30 de setembro de 2003
Fazendo uso de um estilo trauliteiro, às vezes a roçar o grosseiro, o dr. Alfredo Barroso continua, no "Expresso", a fazer juízos de valor com uma ligeireza impressionante. Pior só quando tenta ser engraçado, e invariavelmente não consegue. Ou quando faz descobertas como esta: no tempo de Saddam «não havia [no Iraque] bases nem vestígios de organizações bombistas». Ou quando, com uma arrogância impressionante, não esconde o que julga ser a sua superioridade intelectual (e moral) face a quem não pensa como ele. Um verdadeiro "case study".
29 de setembro de 2003
Maria Teresa Nogueira escreveu, no "Público" de hoje, um texto em nome da Secção Portuguesa da Amnistia Internacional que, entre outras coisas, diz o seguinte: «as verdadeiras causas da insegurança» são «a injustiça», «a fome», «o medo», «o desespero» e os «países poderosos». Reparem bem: nem uma palavra sobre o fundamentalismo, nomeadamente o fundamentalismo islâmico, que não hesita em matar em nome de deus. Para esta gente, as desgraças dos países pobres nunca se devem aos seus regimes ditatoriais, à corrupção ou à má administração. Não. A culpa é sempre dos países ricos. E porquê? Por isso mesmo: porque são ricos e porque sim.
O Muito Mentiroso parece ter acabado. É uma decisão que se aplaude, embora isso não signifique que outros blogues do género — ou mesmo piores — não possam surgir de um momento para o outro. Só há uma coisa que não percebo: porque é que o "Público" decidiu usar o endereço agora vago como se de coisa sua se tratasse?
Eduardo Cintra Torres completou, hoje, a trilogia das notícias televisivas com o noticiário que faltava: o "Jornal da Noite", da SIC. É favor juntar aos outros dois ("Jornal Nacional", da TVI, e "Telejornal", da RTP), emoldurar e afixar nas redacções.
26 de setembro de 2003
Não vejo a RTP Internacional com grande frequência, muito menos durante várias horas seguidas, mas não há semana em que não veja o secretário de Estado das Comunidades no pequeno ecrã. Ele é por causa do problema "A", do debate sobre a questão "B", da visita à comunidade "C". Um caso sério de ubiquidade.
Há livros que se lêem, outros que se saboreiam. Devagar, para que o encanto perdure. Tal como um Porto a sério deve ser degustado devagar, porque um Porto a sério merece disponibilidade, tempo. «Educação Sentimental» é um livro assim. Aliás, todo o Flaubert é para ler devagar, saborear. Outro livro assim é «Ulisses», de Joyce, de que só li as primeiras cem páginas e ao qual volto sempre para ler... a partir do início. Ou «Os Passos em Volta», de Herberto Hélder, que já li uma mão cheia de vezes. Ou Eça, ou Alexandre O'Neill, ou Cardoso Pires, ou...
25 de setembro de 2003
Com mais um rol de proibições, a Igreja Católica fez questão de nos lembrar que é uma instituição profundamente retrógrada. Pior: é uma instituição autista, cada vez mais fundamentalista (sim, eu disse fundamentalista) e cada vez mais longe dos católicos. Tudo isto não me devia incomadar. Afinal, sou ateu. Mas tudo isto me parece demasiado perturbante.
O alvo principal do terrorismo é «uma maneira de viver», um «determinado tipo de sociedade civil» e «os fundamentos e valores da nossa civilização», diz Pacheco Pereira na sua crónica de hoje. Tão simples e evidente que só não vê quem não quer.
