a invasão do Iraque, seria bom que não se omitissem os factos. Isto, claro, partindo do princípio que é de uma omissão (inocente) que se trata, o que não é o caso.
HOLOCAUSTO. Provavelmente há mais qualquer coisa por trás da atitude de Angela Merkel (cada vez desconfio mais da bondade dos políticos), mas seguramente que não retira importância ao facto de a chanceler alemã ter manifestado, no Parlamento israelita, o apoio de Berlim ao Estado hebraico, e ter dito, no mesmo local, que «a memória do Holocausto enche a Alemanha de vergonha». Importante, também, a chamada de atenção para a questão nuclear iraniana, sobre a qual se tem vindo a abater um estranho silêncio.
17 de março de 2008
ALDRABICES. Os radicais muçulmanos estão dispostos a matar-nos em nome das suas crenças, e a culpa é do Ocidente (ou dos americanos, consoante as versões). Um deputado holandês resolve dizer uns disparates contra os muçulmanos que vivem no seu país, e é uma provocação inadmissível. Assim pensa o Daniel Oliveira, assim diz, no Expresso, o Daniel Oliveira. Aliás, o sujeito é exímio a denunciar o que lhe interessa, e a esconder o que não lhe interessa. Escondeu, por exemplo, e só para citar um caso recente, que o ex-governador de Nova Iorque gostava de pregar a moral e os bons costumes, detalhe que faz toda a diferença e explica a demissão. Como se vê com (mais) este caso, os factos não interessam quando não se encaixam numa ideia pré-concebida. Ou, doutra maneira, a verdade é irrelevante quando estraga uma teoria.
TEATRO AMADOR. Não duvido que os peritos tenham razão quando dizem que os políticos beneficiam com as «entrevistas pessoais», ou lá como lhe chamam. Afinal, sempre são especialistas na matéria, e não me passa pela cabeça que as suas teses não assentem em factos. Mas que foi penoso assistir à entrevista de Sócrates à SIC (não vi a de Menezes), lá isso foi. Penoso porque se esperaria que uma entrevista do género resultasse mais descontraída e menos formal, e o que se viu não foi nada disso. O que se viu foi Sócrates tão ou mais tenso que numa entrevista «normal», e tão ou mais formal que numa entrevista «normal». Ao contrário do que se pretendia, o que se esperaria espontâneo soou a (mal) ensaiado e pessimamente representado. Resta saber se a coisa surtiu o efeito desejado.
MENEZES. «Depois de ministro a mais, temos agora ministra a menos», diz o líder da Oposição a propósito da nova ministra da Saúde. O que se nota, e cada vez mais, é um défice de oposição ao Governo, pelo menos oposição digna desse nome. Pior: não se vislumbra alternativa ao actual Governo, como o próprio Menezes admite. Bem pode, portanto, o líder social-democrata culpar os «barões» e os «críticos» pelo que vai mal no partido que lidera que o primeiro culpado é ele, e só ele. Um líder que diz uma coisa num dia e outra no dia seguinte, que navega ao sabor da maré e anuncia propostas que uma semana depois já ninguém se lembra, só pode queixar-se de si próprio — além de ser previsível que acabe mal e deixe o partido ainda pior. Não, não é fácil fazer pior, mas Menezes ameaça fazê-lo: ameaça deixar o partido em cacos, e não creio que estou a exagerar.
14 de março de 2008
ERROS E MAIS ERROS. O comentário de Geraldine Ferraro acerca de Obama só podia acabar como acabou. Atribuir a performance do senador do Illinois à circunstância de ele ser preto é um facto? Geraldine acha que sim. Ora, um facto como? Cabe na cabeça de alguém que Obama chegou onde chegou apenas com os votos dos pretos? Desde quando, como bem disse o pré-candidato, ser preto é um trunfo? Mas há mais: a ex-candidata a vice de Mondale acha que Hillary tem um problema por ser mulher. E porquê? Infelizmente, não explicou. Se explicasse, relembraria aos mais distraídos que a ex-primeira-dama sempre apostou no facto de ser mulher, certamente porque considerou um trunfo o facto de ser mulher. Ser mulher, portanto, sempre foi visto como uma mais-valia, nunca como um obstáculo. Isto à luz das teorias de Geraldine e companhia, a meu ver erradas. Hillary devia ter apostado, apenas, no que considera serem as suas qualidades, nunca no facto de ser mulher. Ser mulher não é, por si só, um bem ou um mal, e se é provável que alguns votarão nela pelo facto de ser mulher, outros não votarão pelo mesmo motivo. Razão tem Obama em nunca usar a cor da pele para se afirmar ou se vitimar. É que está em jogo muito mais que o sexo ou a cor da pele, por mais que haja quem escolha (ou rejeite) por esse motivo.
