25 de fevereiro de 2010
SÓ PARA CHATEAR. Porque me apetece chatear os detractores dos e-books (poucos, mas bons), damas e cavalheiros: acaba de me chegar o nook, a minha quarta maquineta do género. Transferidos os livros do modelo anterior (a primeira versão do Sony Reader), inaugurei a novíssima coisa com O Vinho do Porto, de Camilo (do outro também tenho ali), um texto que descobri na internet que provavelmente nunca leria caso não fosse a dita, e que não me passa pela cabeça ler no écran do computador. Tem defeitos, a geringonça? Alguns que eu já conhecia e outros que vou detectando, embora a compra signifique que as vantagens superam os defeitos, pois resultou de uma análise dos prós e dos contras, e da comparação com a concorrência. O écran táctil é uma miragem (só funciona numa pequena área), a luz embutida continua ausente, e quer-me parecer que a bateria não aguenta o que se propagandeia. Estes são, para mim, os defeitos, estranhamente por corrigir desde os primeiros modelos, que já possuíam estas características. O resto é excelente, a começar pelo écran, realmente muito bom. A possibilidade de adquirir instantaneamente um dos milhares de títulos ao alcance de um download não me seduz, e duvido que algum dia me seduzirá. Prefiro o papel se os títulos estiverem disponíveis em papel, mesmo que isso signifique pagar mais. O e-book é um complemento dos livros em papel, não um substituto dos livros em papel. Pelas razões que já expliquei até à exaustão, e não vou repetir.
24 de fevereiro de 2010
O MEU NOME É JOMBA. Uma limpeza no computador permitiu-se descobrir uma pérola que eu julgava perdida. Ora ouçam lá.
23 de fevereiro de 2010
NOBRE, MAS POUCO. Como cidadão e médico, Fernando Nobre tem um percurso notável. Já como político, tudo o que dele se sabe é que participou numa convenção do PSD, integrou a comissão política da candidatura de Soares à Presidência da República, foi mandatário nacional do Bloco nas eleições europeias, e membro da Comissão de Honra do candidato social-democrata à Câmara de Cascais. Resumindo, não tem currículo político, e eu não acredito que a ausência de currículo político seja, como alguns dizem, uma mais-valia. Dizem as más-línguas que a candidatura do presidente da AMI terá sido «estimulada» por Mário Soares, que verá nela uma pequena vingança sobre o ex-companheiro Alegre, que há quatro anos lhe impôs uma derrota humilhante. Embora Soares já tenha dito que votará no candidato que o PS designar, poderá ser. Uma coisa, porém, convém recordar: Fernando Nobre acha que os membros do Hamas que lançam rockets contra Israel não são terroristas mas «resistentes» (ver aqui), facto que ainda não vi mencionado nas biografias que por aí se têm publicado. Um pequeno detalhe, bem sei, mas um pequeno detalhe que é todo um programa.
22 de fevereiro de 2010
A FORÇA DO HÁBITO. Como o João Gonçalves, também acho deplorável que Alberto João Jardim «tivesse pedido aos jornalistas que evitassem "especulações" e "dramatizações"» para não prejudicar o turismo. Mas é preciso não esquecer que Alberto João Jardim está demasiado habituado a mandar nos jornais e nos jornalistas, pelo que o gesto de pedir é já um progresso.
18 de fevereiro de 2010
TELHADOS DE VIDRO. Já se percebeu que as audições parlamentares dos jornalistas sobre as alegadas tentativas de Sócrates controlar os media não vão surtir o efeito desejado. Nem para os que pretendem que elas vão num determinado sentido, nem para os que pretendem o contrário. Numa coisa, porém, podem dar resultados: é bem capaz de lá surgirem episódios que não abonem os jornalistas, como este bem o demonstra. Não que isso seja mau em si mesmo ou que não tenha o seu interesse, nalguns casos até seria do interesse público, mas porque isso seria um caso em que a emenda seria pior que o soneto.
17 de fevereiro de 2010
O INCRÍVEL PAÍS DA MINHA TIA (2). Como não bastasse o escarcéu com um caso em que não se vislumbra onde está a notícia, o circo saiu à rua.
ESCREVER BEM. Um belo texto que só agora descobri, e que devia ser lido com atenção por todos quantos fazem da escrita uma actividade permanente.
16 de fevereiro de 2010
O INCRÍVEL PAÍS DA MINHA TIA (1)(*). Constança Cunha e Sá no CM de hoje: «E assim chegamos ao fundo de um poço que parece não ter fundo: o primeiro-ministro não tem condições para governar; a Oposição não tem condições para ir a eleições; o Presidente da República não tem condições para demitir o primeiro-ministro. E o país assiste, estupefacto, à crescente degradação do regime sem que ninguém tenha condições para travar a hecatombe que por aí se avizinha.»