24 de setembro de 2003
Independentemente de se tratar de uma situação prevista na lei, o caso Maria Elisa é uma vergonha. Uma vergonha que se estende a quem a defende, entre eles o dirigente António Costa, que acha que Maria Elisa foi «vítima da inveja nacional e da mediocridade dos seus colegas da RTP», pois há casos «bastante mais escandalosos para a dignidade da função parlamentar». E que casos são esses? Infelizmente não esclareceu, e até deixou a ideia de que não está interessado em mexer em tão malcheirosa matéria. Ora, o caso Maria Elisa é demasiado simples para que com ele se façam floreados, sejam eles bem ou mal bem-intencionados. Em primeiro lugar, Maria Elisa quis acumular os cargos (e vencimentos) de deputada e jornalista, e qualquer cego vê que os dois cargos são incompatíveis quando exercidos em simultâneo. Depois, tentou o expediente da baixa para fazer uns biscates na RTP, mas a estratégia parece não ter resultado. Por último, prepara-se para gozar as delícias de um «exílio» numa capital europeia. Convenhamos que é muita coisa junta, e que este tipo de comportamentos se presta a toda a espécie de críticas. Certamente que algumas virão de invejosos, medíocres ou mal-intencionados. Mas as coisas são o que são.
23 de setembro de 2003
Sempre que as autoridades anunciam uma apreensão recorde de haxixe — como parece ter sido o caso na semana passada, com a apreensão de não sei quantas toneladas — vem-me à memória Maria Filomena Mónica, que diz estar convencida de que terá sido Eça de Queirós quem introduziu o haxixe em Portugal, pelo menos nos meios intelectuais. Não sei se assim foi ou não foi. Do que me parece não haver dúvida é de que Eça tomou contacto com o haxixe durante uma viagem ao Egipto, como relata a seguinte passagem de «O Egipto — Notas de Viagem»:
Fomos apenas uma vez ao bazar das drogas: procurávamos hachisch.
— Hachisch?, — disse-nos Jonas Alli, — mas é proibido!
— Mas deve-o haver... sobretudo sendo proibido!
— Em primeiro lugar — respondeu ele gravemente — há três qualidades de hachisch: há hachisch em pastilhas...
— Pois venham as pastilhas!
— Há hachisch em bolo...
— Pois venham os bolos!
— Há hachisch em geleia...
— Então, venha a geleia!
Jonas Alli encolheu os ombros — e o olhar que nos lançou era cheio de um infinito desdém...
Fomos apenas uma vez ao bazar das drogas: procurávamos hachisch.
— Hachisch?, — disse-nos Jonas Alli, — mas é proibido!
— Mas deve-o haver... sobretudo sendo proibido!
— Em primeiro lugar — respondeu ele gravemente — há três qualidades de hachisch: há hachisch em pastilhas...
— Pois venham as pastilhas!
— Há hachisch em bolo...
— Pois venham os bolos!
— Há hachisch em geleia...
— Então, venha a geleia!
Jonas Alli encolheu os ombros — e o olhar que nos lançou era cheio de um infinito desdém...
22 de setembro de 2003
Face à famosa baixa por «razões de saúde», Maria Elisa acha que as críticas de que tem sido alvo se devem ao facto de ela ser mulher e de ter alguma notoriedade. O resto não passa de confusão que «certos órgãos de comunicação social têm estabelecido», já que a figura jurídica da suspensão do mandato de deputada existe na Assembleia da República há mais de 25 anos. Seguramente que há ocasiões em que mais vale estar calado — e Maria Elisa perdeu uma boa ocasião para estar calada. Porque os argumentos que apresenta em sua defesa são tecnicamente pouco fundamentados e moralmente insustentáveis.
Embora me pareça exagerado o ataque a Manuel Alegre, concordo com Helena Matos quando ela diz que «durante a ditadura, a censura e a própria repressão policial permitiram a muitos iludirem a sua mediocridade imaginando sucessos e reconhecimento público que efectivamente não mereciam». Por isso, acrescenta, «quando chegou a democracia e já não tinham o censor a dar-lhes importância nem a polícia a impedir-lhes as actividades e ficaram sós perante o público, o povo e, sobretudo, perante si mesmos, começaram por amaldiçoar o mercado, a competitividade e a concorrência.» Foi exactamente por esta razão que, há três anos atrás, deixei de ler o "Jornal de Letras", para quem um escritor (cineasta, pintor, actor, etc.) com passado anti-fascista é bom e quem o não tem não interessa.
Mesmo recusando-se a divulgar o endereço, Pacheco Pereira já fez mais publicidade ao Muito Mentiroso que os que acham que não vale a pena esconder. Não são os americanos que dizem que a má publicidade também é publicidade?