12 de março de 2008
LÓGICA DA BATATA. Isto é de uma pobreza intelectual que até mete dó. Então o comportamento do governador de Nova Iorque que acaba de se demitir é comparável ao desempenho de Bush? Só mesmo na cabecinha do Daniel Oliveira. Aliás, como este post demonstra, o Daniel tem uma lógica muito sua. Como há uma enorme «desproporção de vítimas» no conflito israelo-palestiniano, diz ele, as vítimas de um lado têm mais razão que as vítimas do outro — ou têm a razão que as outras não têm. Brilhante, não há dúvida. Tão brilhante que chega a encandear, provavelmente o que sucedeu ao Daniel.
PROFESSORES. Concordo com quase tudo o que diz o Francisco sobre a «guerra» entre o Ministério da Educação e os professores. Mas o meu ponto é que os professores também são culpados pelo que não vai bem no ensino, nomeadamente por causa da avaliação. Foi isso o que procurei dizer no texto acabadinho de colocar aqui.
11 de março de 2008
TIRO NO PÉ. O modo como Hillary Clinton considerou a possibilidade de Obama vir a ser o seu número dois demonstrou, de novo, que a ex-primeira-dama continua a tratar o seu adversário nas primárias com uma sobranceria que lhe pode sair cara. Apesar de os números há muito demonstrarem que Obama tem todas as hipóteses de bater a concorrente, Hillary insiste em agir como se a nomeação lhe pertencesse por direito divino, e que a candidatura do senador do Illinois não passa de um empecilho de que, a prazo, há-de livrar-se. Como seria de esperar, o presente envenenado com que tentou brindar o seu adversário acabou por se revelar um tiro no pé — e teve a resposta que merecia.
7 de março de 2008
MISÉRIAS. A ONU não perde uma oportunidade de expor as suas misérias. Condenar o atentado em Jerusalém? Sim, desde que a condenação inclua a incursão militar de Israel na faixa de Gaza. Como se vê, a lógica é esmagadora. Condenar os ataques do 11 de Setembro? Sim, desde que se condene a guerra do Vietname. Condenar os atentados no metro de Madrid? Sim, desde que se condene a participação da Espanha na guerra do Iraque. E por aí fora, que a lógica de não querer condenar uma coisa sem condenar a outra acaba a não condenar uma coisa, nem outra.
INTIMIDAÇÃO. Li a notícia em vários locais, mas nenhuma explicou um dado essencial. É, ou não, normal que a PSP vá às escolas recolher informação sobre a manif de amanhã? É que eu suspeito que a omissão deste detalhe não foi inocente, pois sem ele é mais fácil concluir que o Governo, através da PSP, pretende intimidar os professores, e nunca, mas nunca, concluir que se tratou de um procedimento que permita à polícia planear a segurança e/ou o trânsito, hipótese que em teoria é tão boa como a outra. E eu, confesso, duvido da tese da intimidação, por mais razões que tenha para não gostar deste Governo. Aliás, quem ganharia com a intimidação? Evidentemente que a causa de quem se manifesta, que logo poria a boca no trombone (como pôs) a denunciar o expediente e, de caminho, aproveitaria para facturar.
CONSPIRAÇÃO. Barra da Costa, «antropologistacriminologista» (foi assim que o DN o designou), revelou ao mesmo DN que o livro que acaba de publicar (Maddie, Joana e a Investigação Criminal - A Verdade Escondida) tem como objectivo «desconstruir uma aposta sistemática no clima de medo» que diz «pairar sobre as pessoas». Segundo ele, o caso Maddie em particular e os desaparecimentos de crianças em geral não passam de manobras promovidas pelos «abutres do sistema» com vista ao «controlo da população com base no terror dissimulado». O mais espantoso de tudo é que Barra da Costa, ainda segundo o DN, integrou a polícia criminal durante 30 anos. Já a publicação da Verdade Escondida, não espanta rigorosamente nada. Afinal, vender banha da cobra aos incautos é uma actividade que se pratica desde tempos imemoriais, e com resultados comprovados.