(*) Título roubado a Alexandre O’Neill
(*) Título roubado a Alexandre O’Neill
15 de fevereiro de 2010
VENTOS DE MUDANÇA. Mantenho o que disse sobre o que se tem dito do primeiro-ministro acerca das escutas e doutras trapalhadas (continuo a discordar dos pressupostos em que assentaram a generalidade das críticas), mas não há dúvida de que começam a ser demasiados os casos em que o nome do primeiro-ministro aparece envolvido. Como dizia o Francisco num programa de televisão, cada vez que se arrasta uma cómoda (não me lembro se foi exactamente assim que ele disse, mas o sentido era este), lá está o primeiro-ministro. Não há, até ver, matéria criminal, mas o mesmo já não se pode dizer quanto a matéria política, que chega e sobeja. Não será por acaso que nos últimos dias surgiram dois candidatos à liderança do PSD depois de tantos meses em que Passos Coelho não teve concorrência. Cheira a poder no PSD, não há dúvida que cheira, pois é cada vez mais improvável que o PS reforce a votação caso haja eleições antecipadas, e nem me admiraria que as perdesse.
11 de fevereiro de 2010
DEMAGOGIA ASFIXIANTE. Apesar de não resistir aos factos, que insistem em contradizê-la, a teoria da «asfixia democrática» vai de vento em popa. Raramente passa uma semana sem que Eduardo Cintra Torres, Pedro Lomba, José Manuel Fernandes, Helena Matos, Pacheco Pereira, Vasco Pulido Valente, Rui Ramos, Constança Cunha e Sá, João Pereira Coutinho, João Miguel Tavares, Alberto Gonçalves, Baptista-Bastos, Vasco Graça Moura, Henrique Monteiro, Paulo Tunhas, Jaime Nogueira Pinto, Henrique Raposo e muitos outros não caiam em cima do Governo, com razão e sem ela, em publicações tão distintas como o Público, o DN, o Correio da Manhã, a Sábado, o Sol, o i, o Expresso ou o Jornal de Negócios — e só para falar da imprensa e dos nomes sonantes que nela colaboram. Seria isso possível caso vivêssemos num clima de «asfixia democrática»? Já disse e repeti que não alinho em patranhas — por mais jeito que me dêem, por mais que reforcem a minha causa, por mais que derrubem quem não merece estar de pé. Mentiras são mentiras, e eu não considero que as mentiras se desculpam quando usadas contra quem não simpatizo. Desconfio, aliás, que produzem o efeito contrário ao que pretendem, e estou mesmo convencido de que não sou só eu que me inclino a simpatizar com quem é vítima da mentira — e por várias vezes saí em defesa de quem discordo por considerar ignóbil tal prática. Desculpem lá a maçada, mas eu não duvido que existe liberdade de expressão, pelo menos a liberdade de expressão que se diz estar em causa, como também não duvido que a «asfixia democrática» é uma belíssima treta. O Governo está disposto a fazer o que estiver ao seu alcance para controlar os media e/ou afastar quem o incomoda? Poderá ser, mas eu duvido. Duvido porque isso seria uma estupidez, e estúpido é coisa que Sócrates não é. Mas concedo o benefício da dúvida, que aqui passamos dos factos para as opiniões — e cada um é livre de pensar o que muito bem lhe apetecer. Já os factos são o que são — e é sabido que os factos não se discutem.
COISAS SIMPLES. Cada vez tenho mais dificuldade em julgar as imagens que me chegam de cenários de guerra, terramotos e coisas afins. (Continue a ler aqui.)
9 de fevereiro de 2010
5 de fevereiro de 2010
REVOLTANTE. Independentemente de quem prejudica ou beneficia, a justiça portuguesa começa a causar-me vómitos. Como um cavalheiro com responsabilidades no sector há pouco dizia num programa de televisão, as fugas ao segredo de justiça podem não vir, apenas, dos juízes, advogados ou polícias. O cavalheiro lembrava, com ar de quem acreditava no que estava a dizer, que as fugas ao segredo de justiça podiam vir da menina das fotocópias, da senhora da limpeza ou do contínuo, como se todos nós que o estivéssemos a ouvir fossemos uma cambada de estúpidos. O mais revoltante é constatar que estes sujeitos são intocáveis, digam o que disserem, façam o que fizerem.
CALHANDRICES. Como diria um político que se preze, aguardo pormenores do «caso Mário Crespo» para eventualmente me pronunciar. Valeu, no entanto, a calhandrice, uma bela palavra que terá sido pronunciada por um membro do Governo (Santos Silva, ao que me dizem) com o intuito de reduzir «o problema a resolver» à insignificância, e que eu, na minha santa ignorância, desconhecia. Quanto ao essencial, o insuspeito Vasco Pulido Valente já disse o que havia a dizer. O resto são pormenores, os tais pormenores que eu desconheço, mas que dificilmente mudarão o essencial.