Depois do "Jornal Nacional", da TVI, chegou a vez do "Telejornal", da RTP. Eduardo Cintra Torres fez hoje, no "Público", uma radiografia do principal jornal da televisão pública. Ligeiramente melhor que o "Jornal Nacional", apesar de tudo. Mas não muito.
O famoso «roteiro para a paz» mereceu de Vital Moreira mais um exercício de anti-americanismo primário e de ódio aos judeus. Como me fez chegar a mostarda ao nariz, a última crónica na minha página pessoal é sobre o assunto.
19 de setembro de 2003
«Padre Júlio era um padre especial, diga-se desde já. Vociferava contra os ricos e transformava cada homilia num inferno de caldeirões e almas a arder. Pregava contra os pecados da carne e do dinheiro, mas almoçava sempre em casa de boa mesa. Era visto de mãos dadas com senhoras devotas. Dizia mal da política e dos políticos, mas era membro do partido único, a União Nacional. Parecia um revolucionário, mas fazia frequentemente o elogio de Mussolini. Era um padre original. Quando Xavier lhe confessou as dúvidas sobre a existência de Deus, ele respondeu-lhe: E quem as não tem?» Eis um cheirinho de «A Terceira Rosa», de Manuel Alegre, o último título distribuído com o "Público". Trata-se de um livro que se lê com gosto, e como quem lê um blogue. E nada de preconceitos: eu não comungo das ideias de Manuel Alegre, embora concorde com ele em variadíssimos assuntos e o reconheça como um homem que pensa pela sua própria cabeça. Mas isso não me impede de recomendar o livro na mesma.
Afinal, o jornalista da BBC que acusou o Governo britânico de ter «apimentado» o dossier sobre o arsenal iraquiano não disse toda a verdade. Pior: manipulou os factos e interpretou de forma abusiva declarações do cientista David Kelly. Mais um exemplo de «comportamento exemplar» da BBC na questão do Iraque.
Miguel Sousa Tavares não se conforma que o presidente Bush continue «à frente das sondagens para a reeleição, apesar do Iraque, apesar do déficit descontrolado em que transformou a situação financeira excedentária que herdou de Clinton, apesar do desemprego que passou para o dobro, apesar da recessão que continua, contra todas as suas promessas, apesar de nem sequer ter conseguido ao menos deitar ainda a mão a Bin Laden e a Saddam, apesar de, contra a palavra dada, ter deixado mãos livres ao governo extremista de Israel para sabotar livremente qualquer hipótese de paz na Palestina.» E tudo isso se deve a uma razão simples, e que não se cansa de repetir: os americanos são uma cambada de burros. Tal e qual, embora lhe faltasse coragem para ser tão frontal.
18 de setembro de 2003
Hoje, durante o almoço, assisti a uma discussão sobre a intervenção americana no Iraque. Foi numa mesa ao lado da minha e teve por intervenientes quatro mulheres. Não querendo ser machista, já não me lembrava que ouvisse uma conversa interessante entre mulheres. Não, não é uma provocação. É uma constatação. Além disso, porque haveríamos nós, homens, de furtarmo-nos de falar mal das mulheres, se as mulheres passam a vida a falar mal dos homens?
O "Jornal de Notícias" fez manchete com o Encontro de Weblogs... mas o conteúdo é de uma pobreza franciscana. O "Telejornal" fez um directo a partir do local... mas aquilo estava às moscas. Moral da história: muita parra... pouca uva.
17 de setembro de 2003
Só agora dei conta que Eduardo Prado Coelho escreveu uma crónica «erudita», daquelas que exige «preparação específica» para entender. Tudo porque necessitou de fazer referência a dois livros, mais exactamente a «um prodígio de erudição e virtuosismo argumentativo» e a «um texto agitado e desconcertante». Obviamente dois livros que muito poucos estarão à altura de ler, muito menos avaliar. Ora, assim sendo, isto coloca uma pequena dúvida: se a ideia é desaconselhar a leitura dos tais livros, porquê tanto latim para os divulgar?