5 de março de 2008
PROFESSORES. É fácil e barato atribuir aos governos os fracassos desta ou daquela área da governação, nomeadamente os fracassos resultantes das reformas (ou falta delas), até porque razões são coisa que mais há. Mas é preciso que se diga que os fracassos se devem, sobretudo, à resistência dos abrangidos pelas reformas, por regra avessos a mudanças e prejudicados com as mudanças. Não se podem fazer reformas no ensino que vão contra os professores? Era só o que faltava. As reformas no ensino têm (ou devem ter) como fim último a melhoria do ensino e do aluno. Se implicarem mudanças dolorosas, que impliquem. Vem nos livros que o bem-estar de uns quantos não pode sobrepor-se ao bem geral. Claro que as reformas devem ser feitas com os professores, não contra os professores. Mas contra os professores, se for necessário. Claro que os professores se preocupam com a qualidade do ensino, e ninguém duvida que o queiram melhorar. Mas a prática vem demonstrando que os professores são o principal obstáculo à mudança que as reformas implicam. Nada me move contra os professores, atenção. Mas já me chateia que queiram ser eles (ou os seus representantes) a ditar as regras do que deve ser feito e como deve ser feito. Chateia-me que sejam eles a impedir reformas que todos consideram essenciais, pois eles são parte interessada — e ninguém é bom juiz em causa própria. Chateia-me que os professores se movimentem como se não fossem, também, culpados pelo que vai mal no ensino. Chateia-me que os problemas do ensino se circunscrevam aos problemas dos professores, por mais razões que eles tenham, e por mais legitimidade que lhes assista para lutar pela sua resolução. Chateia-me que o politicamente correcto impeça que se diga, com frontalidade e clareza, que as reformas no ensino passam por atingir os professores, ou parte substancial dos professores, pois ninguém acredita em reformas no ensino que não atinjam os professores. Chateia-me, por último, que não se veja que o fim único das reformas na Educação é (ou deve ser) os alunos e a qualidade do que aprendem, não os professores. A reforma do ensino é um imperativo nacional, garantem políticos e educadores. Deve, por isso, ser feita o mais rapidamente possível, custe o que custar e a quem custar. Se for necessário passar por cima dos professores, que se passe por cima dos professores. Afinal, os professores não são intocáveis, e a Educação é muito mais que os problemas dos professores.
Que o PSD «ainda não merece ser Governo», é uma evidência que só não vê quem não quer. Mas que seja o próprio líder social-democrata a admiti-lo, não deixa de ser irónico. Irónico, mas pouco sério. Afinal, Menezes, ao dizer que «não é uma autocrítica em termos pessoais» mas «uma autocrítica em termos institucionais», afasta quaisquer culpas próprias. Pior: como não bastasse, resolveu, ainda, dar lições de humildade. Ora, a única maneira de as lições de humildade surtirem algum efeito é começar-se por praticar o que se prega.
4 de março de 2008
Como esta notícia demonstra, não há-de faltar muito para que possamos ter acesso à ficha clínica uns dos outros. Aliás, a forma como a notícia foi dada é já um indício, um péssimo indício. É que o leitor que se limite a avaliar os exemplos lá apontados concluirá que se trata de coisa boa, pois só os aspectos positivos são mencionados.
Se as FARC são uma organização terrorista que luta contra o governo do seu país, é normal que Equador e Venezuela possuam, nos seus territórios, bases das FARC? A avaliar pelo que se vai vendo, parece que é. Anormal, garantem, é o ataque colombiano a uma base de guerrilheiros no Equador. Anormal e, claro, um atentado à soberania equatoriana. Já a existência de bases terroristas no Equador ou na Venezuela, dando guarida a quem atenta contra um país soberano, é coisa normal. O relativismo é assim mesmo: quando abre um olho, fecha o outro.
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