4 de fevereiro de 2010
FEMINISTAS. De facto, o silêncio das feministas diante a obrigatoriedade das muçulmanas usarem burqa ou nikab, mesmo em países cujos regimes não os exigem (os europeus, por exemplo), é incompreensível. Isto, claro, em teoria, que a prática nos foi habituando a ver as coisas doutra maneira. As feministas sempre se distinguiram por uma particularidade: a opressão sobre as mulheres varia consoante quem as oprime, e para as feministas há opressores que merecem benevolência. Que o macho lusitano bata na fêmea porque a tradição não se muda por decreto, é inadmissível, e eu concordo. Mas que os regimes muçulmanos imponham às suas mulheres práticas destas ou ainda piores, fazendo delas meras escravas sem quaisquer direitos, não incomoda as feministas — e se alguém faz algum reparo logo vêm lembrar que é a cultura deles, que é preciso respeitar, mesmo que a opressão ocorra numa comunidade residente num país que abomine (e proíba) tais práticas. E quem não concordar com as feministas sofre, evidentemente, de islamofobia, um atestado que hoje se passa por tudo e por nada e que tudo reduz e simplifica, e que mais não é do que uma forma de varrer para debaixo do tapete um assunto que, desconfio, as incomoda, apesar de aparentarem o contrário.
2 de fevereiro de 2010
LI E GOSTEI (12)
Há trinta e cinco anos que um bretão anónimo lavrou na Westminster Review a condenação do vinho do Porto como deletério e empeçonhado por acetato de chumbo e outros tóxicos anglicistas. O homem, pelas rábidas violências do estilo, parece ter redigido a calúnia depois de jantar, numa exaltação capitosa do tanino do alvarilhão que ele confundiu com as aflições dos venenos metálicos. Relembra lamentosamente, com a lágrima das bebedeiras ternas, o século dezoito, em que o genuíno licor do Porto era um repuxo de vida que irrigara a preciosa existência de grandes personagens da Grã-Bretanha. Recorda Pitt e Dundas, Sheridan e Fox, famigerados absorventes do nosso vinho. Diz que Lord Eldon e Lord Stowel, graças infinitas ao Porto, reverdejaram e floriram em velhos; e Sir William Grant, já decrépito, bebia duas garrafas de Porto a cada repasto, para conservar cristalinamente a limpidez das suas faculdades mentais e a rija musculatura de todos os seus membros já locomotores, já apreensores, e o resto. Lamenta que Pitt, débil de compleição, com o uso imoderado deste tónico, e em resultado de pletoras frequentes combatidas com amoníaco e sulfato de magnésio, vivesse dez anos menos do que viveria, se possuísse o incombustível estômago curtido do venerável Lord Dundas.
Camilo Castelo Branco, O vinho do Porto (actualizada a grafia)
Há trinta e cinco anos que um bretão anónimo lavrou na Westminster Review a condenação do vinho do Porto como deletério e empeçonhado por acetato de chumbo e outros tóxicos anglicistas. O homem, pelas rábidas violências do estilo, parece ter redigido a calúnia depois de jantar, numa exaltação capitosa do tanino do alvarilhão que ele confundiu com as aflições dos venenos metálicos. Relembra lamentosamente, com a lágrima das bebedeiras ternas, o século dezoito, em que o genuíno licor do Porto era um repuxo de vida que irrigara a preciosa existência de grandes personagens da Grã-Bretanha. Recorda Pitt e Dundas, Sheridan e Fox, famigerados absorventes do nosso vinho. Diz que Lord Eldon e Lord Stowel, graças infinitas ao Porto, reverdejaram e floriram em velhos; e Sir William Grant, já decrépito, bebia duas garrafas de Porto a cada repasto, para conservar cristalinamente a limpidez das suas faculdades mentais e a rija musculatura de todos os seus membros já locomotores, já apreensores, e o resto. Lamenta que Pitt, débil de compleição, com o uso imoderado deste tónico, e em resultado de pletoras frequentes combatidas com amoníaco e sulfato de magnésio, vivesse dez anos menos do que viveria, se possuísse o incombustível estômago curtido do venerável Lord Dundas.
Camilo Castelo Branco, O vinho do Porto (actualizada a grafia)
1 de fevereiro de 2010
DAS BOAS INTENÇÕES. Como já disse a propósito doutros casos, considero as medidas como esta uma estupidez sem nome. Pior: considero-as uma estupidez perigosa, pois tratam-se de medidas que só reforçam o que pretendem condenar. Como disse, e bem, Helena Matos, «o paternalismo folclórico da fase multicultural vai agora dar lugar ao paternalismo jacobino da fase nacional». De facto, passar do oito ao oitenta, complica em vez de resolver. O islamismo radical não pára, como se vê, de receber apoios, mesmo que involuntariamente. Lamentável e ironicamente, de quem mais os pretende combater.
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