Depois da estória do ecrã, que tapa a visibilidade a não sei quantos lugares e deu origem a um episódio inacreditável, o novíssimo Alvalade XXI tem um problema com a relva. «A solução poderá passar por uma substituição integral do solo e da relva do estádio», diz um especialista citado pela Lusa. Que se saiba, este é o terceiro erro grave detectado nos novíssimos estádios — e ainda a procissão vai no adro. Quantos mais erros estarão para vir e que consequências terão? Naturalmente que só o futuro dirá. Mas eu temo o pior.
16 de setembro de 2003
Hoje resolvi dividir em duas a minha lista de blogues a visitar — a principal, a visitar diariamente, e a secundária, a visitar com menos regularidade. A razão é só uma: são cada vez mais os blogues que merecem visita e cada vez menos o tempo para os visitar. Dos nomes que integram a primeira ou compõem a segunda, não vale a pena falar. Dir-vos-ei apenas que o Leopardos das Estepes, que acabei de conhecer, faz parte da primeira.
Tudo corria normal na barbearia. Discutia-se bola, nomeadamente a última performance do Benfica. Até que, de repente, a televisão anuncia: o casório de Jennifer Lopez foi por água abaixo. Toda a gente fica muda e queda. Os barbeiros perigosamente de navalha suspensa, os clientes de boca escancarada. Sim, que isto de assuntos de cama não é caso para menos.
15 de setembro de 2003
A GNR de Reguengos diz ter identificado «todos os elementos da Comissão de Festas e o autor material da morte ilegal de um touro» em Monsaraz, no último sábado, e o caso terá já seguido para tribunal. Se o costume se mantiver, os arguidos que chegarem a julgamento serão... absolvidos. Assim se cumprirão duas portuguesíssimas tradições: a tradição de matar o touro e a tradição de não cumprir a lei sem que nada aconteça.
O Muito Mentiroso, outra vez. Depois de ter lido quilómetros de prosa que por lá se publicou, não há dúvida de que a questão da pedofilia dá que pensar. É possível que tudo o que lá se diz não passe de um ajuste de contas, de uma tentativa para ilibar uns e incriminar outros, de mais uma manobra para descredibilizar a justiça. É possível. Mas que lá se levantam questões pertinentes, lá isso levantam. Além de demonstrarem que estão bem informados, demasiado bem informados. Eu sou avesso a teorias da conspiração e concordo que o expediente encontrado pelos autores é pouco recomendável, mas não há dúvida de que a estória da pedofilia à portuguesa está muito mal contada.
12 de setembro de 2003
O Pedro Mexia resolveu mandar um murro na mesa. Porque a «intensidade e frequência das discussões» lhe está a causar demasiado «stress»; porque as trocas de mimos lhe desagradam; porque erradamente o acusam de ser de extrema-direita. E ameaça abandonar as lides (ou é só para provocar «uma vaga de fundo»?). Na minha modesta opinião, o problema do Pedro é levar demasiado a sério aquilo que faz e ferver em pouca água. Tal como, aliás, João Pereira Coutinho, quando decidiu desligar-se da Coluna Infame. Nada que um pouco mais de «fair-play» e poder de encaixe não resolva.
Ontem assisti a uma cena inacreditável. Uma repórter da RTP, em directo para o «Regiões», fazia os possíveis e os impossíveis para ouvir as partes em conflito não me lembro porquê nem onde, mas que ameaçavam terminar à bordoada. Na ânsia de fazer aquilo que julgou ser o seu trabalho, a repórter procurou ouvir as diferentes posições e, quiçá, demonstrar quem tinha razão e porquê. Só que, como seria previsível, o exercício prestou-se a exaltar ainda mais os ânimos, e a coisa podia ter acabado mal. Felizmente assim não aconteceu (pelo menos à frente das câmaras), e a única vítima foi... o jornalismo. Sim, porque aquilo foi uma exploração pura da gritaria, interessante para as audiências mas de nulidade informativa.
A decisão do Conselho Superior da Magistratura de manter o juiz Rui Teixeira à frente do processo Casa Pia merece aplauso. Mais: foi, a meu ver, a única decisão sensata a tomar. Porque o afastamento de Rui Teixeira do processo de pedofilia, com o argumento de que vai assumir novas funções no Tribunal de Torres Vedras, não deixaria de ser entendido como uma cedência às pressões de quem tudo tem feito para o afastar do caso.
11 de setembro de 2003
O Alberto Gonçalves excedeu-se nos comentários lisonjeiros à minha pessoa. Confesso que a minha ideia, quando disse (e mantenho) que ele é um dos melhores cronistas portugueses, era exactamente essa: que ele fizesse um «post» a falar bem de mim. Só que, em vez de um «post», saiu um claro exagero, e o resultado foi a subida em flecha dos acessos à minha página (já pareço o eurodeputado Pacheco Pereira a contabilizar os «pageviews»). Quanto ao top dos cronistas portugueses, que em tempos publiquei na minha página pessoal e me causou alguns dissabores, resolvi acabar com ele porque o tempo se encarregou de o desactualizar. Mas já estou a pensar retomar a ideia, embora me falte o Vasco Pulido Valente (por onde tem ele andado?) para o encabeçar.
O internacional brasileiro Ronaldo teve o desplante de dizer que os actuais adversários do Brasil são mais fortes que no tempo de Pelé. A afirmação veio a seguir à magra vitória da selecção brasileira sobre o «modesto» Equador, em Manaus, que valeu aos jogadores brasileiros algumas vaias dos seus próprios adeptos. O jogador do Real limitou-se a chamar a atenção para o óbvio: já não existem as «selecções regionais» contra as quais o Brasil ganhava 10-0 «e Pelé marcava oito golos». Mas as declarações do artista da bola não caíram bem: «Ronaldo sabe o que o separa de Pelé: um ano-luz. Pelé é Deus, é o rei», disse um conhecido jogador brasileiro. Pois é. Ronaldo ainda não percebeu que os mitos são intocáveis.
Hoje é dia de lágrimas, verdadeiras e de crocodilo. Provavelmente mais lágrimas de crocodilo de que lágrimas verdadeiras. Para não correr o risco de me chatear, resolvi não ler o que diz a imprensa sobre o 11 de Setembro, não ouvir rádio, não ver televisão. Não, não fui vítima do 11 de Setembro, pelo menos de forma directa, mas estava demasiado perto para deixar de ver e sentir. De modo que não me apetece assistir a comentários e lágrimas de ocasião, mesmo aos comentários mais lúcidos e às lágrimas mais verdadeiras.
10 de setembro de 2003
É possível que seja um erro de interpretação, mas eu continuo a achar que Alberto Gonçalves confundiu (propositadamente?) o homem (Luís Sepúlveda) com a obra. Mas não vale a pena bater mais no ceguinho. E não vai ser por essa razão que eu deixarei de continuar a ler as crónicas do Homem a Dias no "Correio da Manhã", das melhores da nossa imprensa.
O jornalista Ribeiro Cristóvão, que se prepara para substituir, no Parlamento, a deputada Maria Elisa, afirmou ao "Diário de Notícias" que não tem qualquer ideia do que o espera. A revelação não é um primor de inteligência, mas não há nada como ser claro.
9 de setembro de 2003
Segundo o "Diário de Notícias", Vasco Lourenço reclama o estatuto de deficiente das Forças Armadas por ter sido vítima, em 1964, de uma lesão durante um jogo de futebol. Mas há um pequeno problema: os médicos não parecem pelos ajustes. Mais uma edificante novela a seguir com atenção.
Alguém consegue explicar porque razão se põe música em piscinas, parques fluviais e demais estâncias públicas de lazer? Será que não ocorre aos responsáveis por estes espaços que os mesmos se destinam ao descanso? Será que não entendem que a música, por melhor que ela seja (e geralmente é má), não consegue agradar a todos? Será que ninguém reclama?
8 de setembro de 2003
O Homem a Dias não gostou do que Luís Sepúlveda terá dito à Visão. Está no seu direito. O que já não me parece correcto é misturar o homem com a obra, que dá ideia de não ter lido. Eu li todos os livros de Sepúlveda publicados em português e, de um modo geral, gostei. Já quanto à entrevista à Visão, o que vi citado por aí (não li a entrevista) não gostei. Mas não misturo uma coisa com a outra.
A ser verdade o que vem no Expresso — e não há razão para duvidar que não seja verdade —, o comportamento do maestro Miguel Graça Moura à frente da Associação Música-Educação e Cultura ultrapassa a imaginação. Ele são viagens, ele é roupa, ele são botões de punho, ele são artigos para o lar, ele são vinhos, ele são jarras, ele são hotéis, ele são centenas de contos mensais em água, luz e telefone, ele são milhares de contos de despesas pessoais. Enfim, despesas que Graça Moura ainda tem o descaramento de dizer que foram realizadas no desempenho das suas funções.
6 de setembro de 2003
A última crónica de Eduardo Cintra Torres, no "Público" de segunda-feira, merecia um caixilho e ser afixada na redacção da TVI. E não só na redacção da TVI, que não destoaria nas redacções das demais televisões. É tanta a mentira, incompetência, manipulação, falta de rigor, incerteza dos «factos» relatados e ignorância que chega a suspeitar-se que houve exagero. Só que não houve exagero. Em boa verdade, a constatação do crítico do "Público" nem sequer foi uma surpresa, embora o retrato dê que pensar. Sobretudo porque, em maior ou menor grau, aquilo que ele denuncia é o que se pratica um pouco por todo o lado, inclusive na imprensa de referência. E não só em Portugal, como se imagina. A ligeireza e a falta de rigor com que se tratam as notícias hoje em dia são um mal geral. Porque a informação se tornou um grande negócio e está nas mãos de grandes empresas, tantas vezes estranhas ao mundo da média e que não têm quaisquer problemas em aniquilar o que custou anos de dedicação e esforços. Além de não hesitarem em usar a média, às vezes de forma obscena, para fins estranhos à sua natureza. Não será por acaso que três quartos dos ingleses não acreditam na imprensa escrita do seu país, segundo a revista "Spectator". Não será por acaso que 60 por cento dos franceses acha que os jornalistas não são independentes, segundo um relatório do Banco Mundial. Não será por acaso que a circulação da imprensa nos Estados Unidos na última década tem vindo a cair à razão de quase um por cento ao ano. Pois é. Estas coisas pagam-se. Pior: a credibilidade e o prestígio, uma vez perdidos, raramente se recuperam.
5 de setembro de 2003
Pedro Mexia resolveu explicar porque é que acha que não deve fazer um "link" para o Muito Mentiroso. A explicação não me convence, mas respeito o ponto de vista. Acontece que eu resolvi divulgar o famoso "link" por uma razão simples: a não divulgação acaba por ser a melhor divulgação. Não foi para chamar hipócrita a ninguém (eu falei de pudor, não de hipocrisia), muito menos ao Pedro Mexia, por quem tenho admiração e estima.
Sejamos claros: independentemente do que a Justiça decidir, Carlos Cruz, Hugo Marçal, Ferreira Diniz, Jorge Ritto, Manuel Abrantes e Paulo Pedroso são culpados. Estou a falar aos olhos da chamada opinião pública, e não será a decisão da Justiça que mudará esse veredicto. Se a Justiça vier a demonstrar que se enganou em relação a "A" ou a "B", não deixará o gesto de ser lido como uma cedência a "A" ou a "B". Pois é. Contrariamente ao que deveria ser, os suspeitos são culpados até prova em contrário. O povo é assim. E, como dizia o outro, não se pode mudar de povo. Embora se pudesse mudar o que pôs o povo a pensar assim.
Miguel Sousa Tavares não se cansa de sacudir o rótulo de anti-americano. Desta vez foi no "Público", e mereceu uma crónica que acabei de colocar na minha página pessoal.
4 de setembro de 2003
Não consigo perceber porquê tanto pudor em divulgar o endereço do blogue de que toda a gente fala (mal). Será que não percebem que a não divulgação acaba por ser a melhor divulgação? Eu, por exemplo, fui logo à procura mal soube. Caso não houvesse tanto pudor em revelar o endereço, duvido que lá tivesse ido. Escusam de andar para aí a esgaravatar os que não sabem e querem saber. O endereço é este. Quanto ao conteúdo, que cada um ajuíze por si.
O eurodeputado Pacheco Pereira voltou à questão do Iraque. Para lembrar que «se hoje houvesse uma guerra civil no Iraque, ela seria curta, violentíssima, e terminaria pela retomada do poder pelo partido Baas e pelos seguidores de Saddam Hussein, seguida por mais um banho de sangue sobre os xiitas.» Parece evidente, não é? De modo que eu desconfio que os que insistem em pedir a saída imediata das tropas americanas do Iraque pretendem, no fundo, isso mesmo: o regresso do outro senhor.
3 de setembro de 2003
Como seria de esperar, Fernando Rosas não consegue esconder o gozo que lhe dá saber que está a decorrer uma «intifada» no Iraque. Ou «uma onda quase unânime de protesto e resistência nacional», como ele também lhe chama, claro está que protagonizada pelo «povo» e movido por «sentimentos de patriotismo». O senhor Rosas, que nunca abriu a boca para condenar os massacres que Saddam e seus acólitos fizeram durante o tempo todo que estiveram no poder, aparece agora a dizer-se preocupado com o «povo» iraquiano, como se o povo iraquiano alguma vez lhe tivesse interessado.
2 de setembro de 2003
Os advogados de seis dos sete arguidos no processo Casa Pia não se cansam de dizer, ao pedirem o afastamento do juiz, que não está em causa a «boa fé», a «competência» e a «honorabilidade» de Rui Teixeira. Mas, depois, acusam-no de «parcialidade», de «estabelecer prazos inferiores ao mínimo legal», de «antecipação injustificada do reexame da prisão preventiva», de «mudança injustificada de orientação», de ter «dois pesos e duas medidas». Ora, a serem verdadeiras estas acusações, Rui Teixeira ou está de má fé, ou é incompetente, ou não é um homem honrado. Ou tudo isso junto. O que significa precisamente o contrário do que os advogados andam para aí a pregar.
A crónica de Medeiros Ferreira, no "Diário de Notícias" de hoje, é sobre blogues. Não percebi se falou bem ou mal, mas pareceu-me que falou mal. Não, não me apetece nada voltar a ler e tirar isso a limpo. Além disso, cansei-me de teorias sobre blogues. Ainda em matéria de crónicas, subscrevo, na íntegra, o que diz João Miguel Tavares, também no "Diário de Notícias" de hoje. E a crónica de Eduardo Cintra Torres, no "Público" de segunda-feira, que devia ser emoldurada e afixada na redacção da TVI. Mas não ficava nada mal em muitas outras redacções, não senhor.
1 de setembro de 2003
Como vem sendo hábito, a viagem a Portugal correu mal. Na ida, o «check-in» demorou uma eternidade. A catraia que me calhou estava a «estagiar», de modo que eu tive que fazer de cobaia. Depois, o alarme do aeroporto resolveu disparar sem razão aparente, e lá tive eu que gramar um barulho infernal durante largos minutos. No avião, uma criança num berreiro desalmado inviabilizou por completo os planos que eu tinha para ler uns textos e deixou-me à beira de um ataque de nervos. O regresso não foi melhor. Após quarenta minutos de voo, o comandante anuncia que há um «problema técnico» e que vamos regressar a Lisboa. Uma vez lá e fora do avião, somos informados de que o nosso destino será conhecido dali a duas horas. Esperámos. Dali a duas horas, novidades... só dali a duas horas. E, depois, mais duas e mais duas. Embarcámos oito horas depois, mais mortos que vivos e a maldizer tudo o que mexia.
Três Pedro Juan Gutiérrez ("Animal Tropical", "Trilogia Suja de Havana" e "O Rei de Havana"), um Graham Greene ("O Nó do Problema"), um Lobo Antunes ("Algumas Crónicas") e um Vasco Pulido Valente ("Retratos e Auto-Retratos"). Eis o saldo de três semanas de férias, em que praticamente não li jornais, não ouvi rádio, não vi televisão. A descoberta dos "Retratos" foi uma bela surpresa, apesar de já conhecer alguns textos. Tirando as leituras, as férias tiveram um pouco de tudo: comida boa, bebida em excesso, muito descanso. O pior é recomeçar tudo de novo, pois o corpo habituou-se à moleza e a mente demora a regressar ao «normal».
Subscrever:
Mensagens (Atom)